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O Censor Maranhense

25 maio 2018

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags Conservadorismo, Crítica política, Dom Pedro I, Imprensa Áulica, Maranhão, Portugueses no Brasil, Primeiro Reinado

Nascido intitulado apenas O Censor, o periódico posteriormente conhecido como O Censor Maranhense veio a lume por iniciativa de seu redator, João Antônio Garcia de Abranches, a 24 de janeiro de 1825, em São Luís (MA), durante o Primeiro Reinado, portanto. Dado o ativismo político pela causa liberal, insuflado pela chamada Revolta Liberal do Porto, ocorrida em Portugal em 1820, e os desdobramentos político-econômicos da Independência, a situação dos portugueses residentes no Brasil, à época, assumia características distintas do período colonial. A observação aos princípios constitucionais e a rejeição ao absolutismo tinham grande expressão, sobretudo entre grupos liberais mais radicais, chamados de “exaltados”, gerando a reação de setores mais conservadores, que defendiam, contrariamente, os interesses da colônia portuguesa no Brasil, sobretudo no Maranhão, onde comerciantes e funcionários públicos lusitanos provinciais tinham fortes laços com a metrópole desde os tempos coloniais, algo que dificultou mesmo a adesão maranhense à Independência. O Censor Maranhense, afinal, foi uma das folhas de defesa dos portugueses e do governo provincial de Manoel da Costa Pinto, precedendo outro jornal que seguia linha muito próxima: A Bandurra, lançado somente em 1828, também em São Luís. Depois de muito polemizar com Argos da Lei, periódico editado na província por Odorico Mendes somente durante 1825, o jornal de Garcia de Abranches se manteve até o fim do primeiro reinado, findando circulação em maio de 1830.

Entre 1821 e 1831, circularam em São Luís cerca de 13 periódicos de matizes políticas distintas, propensos ao debate à medida em que serviam aos interesses de grupos políticos locais. Tais entraves políticos, que tomaram corpo em 1825 justamente com a polêmica entre O Censor Maranhense e O Argos da Lei, afinal, davam-se na imprensa a partir de diferentes interpretações que as elites políticas e intelectuais faziam do liberalismo, sempre adaptado de acordo com seus interesses de classe ou grupo social. Alguns dos principais interlocutores desses debates foram, além d’A Bandurra e d’O Censor Maranhense, Farol Maranhense, Minerva, A Cigarra, O Amigo do Homem e A Estrela do Norte do Brasil: folhas que debatiam temas ligados à Independência e à monarquia constitucional, bem como aos direitos políticos dos cidadãos. Por parte dos periódicos mais explicitamente liberais havia grande crítica aos abusos de autoridades, apontadas como déspotas, em acusações que normalmente recaíam sobre funcionários públicos da alta burocracia, em sua maioria portugueses. Estes eram acusados de conspirar para o retorno do Maranhão ao sistema colonial, trabalhando, portanto, contra os interesses imperiais brasileiros, algo que aumentava o antilusitanismo entre os maranhenses. Nas palavras de Elisabeth Sousa Abrantes, no artigo "José Cândido de Moraes e Silva – o 'Farol' – atuação política nos debates e lutas do pós-Independência no Maranhão (1828-1831)",
Os periódicos redigidos por portugueses se tornavam alvos fáceis de críticas e suspeitas quanto às suas verdadeiras intenções, sendo acusados frequentemente de absolutistas e defensores dos interesses lusos, como era o caso de “A Bandurra” e “O Censor Maranhense”. As críticas também recaíam sobre jornais que se tornavam instrumentos de defesa de autoridades provinciais consideradas arbitrárias, como foram os casos de “A Bandurra” e “Minerva”, duramente criticados por defenderem a administração do Presidente da Província Manoel da Costa Pinto (02/1828 a 01/1829) e fazerem apologias ao ex-presidente Pedro Jozé da Costa Barros (09/1825 a 03/1827). (p. 4)

Ao longo de seus cerca de cinco anos de circulação, O Censor Maranhense lançou somente 24 edições, todas tiradas na Typographia Mellandiana, de D. G. de Mello. A periodicidade entre a data de publicação de cada número era muito irregular: se as edições de números 1 a 8 e de números 9 a 16 vieram a lume, respectivamente, em 1825 e 1826, o nº 18 foi o único lançado em 1827, assim como o nº 19 o único de 1828. Em 1829 circularam os números de 21 a 23, até que, por fim, o nº 24 saiu em 1830.

Fontes:

- Acervo: edições do nº 1, de 24 de janeiro de 1825, ao nº 24, de maio de 1830.
- ABRANTES, Elizabeth Sousa. José Cândido de Moraes e Silva – o “Farol” – atuação política nos debates e lutas do pós-Independência no Maranhão (1828-1831). Trabalho apresentado ao IV Simpósio Nacional Estado e Poder – Universidade Estadual do Maranhão São Luís, 8 a 11 de outubro de 2007. Disponível em: http://www.outrostempos.uema.br/curso/estado_poder/39.pdf. Acesso em: 25 abr. 2016.
- MADUREIRA, Vicente Antônio. José Cândido de Moraes e Silva. Revista Outros Tempos volume 6, número 8, dezembro de 2009 - Dossiê Escravidão. Disponível em: http://www.outrostempos.uema.br/vol.6.8.pdf/Vicente%20Madureira.pdf. Acesso em: 25 abr. 2016.
- MOLINA, Matías M. História dos jornais no Brasil: da era colonial à Regência (1500 – 1840) v. 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.