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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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MAPA DE PARTE DO RIO DE JANEIRO E ESPÍRITO SANTO, DESCREVENDO OS CAMPOS DE GOYTACAZES

O mapa com o título atribuído como “[Mapa de parte do Rio de Janeiro e Espírito Santo, descrevendo os Campos de Goytacazes]” foi feito por volta do século XVIII por autor anônimo.

Ele mostra Campos de Goytacazes – campos cheios de gado, além de mostrar São Salvador, paróquia que depois veio pertencer a Campos; a Ilha da Âncora, a Ilha de Santana, o Cabo de São Tomé; a lagoa da Paraíba; a Vila da Paraíba; o rio Paraíba do Sul; o rio Iritiba; a Ilha de Guarapari; o rio Guarapari; a Ilha Escalvada e a Ilha do Espírito Santo.

A região de Campos era, originalmente, habitada pelos índios Goytacazes, que significa, em tupi-guarani, para alguns, "corredores da mata", para outros, "índios nadadores", definição que bem se enquadra a essa nação, habitante das lagoas.

Campos dos Goytacazes começou a ser desbravada com a doação da Capitânia de São Tomé a Pero de Góis da Silveira, que havia chegado ao Brasil com a expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza, em 1530, e posteriormente a seu filho Gil de Góis. No entanto, devido aos constantes ataques dos Goytacazes, que haviam destruído a população da Vila da Rainha, fundada em 1538, e depois Vila de Santa Catarina das Mós, próxima ao Rio Itabapoana, Pero Góis da Silveira acabou abandonando a povoação e retornando a Portugal, em 1570.

A efetiva colonização da região somente iria começar em 1627, quando o Governador-Geral, Martim Corrêa de Sá, doou algumas glebas da capitânia a sete capitães: Miguel Maldonado, Miguel da Silva Riscado, Antônio Pinto Pereira, João de Castilhos, Gonçalo Corrêa da Sá, Manuel Corrêa e Duarte Corrêa, que construíram, em 1633, currais para gado, próximos à Lagoa Feia e à Ponta de São Tomé em reconhecimento pelo seu heroísmo nas lutas contra os índios e piratas na colonização das terras.

Dos sete capitães, apenas Miguel Riscado se estabeleceu nas terras recebidas. Os demais alugaram as áreas que lhes cabiam a colonos ou as doaram aos padres jesuítas e beneditinos.

O Governador do Rio de Janeiro, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, em 1648, conseguiu a doação das terras da Capitânia de São Tomé, que, desde 1615, passara a chamar-se Capitânia da Paraíba do Sul, para seus filhos Martim Corrêa de Sá e Benevides, Primeiro Visconde de Assecas, e João Corrêa de Sá. Em poucos anos, a povoação prosperou, sendo elevada à categoria de vila em 1677. Os limites originais da Capitânia não foram respeitados e os impostos e taxas criados fizeram com que muitos colonos fossem expulsos.

Iniciou-se, assim, um longo período de violentos conflitos de terras que envolviam, de um lado, os Assecas e, de outro, os descendentes dos sete capitães e criadores de gado. Foram cem anos de domínio dos Assecas, até que, em 1748, explodiu um levante chefiado pela fazendeira Benta Pereira que acabou por derrotá-los. Não tardou, porém, a repressão ao levante, ordenada pelo Governador do Rio de Janeiro, que devolveu o poder aos derrotados.

Finalmente, em 1752, apesar dos protestos dos Assecas, a Capitânia do Paraíba do Sul foi incorporada à Coroa Portuguesa. Um ano depois, foi anexada à Capitânia do Espírito Santo, somente voltando a pertencer à Província do Rio de Janeiro em 1832. No ano seguinte, foi criada a Comarca de Campos e, em 28 de março de 1835, a Vila de São Salvador foi elevada à categoria de cidade com o nome de Campos dos Goytacazes, e agora os canaviais se estendiam pela planície, entre o Rio Paraíba do Sul e a Lagoa Feia.

Com a riqueza trazida pela cana-de-açúcar, a cidade cresceu e se desenvolveu; as construções de sobrados e solares confortáveis se espalharam por todas as áreas próximas ao Rio Paraíba do Sul. Uma poderosa aristocracia agrária surgiu da atividade açucareira e passou a influenciar na política e no poder do Império.


REFERÊNCIAS

CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1957. Tomo II.
PINTO, Alfredo Moreira. Apontamentos para o Diccionario Geographico do Brazil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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