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Semanario do Cincinnato

03 jul 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags Conservadorismo, Dom Pedro I, Monarquismo, Período Regencial, Rio de Janeiro, Segundo Reinado

Lançado no Rio de Janeiro (RJ) a 18 de fevereiro de 1837, o Semanario do Cincinnato foi um conservador pasquim de crítica política. Editado por José Cristino da Costa Cabral, que até seu lançamento vinha sendo colaborador do Diário do Rio de Janeiro, o periódico foi praticamente lançado para cerrar fileiras com este jornal na arena do debate político. Então gerido por Nicolau Lobo Vianna, o diário estava empenhado em campanha contrária ao pensamento liberal de Antônio Borges da Fonseca e sua folha, O Repúblico. Impresso na mesma tipografia do Diário do Rio de Janeiro, de propriedade de Vianna, o semanário foi publicado até sua 36ª edição, datada de 4 de novembro de 1837.

A batalha do Semanario do Cincinnato e de outros órgãos conservadores contra Borges da Fonseca esteve contextualizada com os debates públicos acesos pelas disputas políticas que se desdobraram no chamado “golpe da maioridade”, que marcou o fim do Período Regencial a 23 de julho de 1840. Desde 1835 ganhava força uma verdadeira pressão sobre o Senado para que declarasse a maioridade de Dom Pedro II antes dos 15 anos de vida, em manobra política que pretendia deter revoltas populares que então eclodiam em pontos variados do Brasil. Temerosas com a “anarquia” que abalava a participação das elites na organização estatal do Império, forças conservadoras ligadas ao latifúndio e à economia escravocrata culpavam a descentralização político-administrativa que havia se imposto durante a Regência pelos levantes. Fazendo eco ao seu descontentamento, a folha de José Cristino da Costa Cabral vem a lume com os dizeres:
Os costumes vão declinando para uma espantosa corrupção; o pudor todos os dias soffre quebras!!.. Nós queremos, por tanto, ver mais respeitada a Moral Pública. Vacilla a Monarchia pela debilidade dos laços que ligão as Provincias ao Centro: – nós por isso queremos que, sem quebra da liberdade que nosso estado social nos permitte gozar, sejão mais estreitados esses laços: queremos ver consolidada a União da Grande Família Brasileira.

Como Borges da Fonseca era um ardoroso panfletário da política liberal, que acabou enfraquecida com a sagração de Dom Pedro II, vinha “defendendo os farrapos e escalpelando o regresso que se processava”, nas palavras de Nelson Werneck Sodré em “História da imprensa no Brasil” (p. 136). Com o início do Segundo Reinado e a consolidação conservadora pela repressão às revoltas iniciadas no Período Regencial, José Cristino da Costa Cabral viria a ser, para Sodré, glorificado pela “historiografia oficial”, tanto pelos seus escritos no Diário do Rio de Janeiro quanto pelo seu Semanario do Cincinnato; algo que em seguida o valeu o cargo de redator no Correio Oficial e no Jornal do Commercio, tendo desempenhado a função neste último entre 1838 e 1842, para, a partir de 1855, passar a dirigir o Correio da Tarde.

Fontes

- Acervo: edições do nº 1, de 18 de fevereiro de 1837, ao nº 36, de 4 de novembro de 1837.

- O Golpe da Maioridade. In: História do Brasil. MultiRio – A mídia educativa da cidade. Secretaria Municipal de Educação Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/golpe_maioridade.html. Acesso em: 18 jun. 2015.

- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

- TEIXEIRA, Francisco M. P. Brasil - História e Sociedade. São Paulo, Ática, 2000.