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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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EYGENTYLE ALBEELDINGE VAN DE CUST TUSCHEN C. S. AUGUSTYN ENDE RIO GRANDE EM WESTINDIEN

O mapa com o título “Eygentyle albeeldinge van de cust tuschen C. S. Augustyn ende Rio Grande em westindien ” foi produzido por Cornelis Dankertz por volta do século XVII.

Ele mostra a esquadra holandesa atacando a costa nordeste do Brasil, compreendendo as Capitanias de Pernambuco, de Tamaracá e da Paraíba. Além disso, apresenta um encarte do litoral brasileiro, desde a vila de Santos até a baía de Iguape.

Na Capitania de Pernambuco inclui o Cabo de Santo Agostinho, a Ponta de Nazaré, o rio Extremo, Recife e Olinda; na Capitania de Tamaracá mostra Maria Farinha e o rio Gana, e na Capitania da Paraíba inclui o Cabo Branco, o rio Paraíba, a baía Formosa e o rio Grande.

O encarte mostra a vila de São Vicente, a vila de Santos, a baía de Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Cabo Frio, Espírito Santo, o rio Doce, o arquipélago de Abrolhos, Porto Seguro, Ilhéus, o rio das Contas, a Ilha de Itaparica, Cabo de Santo Antônio, a baía de Todos os Santos, São Salvador, o rio Real, o rio São Francisco, Cabo de Santo Agostinho, a vila de Olinda, Tamaracá, o rio da Paraíba, a baía Formosa, o rio Peixe, a Ponta do Mel e a baía de Iguape.

A fim de melhor compreender a importância deste mapa na história do Brasil, cabe destacar o que foi o Domínio Holandês no Nordeste Açucareiro.

Segundo o historiador Ronaldo Vainfas, as chamadas invasões holandesas no nordeste do Brasil estiveram profundamente vinculadas à União Ibérica e à guerra de independência que as Províncias Unidas dos Países Baixos moveram contra a Espanha. As disputas interferiram no comércio entre os Países Baixos e Portugal, sobretudo, na compra de sal para a indústria de pesca holandesa, além disso, os judeus de Amsterdã participavam da produção e do comércio de açúcar no Brasil.

Ao término da trégua hispano-holandesa (1609-1621), este comércio de sal e açúcar estava comprometido. Com isto, surgiu a Companhia das Índias Ocidentais, em defesa desses interesses, o qual recebeu o monopólio do comércio, navegação e conquista da área americana sob controle ibérico.

A primeira tentativa de conquista holandesa no Brasil ocorreu em 1624, em Salvador, a capital da Colônia. Esta invasão durou um ano, e apesar do fracasso na Bahia, os holandeses foram amplamente recompensados, 1628, com a apreensão, nas Antilhas de um carregamento de prata americana para a Espanha. Dessa forma, os recursos obtidos com este ato de pirataria serviram para financiar uma segunda tentativa, desta vez contra Pernambuco.

Os holandeses chegaram em Pernambuco em 1630 com uma esquadra de 70 navios, dominando Recife e Olinda sem maiores problemas, apesar dos preparativos de defesa efetuados por Matias de Albuquerque, governador de Pernambuco.

O historiador Evaldo Cabral de Mello dividiu a dominação holandesa em três períodos distintos. O primeiro, entre 1630 e 1637, teria se caracterizado pelo impasse militar, com os holandeses sitiados em Olinda e a resistência lusa imobilizada por falta de recursos. A partir de 1632, os holandeses começaram expedições destinadas a queimar engenhos, roças, canaviais e a amedrontar a população colonial. Conquistaram a Paraíba, o Rio Grande do Norte e Itamaracá. Este período, portanto, foi marcado pela guerra de resistência: enormes baixas nos exércitos luso-espanhóis, fuga dos senhores de engenho para a Bahia, ocupação holandesa do território entre o rio São Francisco e Ceará, e finalmente, pela trégua luso-holandesa de 1637 a 1641.

O segundo período, entre 1637 e 1645, coincide com o governo de João Maurício de Nassau, marcado por uma paz precária, interrompida por ataques promovidos pelos senhores refugiados na Bahia contra engenhos e povoações. Houve um expressivo alargamento do território, incluindo Sergipe, e parte da África, marcando, assim, a entrada holandesa no valioso tráfico de escravos. Cabe ressaltar que durante o governo de Nassau, Recife tornou-se a cidade mais cosmopolita do Brasil, além disso, este tornou-se um mecenas, patrocinando a vinda de artistas, naturalistas, matemáticos e médicos que investigaram a natureza e a paisagem nordestina. E ainda, no seu governo a preocupação com a reorganização da produção açucareira se entrelaçou com as operações militares, garantindo assim, o funcionamento da economia e da segurança. Entretanto, o principal problema de Nassau residia no conturbado convívio entre calvinistas, católicos e judeus, como também os cristãos novos portugueses.

Cabe destacar as contradições do Brasil Holandês. Ao longo do tempo, tornaram-se claras as divergências entre Nassau e a Companhia das Índias Ocidentais, esta buscava objetivos mercantis a curto prazo, enquanto ele considerava primordial encontrar uma conciliação holandesa no nordeste. Portanto, a estabilidade da conquista dependia dessa comunidade acuada por dívidas e antagonismos religiosos. Com isto, a independência de Portugal em face da Espanha, em 1640, tornou-se mais um problema para o Domínio Holandês.

O terceiro período de dominação deu-se entre 1645 e 1654, correspondendo às guerras de Restauração e à derrota definitiva dos holandeses. Para alguns historiadores, os holandeses não interiorizaram a conquista, concentrando-se nos centros urbanos, e ainda, apesar da superioridade bélica, os holandeses se encontravam em desvantagem no âmbito cultural. Uma vez que os portugueses além de consolidarem seu vernáculo nas comunidades, haviam fincado profundas raízes de colonização que não foram eliminadas com a derrotada militar de 1630.

De todo modo o âmbito da resistência se ativou com a reconquista do Maranhão, em 1643, e a insurreição de 1645 ganhou ênfase com o endividamento dos plantadores de cana. Seja como for, o declínio dos preços do açúcar foi o grande catalisador da crise do Brasil Holandês. Lembrando que a aliança luso-brasileira, dos moradores de Pernambuco e dos exilados na Bahia, contribuiu para a Restauração Pernambucana. Podemos dizer que domínio holandês no Brasil terminou em 1654, com a Capitulação da Campina da Taborda, todavia, a formalização diplomática da vitoriosa insurreição ocorreu somente em 1661, com a assinatura da Paz de Haia.


REFERÊNCIAS

ADONIAS, Isa. Mapa: imagens da formação territorial brasileira. Rio de Janeiro: Odebrecht, 1993.
BOXER, C. R. Os Holandeses no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1961.
MELLO, E. C. Olinda Restaurada. 2.ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
MELLO, J. A. Gonsalves de. A Cartografia Holandesa no Recife. Recife: IPHAN / MEC, 1976.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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