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O Jogo do Bicho

O jogo do bicho foi criado em 1892, no Rio de Janeiro, pelo Barão João Batista Viana Drummond como uma atração para os visitantes de seu Jardim Zoológico. Localizado em Vila Isabel e inaugurado em 1888, este se encontrava em dificuldades financeiras, após perder o subsídio imperial. Ao adquirir o ticket do ingresso, o visitante ganhava uma figurinha de um bicho. No alto de um poste, à entrada do zoológico, escondia-se a gravura de um dos 25 bichos da lista sob uma caixa de madeira, a ser revelado ao fim do dia. Quem estivesse com a figura do mesmo animal ganhava um prêmio de 20 vezes o valor da entrada.

O jogo, a princípio lícito, foi liberado pela Câmara, mas ficou logo sujeito à fiscalização da polícia. Rapidamente estendeu-se para fora dos muros do zoológico carioca, em que “bicheiros” concentravam apostas em ruas, praças, cafés, casas de fumo, lotéricas, vendas etc. Tomada por alguns como “a primeira consequência lúdica e popular da Proclamação da República”, a existência legal do jogo do bicho acabou com o ato de proibição assinado pelo prefeito do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, em 1895 (MAGALHÃES, 2006; GOMES, 2010; BENATTE, 2011.). Alguns autores associam o jogo à alma do brasileiro, como um de seus traços de caráter e signos de identidade.

Esse jogo – a maior contribuição do homo brasiliensis ao patrimônio lúdico e contravencional da humanidade – é um fato social total, enraizado profundamente em nossa cultura; ele faz rizoma com uma ampla camada de real e de imaginário, de concreto e de simbólico, de prosaico e de poético, de patético e de onírico; inextirpável, é uma verdadeira instituição tupiniquim, articulada a muitas outras instituições, como o carnaval, o futebol, a música popular, a política, a religião, a economia, a polícia, a malandragem, a bandidagem e por aí vai (BENATTE, 2011, p. 300.).

Em 1898, às vésperas da República, a Lei no 496 definiu e garantiu os direitos autorais de obras nacionais de brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil. O registro da obra era feito na Biblioteca Nacional, como formalidade constitutiva do Direito Autoral. Curiosamente, o primeiro item presente no primeiro Livro Registro do Escritório de Direitos Autorais de 1898 trata-se de uma cromolitografia e refere-se à relação dos animais integrantes do jogo do bicho. Proibida desde 1895, mas já incontrolável, a atividade, lucrativa e praticada em todo o país, justificava a preocupação com o direito autoral da produção de imagens que seriam largamente copiadas. Além desse primeiro registro de Direitos Autorais, a coleção de Iconografia guarda mais 18 imagens do jogo do bicho, sendo sete delas coloridas (Figura 2) e impressas por meio da cromolitografia.

Fig. 2 - As sete figuras cromolitografadas do jogo do bicho presentes no setor de Iconografia.

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