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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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PLANO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO COM A PARTE MAIS ESSENCIAL DO SEU PORTO E TODOS OS LUGARES FORTIFICADOS

O mapa com o título “Plano da cidade do Rio de Janeiro com a parte mais essencial do seu porto e todos os lugares fortificados” foi feito por José Correa Rangel de Bulhoens em 1796. Traz a seguinte inscrição no final do mapa: “Este plano foi ellevado e sondado pelo Marechal Jaques Funck em 1768, e augmentado segundo o novo plano da cidade ellevado em 1791”.

Ele descreve a baía de Guanabara, o Rio de Janeiro e seus arredores. Mostra a praia de Copacabana, a Ilha da “Cotumduba”, a ponta do Leme, a ponta do Pão de Açúcar, a Praia Brava de São João, fortaleza de São João, praia do Porto, Penedo da Urca, a praia do Suzano, o caminho da Praia Vermelha, a praia de Botafogo, o caminho da Lagoa, o rio Catete, o caminho das Laranjeiras, a pedra do Flamengo, a ponta da Glória, a Igreja Nossa Senhora da Glória, Arquedutos da Carioca, a praia da Glória, o Passeio Público, a praia do Boqueirão, a Igreja de Santa Luzia, a ponta de Santa Luzia, a fortaleza de Villegagnon, o Castelo de São Sebastião, o calabouço, a praia de D. Manuel, o Chafariz e o cais do Palácio, o trapiche da Alfândega, a praia dos Mineiros, a fortaleza da Ilha das Cobras, São Bento, Prainha, o trapiche de São Francisco, Valonguinho, o trapiche de Nossa Senhora da Saúde, a Ilha das Pombas (armazém de pólvora), o Saco (enseada) da Gamboa, o saco do Alferes, a Quinta de São Cristóvão, a capela e o Monte de Santa Tereza, o caminho de São Diogo, o cortume, o rio da Ponta da Pedra, o rio Comprido, a estrada de Indurahi, Mata Porcos, o caminho de Mata Cavalos, o Monte de Pedro Dias, o campo de Santana e o monte de Santo Antônio. Do outro lado da baía da Guanabara, encontramos a cidade de Niterói, onde destacam as seguintes localidades: a praia de Imbui, a fortaleza da praia de Fora, a fortaleza de Santa Cruz, a fortaleza do Pico, a prainha de Dentro, a prainha de Fora, a ponta de Jurujuba, a praia da Vargem, a praia da Sambaguaia, o monte do Cortume, o monte da Viração, o monte da Bica, a praia do Aarão, a praia de Charita, a capela de São Francisco Xavier, o monte do Cavalão, a praia do Carahi, a praia das Flechas, a capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, a praia de São Domingos, o caminho para Freguesia de São João de Carahi e a praia Granui.

No que tange à contextualização histórica, devemos salientar que Nicolau Durand de Villegagnon (1510-1572) recebeu de Henrique II o título de vice-almirante da Bretanha. Em 1550, ele traçou planos para estabelecer uma colônia na baía de Guanabara, contando com o apoio do almirante Coligny, chefe do partido protestante, inspirou a política colonial da França e defendeu a idéia de um estabelecimento permanente e fortificado e permanente na América do Sul, além disso, vislumbrava um lugar onde os huguenotes viveriam livres da perseguição religiosa. De acordo com a historiadora Armelle Enders a baía do Rio de Janeiro prestava-se a este projeto, pois ficava situada na rota do estuário do rio da Prata e, conseqüentemente, do Alto Peru e de Potosí, cujas minas eram exploradas pelos espanhóis desde 1545.

Houve contribuição de Henrique II que incentivou a conquista, segundo Sérgio Buarque de Holanda, o rei cedeu a Villegagnon recursos financeiros, duas naus bem artilhadas, além de abundante artilharia, pólvora e tudo quanto fosse preciso para a construção e defesa de um forte. Os franceses tiveram o apoio dos índios Tupinambás que, junto com outras nações indígenas, guerrearam contra os portugueses. A união das tribos indígenas contra os portugueses ficou conhecida como a Confederação dos Tamoios.

Em 1555 fundou-se a França Antártica. A partir desta data, Villegagnon ganhou o título de vice-rei do Brasil, e ordenou a construção do forte de Coligny. A França Antártica viveu dilacerada pelas disputas teológicas em torno da eucaristia. Os católicos defendiam a eucaristia como real transubstanciação do corpo de Cristo, e os huguenotes consideravam-na apenas o seu valor simbólico. Segundo Ronaldo Vainfas, as querelas finalizaram com a perseguição do credo reformado e a morte dos dissidentes.

Os escritos protestantes consideravam a tolerância religiosa inicial como meio de reunir capitais e ludibriar os calvinistas, os católicos, em contrapartida, acreditavam na sinceridade e na tolerância de Villegagnon. Ele regressou à França para explicar os acontecimentos, permanecendo seu sobrinho, Bois-le-Comte, no comendo da França Antártica.

É importante destacar que Mem de Sá, o terceiro Governador Geral, veio para o Brasil com três metas bem definidas: pacificar a administração, atenuando os conflitos entre indígenas e colonos; restabelecer as relações com o Bispado, estremecidas durante o governo anterior e expulsar os franceses do Rio de Janeiro. Em um breve espaço de tempo atingiu as duas primeiras metas. A expulsão dos franceses só se efetivou em 1567.

A primeira expedição organizada por Mem de Sá contra os franceses ocorreu em 1560, com a destruição do forte de Coligny, eles foram expulsos temporariamente da baía de Guanabara. Em 1563 a Metrópole enviou reforços consubstanciados na expedição de Estácio de Sá. Em 1º de março de 1565, Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que serviria inicialmente de base na luta contra os franceses e seus aliados indígenas.

A luta com os franceses prosseguiu até 1567, quando Estácio de Sá recebeu reforços militares e ajuda de índios, chefiados por Araribóia, adversário dos tamoios e aliado dos portugueses. Por seu lado, os jesuítas, liderados por Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, pacificaram os índios tamoios de São Vicente, fazendo com que retirassem seu apoio aos franceses, em troca da promessa de não serem mais atacados e nem escravizados. Sem esse apoio, os franceses diminuíram a sua resistência, sendo definitivamente expulsos do Rio de Janeiro.

Em 1572, após a morte de Mem de Sá, o governo português dividiu o Governo Geral do Brasil em dois: o do norte, com sede em Salvador, e o do sul, com sede no Rio de Janeiro. Pretendia, com essa medida, organizar melhor a administração da Colônia, fortalecer a ocupação do Rio de Janeiro e de São Vicente, sempre ameaçadas pelos franceses e espanhóis, e estimular a penetração para o sul e o interior. Sem ter atingido plenamente seus objetivos, a Coroa portuguesa resolveu, em 1578, unificar, novamente, a administração da Colônia.

Após a morte do fundador, o novo capitão e governador da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi outro parente de Mem de Sá, cuja família – Correia de Sá – dominou o Rio de 1565 aos anos 1660.

Com o fim das ameaças e o crescimento da população, São Sebastião se estendeu pouco a pouco. Surgiram casas nos morros vizinhos de São Bento, Santo Antônio, da Conceição.

No século XVII, diluiu-se a oposição entre a cidade alta e a cidade baixa, típicas de outras fundações portuguesas. As primeiras ruas ligavam um morro a outro, desenhando um quadrilátero do qual a cidade levaria muito tempo para escapar. Dessa forma, se esboçou a rua Direita (atual Primeiro de Março), entre o pé do Castelo e o de São Bento, onde em 1628, os beneditinos erigiram um convento. Em 1641, a parte urbanizada se estendeu até a rua da Vala (atual Uruguaiana). Durante muito tempo, esta última não passava de um fosso concebido para drenar o pântano estagnado ao pé do morro de Santo Antônio, assim como imundícies da povoação.

Ao longo do século XVIII, o centro de gravidade da América portuguesa desviou-se do Nordeste para o Sudeste, e o Rio de Janeiro se impõe pela vontade real, como a principal cidade brasileira. Cabe ressaltar que seu progresso aconteceu em virtude de sua função militar, uma vez que a partir do Rio de Janeiro que os portugueses colonizaram o sul do Brasil e dirigiram as hostilidades contra os espanhóis do rio da Prata. A cidade também repousa sobre a descoberta do ouro de Minas Gerais, como rota obrigatória.

Com a elevação do Rio de Janeiro à dignidade de capital, o coração da cidade se fixou duradouramente ao redor do largo da residência dos vice-reis, desembocando na rua Direita.

Na segunda metade do XVIII, o Rio de Janeiro ultrapassou o recinto imaginário formado por seus quatro morros originais. As transformações da cidade eram também de ordem intelectual. Após alguns anos do aparecimento de sociedades eruditas em Lisboa , mentes ilustradas do Rio de Janeiro abriram na cidade Academias mais ou menos efêmeras.


REFERÊNCIAS

ADONIAS, Isa. Mapa: imagens da formação territorial brasileira. Rio de Janeiro: Odebrecht, 1993.
BRASIL, Assis. Villegagnon, paixão e guerra na Guanabara: da França Antártica à fundação do Rio de Janeiro. 2.ed. Rio de Janeiro: Imago, 1999.
ENDERS, Armelle. História do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. “Franceses, holandeses e ingleses no Brasil quinhentista” In: HGCB. 7.ed. São Paulo: Difel, 1985. t.1, v.1, pp. 147-167.
MARIZ, Vasco. Villegagnon e a França Antártica: uma reavaliação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira : Biblioteca do Exército editora, 2000.
SILVA, Cyro. Franca Antártica. Rio de Janeiro: s.n, 1980.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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