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Ostensor Brasileiro: Jornal Litterario e Pictoreal

06 abr 2015

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e marcado com as tags História, Liberalismo, Literatura, Rio de Janeiro, Segundo Reinado

O Ostensor Brasileiro foi, segundo seu subtítulo, um “Jornal litterario pictoreal”, criado no Rio de Janeiro (RJ) em 1845. Criado e dirigido pelo poeta e romancista português Vicente Pereira de Carvalho Guimarães e por João José Moreira (o primeiro responsável pela edição e o segundo pela administração financeira), foi uma das primeiras e mais importantes publicações literárias da imprensa periódica brasileira. Sua segunda folha de rosto o definia como uma “Collecção de producções originaes em prosa e verso sobre assumptos pertencentes á historia politica e geographica da Terra de Santa Cruz”.

A palavra “ostensor”, do latim “ostensore”, significa “aquele que mostra ou ostenta”, revelando a intenção do periódico em retratar o Brasil, conforme exposto em seu editorial de lançamento. Ali, o Ostensor Brasileiro era definido como
(...) huma destas emprezas atrevidas, que os indifferentes julgam loucas, e os amigos impossíveis; o plano circumscripto, que nos impuzemos de tratar exclusivamente de objectos relativos, ou pertencentes ao Brasil [,] constitue a primeira parte do nosso programma, e a maior das difficuldades a vencer, segundo querem aquelles que de trabalhos mentaes só esperam como unico premio hum pouco de oiro vil; a segunda, (...) reduz-se a fallar aos olhos e ouvidos juntamente, segunda e mui grave difficuldade, por que não havendo em nosso jornal lugar para traducções de artigos, que não tenham immediata relação com o Brasil, não podemos utilisar gravuras feitas em França ou Inglaterra, e grandioso dispendio, e trabalho insano nos custará o empenho. (...) He preciso civilisar o povo, dizem todos, e o jornal litterario he uma poderosa alavanca da civilisação.

Quando criado, o periódico objetivava promover a leitura no Império, democratizando a informação a todas as camadas sociais brasileiras e buscando valorizar escritos sobre o Brasil, feitos por e para brasileiros. Nesse sentido, procurando-se seguir os interesses do público leitor para uma circulação mais abrangente, traduções de textos de viajantes estrangeiros ao Brasil não tinham espaço em suas páginas.

As edições do Ostensor Brasileiro eram impressas e vendidas na editora dos irmãos Eduardo e Henrique Laemmert, no nº 77 da Rua da Quitanda. Cada uma contava oito páginas divididas em duas colunas de texto, com ilustrações em folhas separadas, retratando personalidades ilustres do Império ou paisagens brasileiras do Segundo Reinado – quase todas foram realizadas pela empresa litográfica Heaton & Rensburg. Na parte textual, o periódico trazia poesia, romances, artigos, ensaios, correspondência, biografias, efemérides, relatos de viagem, entre outras coisas.

Sem grandes divisões entre o que era História e ficção literária, o jornal abordou temas e questões como espaço urbano carioca, educação primária no Brasil, preservação do patrimônio histórico e ambiental, condições sociais das mulheres, a necessidade de unidade entre as nações sul-americanas, problemas políticos e administrativos enfrentados pelo Império, geografia e paisagens brasileiros, povos indígenas e suas relações com colonizadores, história do Brasil, particularidades de vilas e cidades brasileiras, religião, jesuítas na América do Sul, instituições cariocas, guerras e revoltas, literatura clássica, liberalismo, pan-americanismo, valores e conceitos morais, personalidades históricas, etc. Em suas edições destacaram-se os romances históricos "Jerônimo Barbalho Bezerra" (possivelmente o primeiro romance histórico brasileiro), situado durante a Revolta da Cachaça (1660) e "A guerra dos emboabas", ambos de Vicente P. C. Guimarães.

Apesar de ser considerada uma publicação de vanguarda na imprensa da época – tanto pelo seu editorial quanto por sua qualidade gráfica – o Ostensor Brasileiro teve poucos leitores e nenhum anunciante. Sua periodicidade foi irregular e nenhuma edição continha indicações de dia e mês de lançamento. Com dificuldades de circular, o periódico acabou sendo extinto logo em 1846, após completar cinqüenta e duas edições. Os volumes contendo a coleção completa do Ostensor, lançados posteriormente, contavam 416 páginas de textos e 54 gravuras.

Em 2010, a Fundação Biblioteca Nacional lançou uma edição fac-similar da coleção completa do Ostensor Brasileiro.

Fontes

- BRANCHER, Ana. Um brado na imprensa brasileira. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/um-brado-na-imprensa-b... Acesso em 14 ago. 2012.

- Ostensor Brasileiro: jornal literário e pictorial. – Ed. fac-similar. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2010.

- VIEIRA, Pedro Almeida. Jerónimo Barbalho Bezerra. Disponível em: http://www.pedroalmeidavieira.com/?p/785/1089/3078/V/3078/1882/ Acesso em 14 ago. 2012.