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O Moderador – Novo Correio do Brasil, jornal político, commercial e litterario

13 nov 2017

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e marcado com as tags Comércio, Conservadorismo, Crítica política, Dom Pedro I, Franceses no Brasil, Imigração, Imprensa Áulica, Imprensa imigrante, Literatura, Moda, Primeiro Reinado, Rio de Janeiro

Lançado em 5 de abril de 1830 no Rio de Janeiro (RJ), quando a Corte do Império brasileiro vivia os últimos respiros do Primeiro Reinado, O Moderador foi um dos jornais áulicos da imprensa daquele momento. Criado já em momento em que a popularidade de Dom Pedro I naufragava, em crise que geraria sua abdicação em 7 de abril de 1831, sua extinção se deu, provavelmente, após a veiculação de seu nº 88, de 2 de abril de 1831, poucos dias antes do fim do Primeiro Reinado. Seu redator e diretor foi, aparentemente, o livreiro e impressor francês René Ogier, que permanecia anônimo nas edições do periódico, embora seu endereço fosse publicado, para envio de correspondências: o nº 29 da Rua do Espírito Santo. Ogier – provavelmente o melhor tipógrafo do país naquele momento, segundo Rubens Borba de Moraes, em “O bibliófilo aprendiz” (p. 192) –, havia editado o Courrier Du Brésil – Feuille politique, commerciale et littéraire, lançado no Rio de Janeiro entre março e abril de 1828 e extinto provavelmente logo antes do lançamento de O Moderador, experiência que, ao que tudo indica, deu origem ao último jornal; conforme indicado em seu próprio, subtítulo, este seria o “Novo Correio do Brasil”. Cabe ressaltar que o Courrier começou a circular quando a tipografia de René Ogier era localizada no nº 63 da Rua da Quitanda, mudando-se depois para o nº 142 da Rua da Cadeia, endereço de onde O Moderador era expedido.

Como toda folha áulica da época, O Moderador era basicamente um órgão de defesa de Dom Pedro I e do governo em geral, embora parte de suas edições fosse dedicada à literatura e a assuntos de interesse comercial. A existência de periódicos desse matiz era vista pela coroa como necessária, sobretudo após a instalação da Assembleia Geral, do Senado e da Câmara, a 6 de maio de 1826, que possibilitou o crescimento de uma imprensa liberal de oposição – moderada ou “exaltada”, conforme eram chamados os mais revolucionários desse grupo –, extremamente crítica ao absolutismo em vigor. Com o governo submergindo em uma crise que culminaria na abdicação do imperador, tanto D. Pedro quanto figuras ligadas ao poder investiram no lançamento de uma imprensa servil, oficiosa, para defender suas posições. Nelson Werneck Sodré, em “História da imprensa no Brasil”, destaca outras folhas semelhantes:

Na direita conservadora alinham-se os órgãos da imprensa áulica, agora conhecida como absolutista, tendo à frente, na Corte, o Diário Fluminense e contando com o Jornal do Comércio e com O Analista como acompanhantes principais. Não faltava a essa corrente, assim, o concurso de jornalistas estrangeiros, nem de jornais estrangeiros aqui publicados: o Courrier Du Brésil, por exemplo, francamente empenhado na política interna do país. (p. 110/111)


Como bem se pode concluir, o último jornal citado por Werneck Sodré era a folha de R. Ogier que dera origem a’O Moderador. Em seguida, o autor destaca novos detalhes à imprensa áulica do Primeiro Reinado, com destaque à participação textual do próprio monarca na mesma. Valendo-se de uma citação do Diário Fluminense contra os órgãos liberais, datada de 12 de março de 1829, Werneck Sodré expõe que

Nas ásperas polêmicas do tempo, participou pessoalmente D. Pedro. Não se limitou a estimular os seus escribas. Tomou da pena ele mesmo, muitas vezes, e extravasou os seus impulsos. Já ao tempo da Estrela, assim procedia. Continuou assim com a Gazeta do Brasil. Mas foi no Diário Fluminense que mais frequentemente se manifestou. Assim, ora agia no terreno legal, promovendo denúncias por crimes de imprensa cometidos pelos que o combatiam – João Clemente Vieira Souto, redator da Astréia, foi algumas vezes submetido a processo – como brandia a mesma arma de seus adversários e utilizava a mesma linguagem, quando não a excedia. Para a imprensa áulica, a de oposição estava “preparando a revolução, fomentando a anarquia”. O Diário Fluminense prevenia os leitores: “Temos razões bem fortes para clamar aos nossos concidadãos que se ponham em guarda contra as sugestões desses gritadores Universais, Astros de pestífera influência, Faróis que só conduzem a estuosos cachopos, Astréias sem justiça, sem pejo e sem tino, e outros cometas de mau agouro”. Mas novos jornais apareciam, e aumentava a circulação dos antigos. A vida política quase se resumia na imprensa. O Imparcial e o Moderador vinham juntar-se aos que defendiam o governo. (p. 111)


Impresso de início na tipografia de René Ogier, O Moderador era vendido no próprio estabelecimento e nas lojas de Souza Laemmert, no nº 88 da Rua dos Latoeiros; de Silvino José d’Almeida, no nº 51 da Praça da Constituição; e de Cremiére, no nº 85 da Rua dos Ourives. Até sua 24ª edição, de 1º de agosto de 1830, O Moderador vinha a lume semanalmente, em edições bilíngues, metade em português, metade em francês: esse era seu diferencial, em relação ao restante da imprensa da época. A partir da edição seguinte, o nº 25, de 14 de agosto daquele ano, sua impressão passou a ser feita “na Typographia do Moderador”, baseada na própria casa do redator, na Rua do Espírito Santo – embora saiba-se que, na época, René Ogier continuasse com sua livraria e tipografia na Rua da Cadeia. Com a mudança, todavia, a periodicidade do jornal passou a ser bissemanal, publicando-se às quartas-feiras e aos sábados – adicionalmente, na ocasião, os textos em francês deixaram de ser publicados. A partir desse nº 25, a parte do subtítulo d'O Moderador que o identificava como o “Novo Correio do Brasil” foi suprimida, figurando apenas como “Jornal político, commercial e litterario”. No entanto, o periódico passou a vir com uma epígrafe: “Paz e liberdade – Justiça e força”. Outra mudança identificada a partir do nº 25 d’O Moderador foi que o mesmo passou a ser vendido também na sua sede “e na Botica do Largo das Laranjeiras” – com as demais livrarias ainda comercializando seus exemplares.

Curiosamente, a partir de seu nº 44, de 16 de outubro de 1830, as edições do jornal de René Ogier passaram a ser impressas pela tipografia de P. Gueffier & Cia., no nº 79 da Rua da Quitanda. Os últimos impressores lançaram O Moderador até a extinção do periódico, no ano seguinte. Por todo esse período Ogier manteve seu estabelecimento no nº 142 da Rua da Cadeia, aparentemente sem o interesse de imprimir o próprio jornal – se é que, à época, ainda fosse o redator do mesmo.

Fontes:

- Acervo: edições do nº 2, de 10 de abril de 1830, ao nº 88, de 2 de abril de 1831.

- OGIER, René. Courrier Du Brésil – Feuille politique, commerciale et littéraire. Rio de Janeiro : Courrier, 1828. Disponível no catálogo da Biblioteca Nacional da Áustria, em: http://data.onb.ac.at/rec/AC09791594. Acesso em: 23 out. 2017.

- MORAES, Rubens Borba de. O bibliófilo aprendiz. São Paulo: Nacional, 1965.

- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.