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A Cartografia Histórica: do século XVI ao XVIII

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TERRA BRASILIS

O mapa com o título “Terra Brasilis”, segundo os Portugaliae Monumenta Cartográfica, é de autoria de cartógrafo português Lopo Homem, auxiliado por Pedro e Jorge Reinel e foi feito no ano de 1519.

Este mapa que faz parte do chamado “Atlas Miller”, mostra a costa do Brasil e parte do Atlântico central, desde as duas largas aberturas do Amazonas até o Prata e ainda, parte da costa que se lhe segue ao sul.

No topo do mapa há uma legenda de caráter histórico, característica da cartografia portuguesa do século XVI, que foi traduzida do latim para o português por Jaime Cortesão, em 1935, que diz: “Esta carta é da região do grande Brasil e do lado ocidental alcança as Antilhas do Rei de Castela. Quanto à sua gente, é de cor um tanto escuro. Selvagem e crudelíssima, alimenta-se de carne humana. Este mesmo povo emprega, de modo notável, o arco e as setas. Aqui [há] papagaios multicores e outras inúmeras aves e feras monstruosas. E encontram-se muitos gêneros de macacos e nasce em grande quantidade a árvore que, chamada brasil, é considerada conveniente para tingir o vestuário com a cor púrpura”.

Vários topônimos aparecem por toda a costa, da altura do Maranhão ao Cabo de Santa Maria. Armando Cortesão, destacou do norte para o sul, os seguintes: Almadyas, R. dos escpuos, G. de todolos santos, R. dos fumos, R. de Joham de Lixboa, R. Segundo, R. danobom, baya, Pomta das correntes, ponta, C. daloeste, terra de Sam Vicete, terra dos fumos, b. dos praçes, C. do palmar, terra da pescarya, ponta dos praçes, G. dos negros, monte aly, ponta preta, aguada, G. de Sam Lucas, C. branco, ponta dos fumos, baia dos aRafes, C. corco, as serras, R. de sam myguell, baia das tartarugas, ponta pmrª, sam Roque, c. do praçel, oratapipye, pta pinhom, baia de pitiacua, de mey cam, c. despichell, R. das pedras, R. das virtudes, pernambuquo, R. do estremo, C. fremoso, Santo Aleyxo, R. prymeyro, R. segumdos, R. de Sam myguell, serra de Santo Antônio, R. alagado, R. de sam frco., uazabares, R. de pereyra, R. das canafystolas, R. Real, R. de sam geronymo, R. da duuyda, monte fragoso, G. de todolos stos, R. de Joham guyo, R. da praya, serra alta, R. de Sto agostinho, y. de santãtã, G. da praya, R. das ostras, R. de santana, R. dos cosmos, R. das virges, porto seguro, R. do Brasyll, momte pasquall, y. de Stã barbora, R. de sam gorge, C. dos bayxos dabrolho, baia de Santa Luzia, C. de sam Johã, bayxos dos pargos, C. de santhome, a pescaria dos pargos, b. do salvador, y. de sã Roq, G. do aRacife, r. do pouso, R. delgado, G. fremosa, as serras de anta luzia, R. de Janeyro, R. de Janrº, y. de Cabo fryo, os picos fragosos, o sombreyro, R. do estremo da terra de janrº, y. escaluadas, paso das almadas, os mangaes,, y. de boabista, G. dos Reys, y. de santa craca, praya, y. darea, y. fragosa, ponta fragosa, y. das couues, R. de curpare, Sierras de Santanha, y. de vitorya, as ferraryas, R. de sam Viçente, y. de sam seb., y. de gayora, aldea de grigorio, y. branca, G. darea, R. de canenea, y. abitara, ponta do padrã, R. alagado, R. de s. dig, baia das voltas, R. dos dragos, Rio do estremo, y. d ydo, G. do Repairo.

Duas bandeiras portuguesas, uma no norte e outra no sul, reivindicam para Portugal a soberania sobre a vasta zona intermediária. Também são representados os navios, naus e caravelas, perfeitamente diferenciados.

No interior do mapa avultam as iluminuras – que, segundo Armando Cortesão, a partir do século XVI são predominantemente vivas, dando a impressão de realidade, através principalmente da perfeição do desenho e da riqueza do colorido – figurando a população indígena do Brasil perfeitamente caracterizada, e animais como papagaios, araras, macacos e abundante vegetação representada pela árvore de pau-brasil, sua extração e transporte.

Este se constitui no primeiro mapa onde aparece a representação do comércio português.

Segundo Ronaldo Vainfas, o episódio do descobrimento do Brasil em 22 de abril de 1500 sempre foi motivo de grande polêmica na historiografia. A partir da Segunda metade do século XIX, e durante boa parte do século XX, a polêmica girou em torno das questões da primazia e da intencionalidade portuguesas no ato da descoberta. Importava saber em segundo lugar, se teria ocorrido intencionalidade lusitana na descoberta ou se, pelo contrário, havia sido ela casual, resultado de um desvio de rota na viagem da armada de Cabral para a Índia causado por tempestade no Atlântico, na altura da costa ocidental africana.

Após o descobrimento do Brasil, em 1500, a coroa portuguesa enviou durante três décadas, várias expedições encarregadas de reconhecer o litoral brasílico. Tais viagens ficaram conhecidas ora como expedições de reconhecimento, ora de exploração e, ainda, como expedições guarda-costas. Na verdade, a maioria dessas expedições fez um pouco de cada coisa: identificação da geografia para fins cartográficos e de navegação, escambo de pau-brasil com os índios, fundação de feitorias e defesa da costa contra a crescente presença dos entrelopos franceses, rivais no escambo do pau-brasil.

Quanto ao pau-brasil, este teve importância extraordinária na história do Brasil. Importância inclusive simbólica, pois, segundo Frei Vicente, foi por causa do “pau de cor abrasada e vermelha” que o nome Brasil foi dado à terra descoberta, desalojando o de Terra de Santa Cruz – o que, para o franciscano, sinalizava o triunfo do diabo nas plagas desde então brasílicas.

O fato é que o comércio do pau-brasil foi sem dúvida, a principal atividade econômica desenvolvida pelos portugueses nas terras descobertas por Cabral até cerca de 1530. Sua importância estava na tintura da madeira para manufaturas têxteis européias.

A importância do pau-brasil foi tão expressiva, e tão elevados os lucros que propiciava, que chegou-se a consagrar na historiografia brasileira, a noção de “ciclo do pau-brasil” como o primeiro dos ciclos econômicos de nossa história.

É importante sublinhar que o papel dos índios foi fundamental no processo de exploração do pau-brasil, a começar pelo fato de que eram eles que cortavam a madeira e levavam para os navios. O trabalho era árduo considerando-se o tamanho das árvores, a espessura dos troncos e seu peso. Em troca desse serviço, os nativos recebiam facas, espelhos, miçangas, tesouras, agulhas, foices e, decerto, machados de ferro para cortarem os troncos.

Do lado dos europeus, o negócio do pau-brasil estimulou a fundação de feitorias em toda a costa brasílica, sobretudo pelos portugueses, e estimulou desde cedo a regulamentação da coroa lusitana.


REFERÊNCIAS

CORTESÃO, Armando. Cartografia e cartógrafos portugueses os séculos XV e XVI. Lisboa: Seara Nova, 1935.
CORTESÃO, Armando. Portugaliae Monumenta Cartographica. Lisboa: Imprensa Nacional : Casa da Moeda, 1987. v.6.
CORTESÃO, Jaime. História da expansão portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional : Casa da Moeda, 1993.
CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1957.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

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