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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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PLANTA DA NOVA POVOAÇÃO DE CAZALVASCO

O mapa com o título “Planta da nova povoação de Cazalvasco. Situada na margem oriental, ou direita, do Rio Barbados na longitude de 317º 44’, contados do meridiano da Ilha do Ferro e latitude austral de 15º19’46””, foi feito no ano de 1782. De autor desconhecido, sabe-se que foi levantado por Luis de Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres, “Governador e Capitão General das Capitanias do Matogrosso, e Cuyabá, e nos limites dellas encarregado da Comissão das Reaes demarcaçõens”.

A planta de representa a povoação vem acompanahda de uma legenda que indica:

A) “Capela Real de N. Srª da Esperança e São Pedro”,

B) “Caza de Rezedencia do Governador quando vai assistir naquela povoação”,

C) “Quartel do Official Comde; e fábrica detecidos de Algodão”,

D) “Quartéis da Tropa destacada e armazéns de depozito”,

E) “Quartéis dos Officiaes”,

F) “Hospital”,

G) “Cazas dos Índios que vieram de Espanha, emigrados para estes domínios”,

H) “Curraes da Fazenda de gado Uacum, e Cavalour, da Fazenda Real”,

I) “Cazas dos moradores”,

L) “Cemitério”,

M) “Cavalherices da tropa”,

N) “Olaria” e,

O) “Caza das Canoas”.

Luiz de Albuquerque, militar português, foi nomeado Governador e Capitão General de Mato Grosso e Cuiabá, no Brasil, pelo Marquês de Pombal. Foi o 4º Governador e Capitão General da Capitania de Mato Grosso, tomando posse em 13 de dezembro de 1772 e só deixando o cargo quase 17 anos depois, quando lhe sucedeu o seu irmão João de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres.

Durante o seu governo, construiu o forte Coimbra e o Forte Príncipe da Beira, fundou Albuquerque [Corumbá], Vila Maria [Cáceres], Casalvasco, Salinas e Corixa Grande, consolidando o domínio Português. Batizou diversas povoações, que foi fundando, com nomes iguais aos das terras da sua cidade natal, Beira Alta. São exemplos disso, Ladário, Sátão, Casal Vasco, Viseu e, num contexto semelhante, Albuquerque.

O principal objetivo do governo português, nesse momento, era alargar suas fronteiras para o ocidente, tomando terreno dos espanhóis. O procedimento era normal na época e o Governo mantinha um silêncio cúmplice que dava cobertura a estes avanços. Foi um jogo de estratégias desenvolvido ao longo de quase duas décadas, instalando Fortes em pontos chaves mais a ocidente e evitando, assim, a conquista do território português por parte dos espanhóis.

Em relação à região de Mato Grosso, Isa Adonias afirma que, o ouro está na origem do devassamento e conquista do espaço físico que hoje constitui o Centro-Oeste brasileiro, sendo que, pelo Tratado de Tordesilhas, o território dos atuais estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ficava fora da zona de soberania portuguesa.

Segundo Maria de Fátima Costa, sonhos de riquezas marcaram desde o início a conquista da região da bacia do Rio Paraguai. Certezas de riquezas marcaram a presença dos primeiros viajantes. As viagens de entrada àquela região têm um sentido único: alcançar as riquezas andinas. Tudo começou com a viagem do famoso cosmógrafo e primeiro piloto do Rei da Espanha, Juan Dias de Sólis que, em 1515, adentro as águas do Paraná-Guaçu, depois conhecidas pelo nome do desbravador, rio Sólis. Sólis e seus companheiros foram mortos e comidos por índios Guarani, na costa do Uruguai à vista dos que estavam na caravela.

Penetrada pela primeira vez por Aleixo Garcia, um dos sobreviventes da expedição de Sólis, e depois de Caboto, a bacia do Rio Paraguai terá suas paisagens, rios e habitantes descritos por aqueles que, a partir de Pedro de Mendonza, na busca da Serra da Prata e do Rei Branco avançam adentrando o país horizontal do Pantanal. Inicialmente é Juan de Ayolas que consegue chegar às fronteiras incaicas para, no regresso, ser morto por indígenas. Depois seguem Irala, Cabeza de Vaca, Hermando de Ribeira e, novamente Irala, que finalmente alcança por esses caminhos o alto Peru, hoje Bolívia, já submetido por Pizarro.

Depois de descobrir o já descoberto e ter seus sonhos pulverizados, aos espanhóis do Prata restava ocupar e povoar a região conquistada, assegurando aquele território como caminho para o Alto Peru. Em fevereiro de 1558, Martinez de Irala envia o capitão Núnfrio de Chaves rio Paraguai acima, à região de Xarayes, lugar de passagem às terras peruanas, com o objetivo de fundar em meio aos índios amigos aquela que seria a primeira cidade em terras hoje pantaneiras. Essa fundação fazia parte do projeto de Irala de manter um caminho habitado até o Peru. Contudo, isso não acontece; Chaves seguindo sua própria determinação, resolve prosseguir até Lima e, no entorno, em pleno coração das terras chiquitanas, funda em 1561 a primeira Santa Cruz de la Sierra como capital da nova província de Chiquitos. A fundação de Santa Cruz de la Sierra motivou uma mudança de eixo na ocupação do Paraguai. Seduzida ainda pelos sonhos de riquezas, quase toda população de Assunção quis transferir-se para a nova cidade mais próxima do Peru.

Embora tenha tomado posse dessa terra em “nome do rei Dom Felipe”, ali não foi fundada nenhuma cidade. Somente anos mais tarde é que será assentada uma cidade em terras pantaneiras; porém o lugar escolhido não foi a Província de Xarayes. Em 1593 foi fundada Santiago de Jerez na região dos Itatins onde, logo depois, também se estabelecem os jesuítas com suas Missões, inaugurando outra fase da história pantaneira.

REFERÊNCIAS

ADONIAS, Isa. Mapa: imagens da formação territorial brasileira. Rio de Janeiro: Odebrecht, 1993.
CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1957.
COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente. O pantanal entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo: Estação Liberdade : Kosmos, 1999.
HOLANDA, Sérgio Buarque (org). História Geral da Civilização Brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand, 1989. v.1. p. 29-34.
NUNES, José Maria de Souza e ADONIAS, Isa. Real Forte Príncipe da Beira.Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1985.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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