BNDigital

A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

< Voltar para Dossiês

CARTA COROGRAPHICA DA CAPITANIA DO RYO DE JANEYRO CAPITAL DOS ESTADOS DO BRAZIL

O mapa com o título: “Carta Corographica da Capitania do Ryo de Janeyro capital dos Estados do Brazil” foi feito em 1777 por Francisco João Rosoio.

Ele descreve o litoral do Rio de Janeiro, a baía de Guanabara, a cidade do Rio de Janeiro e seus arredores; e os limites com as capitanias de São Paulo, de Minas Gerais e do Espírito Santo.

Ele mostra a Vila de Ubatuba (São Paulo), a Vila de Paraty, os rios Jacui, Pereitinga e Pirai, o caminho para São Paulo, a Vila de Angra dos Reis, a baía de Ilha Grande, a lagoa de Guaratiba, a restinga de Marambaia, a Ilha de Itacuruçá, a Ilha da Madeira, a aldeia de Itaguaí, o rio Guandu, Santa Cruz Del Rei, a guarda de Guaratiba, a ponta de Sernambetiba, a restinga da Tijuca, a barra do Rio de Janeiro, a barra da Tijuca, Nossa Senhora de Copacabana, a baía da Guanabara, a ponta do Leme, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a freguesia de São Xavier, o rio Maracanã, o engenho Novo, Nossa Senhora da Penha, o rio Irajá, a Ilha do Governador, o rio Sarapui, a freguesia de Nossa Senhora da Guia, a freguesia de Nossa Senhora de Magé, a Vila Nova de São João Del Rei, a freguesia de São Gonçalo, a aldeia de São Lourenço, a freguesia de São Sebastião de Itaipu, a lagoa de Marica, a serra dos Canudos, a ponta Negra, a lagoa de Jaconé, a lagoa de Saquarema, a freguesia de Nossa Senhora de Nazeré de Saquarema, a lagoa de Araruama, a aldeia de São Pedro, a cidade de Cabo Frio, a fazenda dos Padres Bentos, a Armação das Baleias, a ponta de Búzios, a guarda do Rio de São João, a praia de Iriri, a aldeia dos índios Guarulhos, os Campos de Goitacazes, Quisamã, a barra do Furado, a lagoa Feia, a ponta de Manguinhos, o rio Camapuã, a lagoa do Campelo, a Vila de São Salvador, “gentio coroado”, “sertão pouco conhecido montuoso e emboscado e ocupado por varias Nascoens de índios selvagens”, “gentio garosos”, rio Paraíba, “gentio toby”, “gentio xipoto”, o rio Paraibuna, o registro de Matias Barbosa (Minas Gerais), a serra da Mantiqueira e a freguesia de Nossa Senhora de Campo Alegre.

No que tange à contextualização histórica, devemos salientar que Nicolau Durand de Villegagnon (1510-1572) recebeu de Henrique II o título de vice-almirante da Bretanha. Em 1550, ele traçou planos para estabelecer uma colônia na baía de Guanabara, contando com o apoio do almirante Coligny, chefe do partido protestante, inspirou a política colonial da França e defendeu a idéia de um estabelecimento permanente e fortificado e permanente na América do Sul, além disso, vislumbrava um lugar onde os huguenotes viveriam livres da perseguição religiosa. De acordo com a historiadora Armelle Enders a baía do Rio de Janeiro prestava-se a este projeto, pois ficava situada na rota do estuário do rio da Prata e, conseqüentemente, do Alto Peru e de Potosí, cujas minas eram exploradas pelos espanhóis desde 1545.

Houve contribuição de Henrique II que incentivou a conquista, segundo Sérgio Buarque de Holanda, o rei cedeu a Villegagnon recursos financeiros, duas naus bem artilhadas, além de abundante artilharia, pólvora e tudo quanto fosse preciso para a construção e defesa de um forte. Os franceses tiveram o apoio dos índios Tupinambás que, junto com outras nações indígenas, guerrearam contra os portugueses. A união das tribos indígenas contra os portugueses ficou conhecida como a Confederação dos Tamoios.

Em 1555 fundou-se a França Antártica. A partir desta data, Villegagnon ganhou o título de vice-rei do Brasil, e ordenou a construção do forte de Coligny. A França Antártica viveu dilacerada pelas disputas teológicas em torno da eucaristia. Os católicos defendiam a eucaristia como real transubstanciação do corpo de Cristo, e os huguenotes consideravam-na apenas o seu valor simbólico. Segundo Ronaldo Vainfas, as querelas finalizaram com a perseguição do credo reformado e a morte dos dissidentes.

Os escritos protestantes consideravam a tolerância religiosa inicial como meio de reunir capitais e ludibriar os calvinistas, os católicos, em contrapartida, acreditavam na sinceridade e na tolerância de Villegagnon. Ele regressou à França para explicar os acontecimentos, permanecendo seu sobrinho, Bois-le-Comte, no comendo da França Antártica.

É importante destacar que Mem de Sá, o terceiro Governador Geral, veio para o Brasil com três metas bem definidas: pacificar a administração, atenuando os conflitos entre indígenas e colonos; restabelecer as relações com o Bispado, estremecidas durante o governo anterior e expulsar os franceses do Rio de Janeiro. Em um breve espaço de tempo atingiu as duas primeiras metas. A expulsão dos franceses só se efetivou em 1567.

A primeira expedição organizada por Mem de Sá contra os franceses ocorreu em 1560, com a destruição do forte de Coligny, eles foram expulsos temporariamente da baía de Guanabara. Em 1563 a Metrópole enviou reforços consubstanciados na expedição de Estácio de Sá. Em 1º de março de 1565, Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que serviria inicialmente de base na luta contra os franceses e seus aliados indígenas.

A luta com os franceses prosseguiu até 1567, quando Estácio de Sá recebeu reforços militares e ajuda de índios, chefiados por Araribóia, adversário dos tamoios e aliado dos portugueses. Por seu lado, os jesuítas, liderados por Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, pacificaram os índios tamoios de São Vicente, fazendo com que retirassem seu apoio aos franceses, em troca da promessa de não serem mais atacados e nem escravizados. Sem esse apoio, os franceses diminuíram a sua resistência, sendo definitivamente expulsos do Rio de Janeiro.

Em 1572, após a morte de Mem de Sá, o governo português dividiu o Governo Geral do Brasil em dois: o do norte, com sede em Salvador, e o do sul, com sede no Rio de Janeiro. Pretendia, com essa medida, organizar melhor a administração da Colônia, fortalecer a ocupação do Rio de Janeiro e de São Vicente, sempre ameaçadas pelos franceses e espanhóis, e estimular a penetração para o sul e o interior. Sem ter atingido plenamente seus objetivos, a Coroa portuguesa resolveu, em 1578, unificar, novamente, a administração da Colônia.

Após a morte do fundador, o novo capitão e governador da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi outro parente de Mem de Sá, cuja família – Correia de Sá – dominou o Rio de 1565 aos anos 1660.

Com o fim das ameaças e o crescimento da população, São Sebastião se estendeu pouco a pouco. Surgiram casas nos morros vizinhos de São Bento, Santo Antônio, da Conceição.

No século XVII, diluiu-se a oposição entre a cidade alta e a cidade baixa, típicas de outras fundações portuguesas. As primeiras ruas ligavam um morro a outro, desenhando um quadrilátero do qual a cidade levaria muito tempo para escapar. Dessa forma, se esboçou a rua Direita (atual Primeiro de Março), entre o pé do Castelo e o de São Bento, onde em 1628, os beneditinos erigiram um convento. Em 1641, a parte urbanizada se estendeu até a rua da Vala (atual Uruguaiana). Durante muito tempo, esta última não passava de um fosso concebido para drenar o pântano estagnado ao pé do morro de Santo Antônio, assim como imundícies da povoação.

Ao longo do século XVIII, o centro de gravidade da América portuguesa desviou-se do Nordeste para o Sudeste, e o Rio de Janeiro se impõe pela vontade real, como a principal cidade brasileira. Cabe ressaltar que seu progresso aconteceu em virtude de sua função militar, uma vez que a partir do Rio de Janeiro que os portugueses colonizaram o sul do Brasil e dirigiram as hostilidades contra os espanhóis do rio da Prata. A cidade também repousa sobre a descoberta do ouro de Minas Gerais, como rota obrigatória.

Com a elevação do Rio de Janeiro à dignidade de capital, o coração da cidade se fixou duradouramente ao redor do largo da residência dos vice-reis, desembocando na rua Direita.

Na segunda metade do XVIII, o Rio de Janeiro ultrapassou o recinto imaginário formado por seus quatro morros originais. As transformações da cidade eram também de ordem intelectual. Após alguns anos do aparecimento de sociedades eruditas em Lisboa , mentes ilustradas do Rio de Janeiro abriram na cidade Academias mais ou menos efêmeras.


REFERÊNCIAS

ADONIAS, Isa. Mapa: imagens da formação territorial brasileira. Rio de Janeiro: Odebrecht, 1993.
BRASIL, Assis. Villegagnon, paixão e guerra na Guanabara: da França Antártica à fundação do Rio de Janeiro. 2.ed. Rio de Janeiro: Imago, 1999.
ENDERS, Armelle. História do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. "Franceses, holandeses e ingleses no Brasil quinhentista" In: HGCB. 7.ed. São Paulo: Difel, 1985. t.1, v.1, p.147-167.
MARIZ, Vasco. Villegagnon e a França Antártica: uma reavaliação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira ; Biblioteca do Exército Editora, 2000.
SILVA, Cyro. Franca Antártica. Rio de Janeiro: s.n, 1980.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

Parceiros