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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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FRAGMENT DU PLANISPHÈRE ENVOYÉ DES LISBONNE À HERCULE D’ESTE DUC DE FERRARE AVANT LE 19 NOVEMBRE 1502

O mapa com o título “Fragment du planisphère envoyé des Lisbonne à Hercule d’este duc de Ferrare avant le 19 novembre 1502”, é uma reprodução do século XX do original de 1502.

De acordo com os Portugaliae Monumenta Cartographica, este mapa ficou conhecido como “O Planisfério de Cantino”, pois, foi fruto de suborno feito pelo italiano Alberto Cantino, a mando do Duque de Ferrara, a um cartógrafo português. Este representa o mundo como nessa altura era conhecido e seu traçado obedeceu ao princípio das Cartas de Navegar.

Cabe salientar que este é um fragmento do Planisfério. Nele aparece uma parte da Europa, da África, da América do Norte, da América do Sul e das Antilhas, ressaltando que este é o primeiro documento conhecido que registra a palavra Antilhas, tal como ainda hoje se escreve em português, além da linha divisória do Tratado de Tordesilhas.

Nas ilustrações presentes no mapa, que são apresentadas de forma pictórica, vemos a imagem que se tinha dos continentes e da Terra Nova recentemente descoberta. Na Europa se vê uma fortificação e os símbolos das coroas. Na África se destaca a imagem de uma fortaleza, a fauna e a flora, além da presença da população negra que mais tarde seria transplantada como mão-de-obra escrava para a América. No continente recém descoberto, vemos a representação de um “paraíso tropical” retratado pela vegetação e pelos pássaros.

No que tange o Brasil, destaca-se as referências ao Cabo de São Jorge, Quaresma, São Miguel, Rio de São Francisco, Bahia de Todos os Santos, Porto Seguro, Rio de Brasil, Cabo de Santa Marta e uma legenda noticiando a descoberta, onde se lê: “a vera cruz X chamada p. nome a quall achou pedraluares caball fidalgo da cassa del Rey de portugal i elle a descobrio indo por capitamoor de quatorze naos que o dito Rey mandaua a caliqut y enel camjnho indo topou com esta terra em a qual terra se cree ser terra firme em a qual a muyta gente de descricam andam nuos omes i molheres como suas mais os pario sam mais brancos que bacos i teem os cabellos muyto corredios foy descoberta esta dita terra em a era de quinhentos”.

Cabe ressaltar a importância, nesse mapa, do traçado do Tratado de Tordesilhas, resultado das disputas luso-espanhola pelo continente recém descoberto. Segundo Ronaldo Vainfas, antes mesmo da ocupação da América, o domínio legítimo das regiões descobertas no rastro da expansão marítima de Portugal e Espanha tornou-se objeto de disputas envolvendo ambas as Coroas.

De acordo com Sérgio Buarque de Holanda, a 12 de outubro de 1492, o genovês Cristóvão Colombo, navegando a serviço de Castela, encontra no Ocidente algumas ilhas desconhecidas. Acresce que o mesmo Colombo já havia anteriormente oferecido seus serviços a D. João II, Rei de Portugal, que ficou convencido de que as ilhas recém descobertas lhes pertenciam.

Posteriormente, três bulas do Papa Alexandre VI concediam à Espanha direitos sobre as terras descobertas pelos seus navegantes a ocidente do meridiano traçado 100 léguas a oeste das ilhas dos Açores e Cabo Verde. Não concordando os portugueses, novas negociações resultaram, finalmente na assinatura do Tratado de Tordesilhas, celebrado em 1494 por D. João II de Portugal e Fernando e Isabel da Espanha. Dois meridianos estabeleciam-se, então, para separar o setor luso do espanhol: um passando a 250 léguas a oeste das Ilhas de Cabo Verde e outro – o que realmente valeu – a 370 léguas; a ocidente estariam as terras espanholas, a oriente as portuguesas.

Entretanto, a sua aplicação foi minada desde o início pela imprecisão das medidas adotadas, pela ausência de indicação de qual das ilhas do mencionado arquipélago serviria de referência e pela magnitude dos obstáculos para delimitar, no terreno americano, o meridiano traçado nos mapas ainda precários da época. Na América, à sombra das cláusulas de Tordesilhas assistiu-se, nos cerca de dois séculos e meio seguintes, a um duplo movimento de expansão territorial, no qual sobressaíram, do lado luso-brasileiro, em virtude das condições geográficas e da União Ibérica (1580-1640), as bandeiras paulistas e amazônicas, responsáveis pela obtenção de novas fontes de riqueza e pelo desenho dos limites da colônia.


REFERÊNCIAS

CORTESÃO, Armando. Portugaliae Monumenta Cartographica. Lisboa: Imprensa Nacional : Casa da Moeda, 1987. v.6.
HOLANDA, Sérgio Buarque (org). História Geral da Civilização Brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand, 1989. v.1.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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