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Guerra do Paraguai

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A Coleção Mário Barreto

Vera Faillace
Chefe da Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional

Elizabeth Santos de Carvalho
Estudante de História e estagiária da Biblioteca Nacional



Inúmeros são os estudos que contemplam a Guerra do Paraguai (1865-1870), em que estiveram envolvidos o Brasil, a Argentina e o Uruguai contra o governo de Solano Lopez na República do Paraguai.
Um dos seus estudiosos foi Mário Barreto (1877-1938), militar e historiador que desenvolveu suas pesquisas a partir da coleta de documentos oficiais que se encontram reunidos na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional.

Dos estudos de Mário Barreto resultaram dois trabalhos: A Campanha de Lopezguaia (em 5 v. 1928-1933) - na qual rebate os defensores da política de Solano Lopez - e El centauro de Ibicuí (1930). Ambos contribuem para a história diplomática, subsídio e documentação do país.

A coleção Mario Barreto foi adquirida, através de doação, pela Biblioteca Nacional em 1994 através da filha Ana Maria Barreto de Almeida. Reúne correspondências oficiais de ministros, do comando militar e de presidentes de algumas províncias, além de mapas do território conflituoso, anotações e levantamentos bibliográficos feitos na Biblioteca do Exército, no Arquivo velho da Secretaria de Guerra e na biblioteca do Ministério das Relações Exteriores, totalizando 1.064 registros, organizados em três séries arquivísticas.

A série Comando Militar (647 registros) contém ofícios expedidos por comandantes aos seus superiores ou a oficiais sob seu comando, tratando principalmente das movimentações das tropas no cenário da guerra, com descrição do andamento dos embates. Tabelas, relações nominais e quadros demonstrativos de pessoal enriquecem as informações coletadas. A exemplo, destacamos a Relação de mortos, contusos, feridos e extraviados na batalha de Itororó[1].

A série Ministérios (213 registros) com ofícios expedidos principalmente pelos Ministros da Guerra e Ministros dos Negócios Estrangeiros aos presidentes das províncias ou ao Comandante-em-chefe do Exército sobre fornecimento de víveres, recursos para financiar combates, manutenção de hospitais militares e ambulantes.

A terceira série é a Presidência de Província (197 registros) composta por ofícios expedidos, principalmente, pelos presidentes da província do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso aos ministros da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, aos comandantes militares e a presidentes de outras províncias.

Algumas anotações feitas por Mário Barreto e textos específicos para sua publicação somam-se aos ofícios e relatórios. Nesse sentido encontra-se a relação de colaboradores para a publicação da A Campanha de Lopezguaia.

Quase totalidade da coleção é de manuscritos, alguns originais, como a nomeação de Caxias para o Comando-em-chefe do exército brasileiro [2] e ofícios expedidos pelo Conde D’ Eu, que assumiu o comando das Forças Brasileiras em 22 de março de 1869 seguindo até o final da guerra.

As nações envolvidas ainda não tinham seus territórios demarcados de maneira definitiva. Com fim de avançar nessas negociações Duarte da Ponte Ribeiro elaborou uma defesa sobre limites do norte do Brasil, com repúblicas vizinhas baseado na doutrina do uti possidetis. Parte deste estudo, impresso e com mapas, fazem parte da coleção Mário Barreto, que, além disso, é rica em informação sobre a participação da Guarda Nacional e dos Voluntários da Pátria. Contendo ofícios que descrevem a distribuição pelo território em conflito, e quantidade convocada de acordo com a província proveniente.

A parte iconográfica da coleção é composta por: um cartaz, intitulado Tudo pela paz, sobre o I Corpo de Voluntários da Pátria dando o nome dos comandantes das suas seis companhias; desenho de um projeto de arma que teria acumulada às funções de uma arma branca e de uma arma de fogo; mapa do Mato Grosso com caminhos em destaque; e um mapa com a quantidade de mortos, feridos e extraviados no decorrer da guerra, com dados obtidos nas ordens do dia do exército.

A coleção Mário Barreto é apenas uma das que oferecem fontes para pesquisa sobre a Guerra do Paraguai. A coleção Tobias Monteiro contém cópias do Tratado da Tríplice Aliança firmado em 1° de maio de 1865, correspondência de personalidades políticas e recortes de jornais que abordam também o tema.

O visconde do Rio Branco foi personagem de destaque no conflito desde seu início até a reorganização do Paraguai, partindo em missão especial em 1869. Sua coleção reúne documentos oficiais e cartas que demonstram a visão de um estadista que defendia a política externa de neutralidade limitada. Soma-se a coleção o Arquivo- Guerra do Paraguai, que está microfilmado, visto que os originais foram devolvidos ao Paraguai em 1980.

A intervenção brasileira no Prata garantia sua posição de hegemonia periférica/regional mas, economicamente, o saldo foi negativo, e costuma-se ser relacionada à crise do Império.

[1]CAXIAS, Luís Alves de Lima e Silva, duque de. Relação de mortos, contusos, feridos e extraviados da batalha de Itororó. Itororó, 06 dez. 1866. Cópia. Dat 4 p. (loc. 34,05,003 n°030)

[2]PEDRO. Carta régia nomeando o marechal de exército graduado, marquês de Caxias, comandante-em-chefe das Forças do Império em operações contra o Paraguai. Rio de Janeiro, [10 out. 1866]. Cópia. Ms. 1p.34,03,001 n°019

Fonte: Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional

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