BNDigital

A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

< Voltar para Dossiês

MAPPA DA COMARCA DO RIO DAS MORTES PERTENCENTE A CAPITANIA DE MINAS GERAIS QUE MANDOU DESCREVER O ILUSTRÍSSIMO E EXCELENTÍSSIMO SENHOR D. ANTÔNIO DE NORONHA GOVERNADOR E CAPITÃO GENERAL DA MESMA CAPITANIA SEGUNDO AS MAIS EXCTAS INFORMAÇOENS

O mapa com o título “Mappa da Comarca do rio das Mortes pertencente a Capitania de Minas Gerais que mandou descrever o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor D. Antônio de Noronha Governador e Capitão General da mesma Capitania segundo as mais exctas informaçoens ”, foi feito por José Joaquim da Rocha em 1777.

O mapa mostra a região da comarca do rio das Mortes e seus limites com as comarcas de Sabará e de Vila Rica; e com parte das capitanias do Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás. Destacando a serra da Canastra; o rio São Francisco e o rio Grande; o Arraial do Jacuí; o rio Pardo; “o primeiro e o segundo regimentos de São Paulo”; “estrada de São Paulo para Goiás”; a serra do Mogiguaçu; “registro de ouro fino”; o rio do Peixe; a serra da Araquamada; o rio Jaguari; a serra da Mantiqueira; o rio Sapucaí; “o regimento de Itajubá”; o rio Preto; Lavras; o rio das Mortes; a Vila de São João; a Vila de São José Prados; o rio Pará; a serra Negra; o rio Paraopeba; o rio Xopotó e o rio Paraibuna.

Deve-se ressaltar que os escritos e mapas de José Joaquim da Rocha são fontes e objetos amplamente utilizados pela historiografia referente ao período colonial brasileiro. Este fato e o semi-anonimato em que permanece o envolvimento do autor como testemunha no processo da Inconfidência Mineira e seu contato muito próximo com Tiradentes, tem sido objeto de estudo de alguns historiadores, como de Maria Efigênia Lage de Resende.

A autora descreveu como cartógrafo, José Joaquim da Rocha exercia atividade militar, enquadra, na Colônia, no prosseguimento de atividades estratégicas para o domínio do espaço territorial das Minas, tarefa indispensável à sua administração e controle. Neste sentido, traçar estratégias ou avaliar as dificuldades de domínio sobre o território conquistado foram tarefas para as quais, desde, pelo menos, o século XV, a confecção de mapas mostrou, continuamente, a sua utilidade. Algumas ordens régias demonstram que a questão da cartografia das Minas foi, desde muito cedo, uma preocupação metropolitana.

José Joaquim da Rocha escreveu que “as Minas Gerais tomaram este nome por serem suas faisqueiras continuadas, em as quais se acha ouro com mais ou menos conta”(p.78).

A data e o local exatos da descoberta de ouro nas Gerais são incertos, mas é certo que a descoberta dos veios auríferos resultou das expedições dos paulistas, que por isso, se tornaram, ao mesmo tempo figuras de interesse e reprovação da Coroa.

A exploração do ouro de aluvião mostrou-se rapidamente lucrativa. Em 1702, criou-se o Regimento dos Superintendentes, Guarda-Mores e Oficiais Deputados para as Minas de Ouro. A principal inovação do Regimento foi a criação da Intendência das Minas em todas as Capitanias que houvesse extração de ouro, instituição dotada de funções múltiplas, sobretudo as de ordem fiscal e de repressão ao contrabando. Abaixo das Intendências vinham as Casas de Fundição, onde se deveria recolher, fundir em barras e “quintar” – retirar o quinto da Coroa – todo o ouro extraído. Feito isso, o ouro podia circular a vontade, e havia mesmo a possibilidade de circulação de ouro em pó, restrito à capitania, dada a impossibilidade de alguns mineradores juntarem ouro suficiente para formar barra.

O historiador Ronaldo Vainfas lembra que havia dois tipos de extrações auríferas: a das lavras – jazidas organizadas em grande escala e com aparelhamento para a lavagem do ouro; e a dos faiscadores, que empregavam somente a bateia, o cotumbê e ferramentas toscas, reunidos num ponto franqueado a todos, cada qual trabalhando por si. Os faiscadores eram homens livres e pobres, havendo mesmo escravos entre eles, que entregavam quantia fixa ao senhor e guardavam o eventual excedente.

Cabe ressaltar que a abrangência geográfica da mineração estende-se desde a Serra da Mantiqueira, na capitania de Minas Gerais até a região de Mato Grosso e Goiás, sem contar com os veios insignificantes em São Paulo ou na Bahia. Todavia, nenhum deles superou os de Minas Gerais, onde foi criado o maior número de “registros”, postos fiscais incumbidos de receber o “direito de entrada” dos produtos que passavam às Minas, fossem originários do reino ou de outras capitanias.

É importante mencionar que foram criadas estradas específicas para a região, como o Caminho dos Currais do Sertão, para a Bahia; o Caminho Velho, que ligava o rio das Mortes e o arraial de Vila Rica aos portos de Santos ou Parati, passando pelo interior de São Paulo; e o Caminho Novo para o Rio de Janeiro, passando pelos rios Paraíba, Paraibuna, Irajá e Iguaçu.


REFERÊNCIAS

CANO, W. Economia do ouro no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1969.
CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1957. Tomo II.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Metais e Pedras Preciosas. In: HGCB. 4.ed. São Paulo: Difel, 1977. v.2, p.259-310.
PINTO, Alfredo Moreira. Apontamentos para o Diccionario Geographico do Brazil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

Parceiros