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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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“S. SALVADOR”, “T’NEEMEN VAN DE SUYKER PRYSEN ENDE BAY DE TODE LOS SANTOS” E “WAIHAFFTIGE ABBILDUNG VAN UNNEHMUNG DER STADT S. SALVADOR IN DER BAYA DE TODOS LES SANTOS”

O mapa com o título “S. Salvador”; o com o título em holandês “T’Neemen van de Suyker Prysen ende Bay de Tode los Santos”; e por fim, o com o título holandês “Waihafftige abbildung van unnehmung der stadt S. Salvador in der Baya de Todos les Santos” são de autor anônimo e foram produzidos em 1627.

Ambos mostram a Invasão Holandesa em São Salvador, na Baía de Todos os Santos, ocorrida em 1624. Além disso, aparece no primeiro e último mapas o Forte de Santo Antônio; e no segundo, há a representação da apreensão que o almirante holandês Pedro Pietersen Heyn fez num carregamento de açúcar num navio ancorado nesta Baía.

A fim de melhor compreender a importância destes mapas na história do Brasil, cabe destacar o que foi o Domínio Holandês no Nordeste Açucareiro.

Segundo o historiador Ronaldo Vainfas, as chamadas invasões holandesas no nordeste do Brasil estiveram profundamente vinculadas à União Ibérica e à guerra de independência que as Províncias Unidas dos Países Baixos moveram contra a Espanha. As disputas interferiram no comércio entre os Países Baixos e Portugal, sobretudo, na compra de sal para a indústria de pesca holandesa, além disso, os judeus de Amsterdã participavam da produção e do comércio de açúcar no Brasil.

Ao término da trégua hispano-holandesa (1609-1621), este comércio de sal e açúcar estava comprometido. Com isto, surgiu a Companhia das Índias Ocidentais, em defesa desses interesses, o qual recebeu o monopólio do comércio, navegação e conquista da área americana sob controle ibérico.

A primeira tentativa de conquista holandesa no Brasil ocorreu em 1624, em Salvador, a capital da Colônia. Esta invasão durou um ano, e apesar do fracasso na Bahia, os holandeses foram amplamente recompensados, 1628, com a apreensão, nas Antilhas de um carregamento de prata americana para a Espanha. Dessa forma, os recursos obtidos com este ato de pirataria serviram para financiar uma segunda tentativa, desta vez contra Pernambuco.

Os holandeses chegaram em Pernambuco em 1630 com uma esquadra de 70 navios, dominando Recife e Olinda sem maiores problemas, apesar dos preparativos de defesa efetuados por Matias de Albuquerque, governador de Pernambuco.

O historiador Evaldo Cabral de Mello dividiu a dominação holandesa em três períodos distintos. O primeiro, entre 1630 e 1637, teria se caracterizado pelo impasse militar, com os holandeses sitiados em Olinda e a resistência lusa imobilizada por falta de recursos. A partir de 1632, os holandeses começaram expedições destinadas a queimar engenhos, roças, canaviais e a amedrontar a população colonial. Conquistaram a Paraíba, o Rio Grande do Norte e Itamaracá. Este período, portanto, foi marcado pela guerra de resistência: enormes baixas nos exércitos luso-espanhóis, fuga dos senhores de engenho para a Bahia, ocupação holandesa do território entre o rio São Francisco e Ceará, e finalmente, pela trégua luso-holandesa de 1637 a 1641.

O segundo período, entre 1637 e 1645, coincide com o governo de João Maurício de Nassau, marcado por uma paz precária, interrompida por ataques promovidos pelos senhores refugiados na Bahia contra engenhos e povoações. Houve um expressivo alargamento do território, incluindo Sergipe, e parte da África, marcando, assim, a entrada holandesa no valioso tráfico de escravos. Cabe ressaltar que durante o governo de Nassau, Recife tornou-se a cidade mais cosmopolita do Brasil, além disso, este tornou-se um mecenas, patrocinando a vinda de artistas, naturalistas, matemáticos e médicos que investigaram a natureza e a paisagem nordestina. E ainda, no seu governo a preocupação com a reorganização da produção açucareira se entrelaçou com as operações militares, garantindo assim, o funcionamento da economia e da segurança. Entretanto, o principal problema de Nassau residia no conturbado convívio entre calvinistas, católicos e judeus, como também os cristãos novos portugueses.

Cabe destacar as contradições do Brasil Holandês. Ao longo do tempo, tornaram-se claras as divergências entre Nassau e a Companhia das Índias Ocidentais, esta buscava objetivos mercantis a curto prazo, enquanto ele considerava primordial encontrar uma conciliação holandesa no nordeste. Portanto, a estabilidade da conquista dependia dessa comunidade acuada por dívidas e antagonismos religiosos. Com isto, a independência de Portugal em face da Espanha, em 1640, tornou-se mais um problema para o Domínio Holandês.

O terceiro período de dominação deu-se entre 1645 e 1654, correspondendo às guerras de Restauração e à derrota definitiva dos holandeses. Para alguns historiadores, os holandeses não interiorizaram a conquista, concentrando-se nos centros urbanos, e ainda, apesar da superioridade bélica, os holandeses se encontravam em desvantagem no âmbito cultural. Uma vez que os portugueses além de consolidarem seu vernáculo nas comunidades, haviam fincado profundas raízes de colonização que não foram eliminadas com a derrotada militar de 1630.

De todo modo o âmbito da resistência se ativou com a reconquista do Maranhão, em 1643, e a insurreição de 1645 ganhou ênfase com o endividamento dos plantadores de cana. Seja como for, o declínio dos preços do açúcar foi o grande catalisador da crise do Brasil Holandês. Lembrando que a aliança luso-brasileira, dos moradores de Pernambuco e dos exilados na Bahia, contribuiu para a Restauração Pernambucana. Podemos dizer que domínio holandês no Brasil terminou em 1654, com a Capitulação da Campina da Taborda, todavia, a formalização diplomática da vitoriosa insurreição ocorreu somente em 1661, com a assinatura da Paz de Haia.

REFERÊNCIAS

ADONIAS, Isa. Mapa: imagens da formação territorial brasileira. Rio de Janeiro: Odebrecht, 1993.
BOXER, C. R. Os Holandeses no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1961.
MELLO, E. C. Olinda Restaurada. 2.ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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