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Cidade Marina – a miragem de Oscar Niemeyer para o sertão mineiro

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Oscar Niemeyer e sua equipe técnica

por Gabriel Oliveira
Desde o início da projeção de Marina em contexto nacional, o nome de Oscar Niemeyer orbitava como uma das grandes marcas para a exibição do projeto. Muitas vezes sua presença era expressa com realce já nas manchetes dos periódicos, como verificado nas matérias “Niemeyer e a futura cidade de Marina” (Revista da Semana, 1955); “Niemeyer fala da futura cidade Marina” (Correio da Manhã, 1955); “Interesse em Londrina pela cidade a ser construída por Niemeyer” (A Noite, 1955f); “Marina: uma cidade planejada por Oscar Niemeyer” (Diário Carioca, 1955a); “Marina chamar-se-á a cidade que Niemeyer vai construir no vale do Urucuia” (A Noite, 1955a).



Figura 1: Entrevista de Oscar Niemeyer para o Correio da Manhã. Fonte: Correio da Manhã (1955).



Figura 2: Reportagem sobre Marina, “a mais menina das cidades brasileiras”. Fonte: A Noite (1955).

Além do arquiteto, a equipe técnica do projeto ainda contava com a presença do engenheiro Paulo Peltier de Queiroz, responsável pela concepção das áreas da colônia agropecuária e pelo planejamento da produção agrícola. Ex-superintendente da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), onde atuou entre os anos de 1949 e 1954, durante os governos de Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Vargas, e ex-presidente da Subcomissão Técnica da localização da nova capital federal, também durante o governo Vargas, Peltier passou a atuar na iniciativa privada a partir de 1955, voltado ao desenvolvimento regional no interior brasileiro. Ele foi responsável por elaborar levantamento, plano de colonização, planos viários, assistência agronômica e demais funções ligadas à agricultura e pecuária na região do projeto, que envolvia 90 mil hectares de colônia agropecuária.

Completando a equipe, duas outras figuras de relevância nacional e internacional eram frequentemente mencionadas nas reportagens, notícias e nos anúncios para publicidade e venda de terras no entorno de cidade Marina: o paisagista Roberto Burle Marx e o responsável pelo projeto de irrigação do projeto, Luigi Gallioli. O primeiro, conhecido por integrar sua obra paisagística à arquitetura moderna, seria o responsável pelo “embelezamento dos parques e jardins da cidade Marina” (Correio Paulistano, 1956). Diversas publicações enalteciam o reconhecido trabalho internacional de Burle Marx, que teria participação fundamental também na criação de Brasília, especialmente no projeto de paisagismo do Eixo Monumental. Luiggi Gallioli, por sua vez, por meio de sua empresa Engenharia Gallioli, faria parte de um audacioso plano de irrigação para a colônia agropecuária de Marina, aproveitando os recursos do sistema hídrico local para disponibilizar água para as fazendas através de 176 quilômetros de canais (Correio Paulistano, 1956).



Figura 3 - Roberto Burle Marx, em destaque na reportagem da Revista Manchete. Fonte: Manchete, 1954.



Figura 4 - Publicidade sobre a “Operação Marina” ressalta o time de “experts” que planificou Marina. Fonte: Diário de Notícias, 1956.

Os responsáveis técnicos do projeto formavam, portanto, um “selecionado de experts” (Figura 4) que potencializava ainda mais a estratégia de divulgação da cidade. Em síntese, essas primeiras caracterizações da cidade Marina na imprensa, juntamente com a solidez de sua equipe de trabalho, tinham como base uma série de argumentações que ligavam as novas concepções de arquitetura e urbanismo do projeto à afirmação da identidade nacional brasileira, explorando expectativas de integração nacional e desenvolvimento econômico da região contemplada.

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