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PERSONAGENS DA BN | São Rodolfo das Dúvidas Históricas

29 out 2021

Artigo arquivado em Personagens da Biblioteca Nacional

“Não sabíamos que era um sábio; desconfiávamos que fosse um santo; desses de cara fechada e coração aberto, que repreendem para perdoar; paternal, lacônico, discreto, São Rodolfo das Dúvidas Históricas!” (CALMON, Pedro. Prefácio. In: GARCIA, Rodolfo. Escritos Avulsos. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973)

Hoje, dia do Aniversário da Biblioteca Nacional e Dia do Livro, gostaríamos de recordar, de maneira especial, a figura inesquecível de Rodolfo Garcia, personagem nada oculto da BN.

Rodolfo Augusto de Amorim Garcia nasceu no Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte, em 15 de maio de 1873, e fez seus estudos de Direito no Recife. Ali, na capital pernambucana, entregou-se aos primeiros trabalhos intelectuais, afirmando, desde cedo, as tendências sérias e profundas do seu espírito. Apaixonado pela história e pela etnografia do Brasil, a essas duas ciências dedicou os melhores dos seus esforços.

Mudando-se para o Rio de Janeiro, logo se impôs nos meios intelectuais com a mesma segurança com que se havia imposto aos meios pernambucanos.

Sua contribuição para a alta cultura brasileira foi sistemática e de grande valor. E nela contam-se trabalhos preciosos como o “Dicionário de Brasileirismo”, obra da mais indiscutível utilidade.

Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), da Academia Brasileira de Letras (ABL) e diretor do Museu Histórico Nacional, Rodolfo Garcia também foi diretor da Biblioteca Nacional (1932-1945). Durante sua gestão, seu gabinete foi o ponto habitual de encontro de alguns dos homens mais ilustres do Brasil: Tasso Fragoso, Artur Neiva, Afrânio Peixoto, Primitivo Moacyr, Aurélio Porto, Otávio Tarquínio de Souza, Serafim Leite, Pedro Calmon, Roberto Simonsen etc.

Todas as tardes, como recordou certa vez o Padre Serafim Leite, o Gabinete do Diretor da Biblioteca "era o ponto de reunião — `uma pequena Academia` — de homens que estudavam ou simplesmente se juntavam para tratar de assuntos às vezes de antemão combinados". E, naquele Gabinete do Diretor, modesto e discreto, se reuniam, diariamente, para conversar, para discutir problemas de história e cultura, para combinar coisas, figuras intelectuais da velha geração e da nova. E o bate-papo da Biblioteca se tornou destarte ilustre e famoso — o bate-papo daquela "pequena Academia", que o Padre Serafim Leite recordou há tempos com viva emoção.

“Discípulo” e herdeiro legítimo de Capistrano de Abreu, Rodolfo Garcia tem lugar de destaque no conjunto da historiografia brasileira. Com sua morte, em 14 de novembro de 1949, nossas letras históricas perderam uma de suas figuras mais culminantes. Devemos-lhe muito no esclarecimento de dúvidas sobre o nosso passado e nesse particular, nosso ilustre historiador emparelha com Capistrano, que também nos legou páginas soberbas e profundas em torno da nossa antiguidade. A este, aliás, andou Rodolfo ligado várias vezes em tarefas que só os dois poderiam realizar com o êxito necessário, dadas as afinidades de cultura e a probidade como exerciam a sua missão de desbravadores da história brasileira.

Detentor de um saber abrangente, soube muito bem andar na contramão da especialização, que mutila a visão humana das coisas e dobra todas as forças espirituais para um só lado. O especialista “sabe” muito bem seu mínimo rincão de universo; mas ignora basicamente todo o resto. Não era o caso de “São Rodolfo das Dúvidas Históricas”. Seu domínio da história do Brasil, acompanhado de um rigor metodológico no trato com os documentos, permitia que ele resolvesse as mais diversas dúvidas dos que recorriam a ele.

Sua vida de estudos exercia-se independentemente, segundo as próprias leis e objetivos. Enquanto a vida intelectual brasileira se expressava na falta de seriedade, na atitude de faz-de-conta e fraude, na mania de brilho superficial, no espírito de rivalidades e mesquinharias, a de Rodolfo Garcia foi uma afirmação constante, jamais desmentida, de fidelidade ao espírito, de amor e serviço no sentido da atividade intelectual, de coerência plena com a sua condição de verdadeiro estudioso.

Para saber mais:

Na Biblioteca Nacional, uma das coleções editoriais é em sua homenagem. A Coleção Rodolfo Garcia é dividida em duas séries – textos, e catálogos e bibliografias – em que apresenta, na primeira, estudos sobre grandes corpos documentais do acervo e coletâneas de documentos e, na segunda série, inventários completos de algumas das mais importantes coleções existentes na instituição.

Gabriela D´Avila Brönstrup, ex-bolsistas do PNAP-FBN, com pesquisa desenvolvida sobre Rodolfo Garcia.


Acervo Digital da BN sobre Rodolfo Garcia:

Carta (rascunho) de Rodolfo Garcia a Antonio de Alcântara Machado, agradecendo as expressões com que o mesmo exaltara os seus méritos de estudioso da língua tupi.

Carta (rascunho) a Jonathas Serrano, pedindo-lhe que intercedesse junto ao Dr. Fernando de Azevedo, Diretor da Instrução pública, no sentido de dispensá-lo da comissão examinadora do concurso de História do Brasil.

Guia da Biblioteca Nacional, relativo ao Sesquicentenário (1810-1960), onde constam informações importantes sobre Rodolfo Garcia.

Artigo de Gustavo Sobral sobre Rodolfo Garcia.

Perfil de Rodolfo Garcia pela ABL.

Live da BN realizada em 12 de agosto de 2021.