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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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EL GRAN RIO MARANÕN O AMAZONAS CON LA MISSION DE LA COMPAÑIA DE JESUS

O mapa com o título “El gran rio Maranõn o Amazonas con la Mission de la Compañia de Jesus”, de autoria do Jesuíta Samuel Fritz, foi feito no ano de 1707.

No alto do mapa aparece como título: “ El gran rio Maranõn, o Amazonas con la Mission de la Compañia de Jesus. Geograficamente delineado por el Pe. Samuel Fritz missionero continuo en este Rio. P.J. de N. Societatis Jesu quondam en hoc Marañone. Missionarius feulpebat Quiti. Ano de 1707”.

Este mapa refere-se ao território banhado pelo Rio Marañon, que nasce em Lima, no Peru e desce até o Pará, no Brasil. Nele aparece todos os seus afluentes, sendo que, na margem esquerda os principais rios são: Santiago, Pastaça, Tigre, Napo, Içao Putumayo, Iupura, Negro, Viubú, Paru, Arouare e Rio de Vicente Pignon e na margem direita os rios Ucayale, Yutar, Cuchiua, Rio de La Madera, Auacachis, Tupinambaranas, Tapayos, Aoripana, Guanapu, Yacunda e Tocantin.

No canto direito aparece a descrição: “Ala Católica y Real Magestad Del Rey Nº Sr. Dn. Felipe V. La província de Quito dela Compª de Jesus oferece, y dedica enetemo reconocimiento este mapa del gran Rio Marañon com su Mission Apostolica como asv Soberano Patrono, y mantenedor por mano de su Real Audiência de Quito”.

Segundo Souto Maior, o valor do mapa do Padre Fritz foi reconhecido desde seu aparecimento e todos os cartógrafos da primeira metade do século XVIII nele tiveram um excelente modelo, pois, além de ser um ótimo cosmógrafo e revelar-se muito instruído em seus escritos, estava habituado a registrar as informações recebidas dos índios.

No que tange o Brasil, Jaime Cortesão afirma que, enquanto o vale amazônico não se abriu aos portugueses, o Brasil foi considerado vasta ilha limitada pelo Prata e o Tocantins unidos por um lago. Estender a soberania política a esta região, foi o sonho dos portugueses e luso-brasileiros, perseguido durante um século.

Entretanto, não foram sem dissídios e conflitos mais ou menos violentos entre as partes interessadas, ou melhor, entre seus representantes no Novo Mundo, que se operou a dilatação formidável da conquista.

Revelada por Orellana em 1512 a magnitude gigantesca do Amazonas, o norte da expansão brasileira muda. Nos primeiros anos a fundação e a defesa da Colônia foi muito auxiliada pelos franciscanos da Província de Santo Antônio. Só mais tarde, jesuítas e carmelitas os substituíram nessa obra.

A expansão portuguesa na Amazônia obedeceu a dois fatores essenciais: o econômico – a busca de especiarias, a que se chamavam “as drogas do sertão” e a da mão-de-obra indígena; e o político – estender a soberania portuguesa tanto quanto possível à vasta unidade geográfica, econômica e humana da bacia amazônica. Mas fator econômico e político fundiam-se. As mesmas ordens religiosas, quase sempre impregnadas de proselitismo e piedade cristã, não deixaram, quer de participar do movimento econômico, quer da política de Estado, de que foram por vezes eficazes instrumentos. Mas os portugueses revelaram também aqui a sua excepcional consciência do espaço, capacidade de expansão e intuição política.

Quanto às missões jesuíticas, podemos dizer que no início da colonização do Brasil, a tarefa de conversão dos gentios à fé católica colocava desafios inéditos para os religiosos. Ronaldo Vainfas esclareceu que, desconhecendo as sociedades nativas, os europeus tinham a impressão de que os índios viviam “sem Deus, sem lei, sem rei, sem pátria, sem república, sem razão”. O grande mérito dos jesuítas, segundo este historiador, consistiu na percepção da humanidade dos nativos da América. E através dos colégios jesuítas, incentivou-se o desenvolvimento de procedimentos capazes de atingir a sensibilidade dos nativos, aproximando-os da cultura cristã. Esta estratégia assentava-se em três convicções básicas: a de que os índios eram tão capazes dos sacramentos quanto os europeus; a de que os índios eram “livres por natureza” e a de que tinham o caráter de um “papel branco”, em que poderia ser impressa a palavra de Deus. Com estas diretrizes, os jesuítas buscaram na catequese, antes de tudo, a mudança de alguns costumes ameríndios, incompatíveis com a fé católica, como a poligamia e a antropofagia, e para isso, fizeram largo uso da música, da dança, dos autos religiosos e das procissões. Ao contemporizar com alguns modos indígenas, esperando, como argumenta Serafim Leite, tornar mais factível a pregação do Evangelho, revelavam agudo senso prático e compreensão da distância que separava as culturas tão diferentes.

Com o tempo, diante dos conflitos com os colonos, que viam nos indígenas uma força de trabalho pouco onerosa, e a partir do desenvolvimento de uma pedagogia, elaborada nos seus colégios, conceberam a idéia de agrupar grandes contingentes de nativos em aldeias relativamente isoladas dos núcleos urbanos, como meio de fazer avançar sua atividade apostólica. Impondo-lhes fainas agrícolas e artesanais contínuas, intercaladas com momentos de lazer e oração, os jesuítas levaram às últimas conseqüências seu projeto missionário, cuja tônica era mais civilizacional do que religiosa.

Vainfas salientou, que a Coroa apoiou a organização desses aldeamentos, cuja expressão final foi o Ressurgimento das Missões (1686), que somava à jurisdição espiritual o privilégio de administra-los temporalmente. Essa política converteu-se, de um lado, em motivo de tensão permanente para os colonos, sempre ávidos de mão-de-obra indígena. De outro lado, ao fixar populações seminômades e alterar radicalmente seu modo de vida, os aldeamentos desarticulavam as culturas indígenas, o que foi objeto, de forte crítica historiográfica.


REFERÊNCIAS

CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1957.
LEITE, Serafim S. Breve história da Companhia de Jesus no Brasil, 1549-1760. Braga: Apostolado da Imprensa, 1993.
Revista do I.H.G.B. Rio de Janeiro: IHGB. vol.81. p. 353-397.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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