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Guerra do Paraguai

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As Fotografias Da Guerra Do Paraguai

Rosangela de Almeida Costa Bandeira
Responsável pelo Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional



Imagens do Acervo: Fotografias da Guerra do Paraguai

Considerada uma das principais coleções existentes no Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional, a Coleção Guerra do Paraguai é composta por 743 documentos: doados, comprados ou transferidos de outras instituições ao longo do período de 1924 a 1960.

A Guerra do Paraguai encontra-se retratada também em acervos contidos em outras Coleções, tais como a de Uniformes Militares, possuindo 228 pranchas de aquarelas do pintor brasileiro José Wasth Rodrigues, que descreve a indumentária militar desde o Brasil Colônia até o Brasil República; assim como na Coleção Iconográfica Avulsa, entre outras coleções.

Renomadas personalidades da história contribuíram para a formação desta valiosa Coleção. Dentre os principais doadores podemos citar: Almirante José Carlos de Carvalho; César Lopes; Otávio de Tefé; Chermont de Brito; os filhos de Joaquim Mariano de Macedo Soares; e as netas do Marquês de Muritiba: Isabel Silva Nunes de Faro, Luiza Duque Estrada Teixeira Batalha e Branca Tosta da Silva Nunes. O MHN adquiriu parte da Coleção Guerra do Paraguai, através de compra, junto a: Paulino Batista dos Santos, em 1924 e Isa Queirós Santos, em 1960. Em 1927 o MHN recebeu do Museu Naval, por meio de transferência, algumas peças do atual acervo da Coleção. Também contribuiu o Museu Dom José, situado na cidade de Cuiabá, estado do Mato Grosso, não constando a data de entrada no MHN.

A Coleção está divida pelas seguintes espécies de documentos: álbuns de fotografias (GPfa); fotografias avulsas (GPf); estampas (GPe); álbuns de estampas (GPea); documentos textuais (GP) manuscritos, impressos e datilografados; documentos cartográficos (GPm) mapas e plantas; atlas (GPat); e recortes (GPr) de vários jornais da época, inclusive do Supplemento da Semana Illustrada.

Durante o período da Guerra do Paraguai (1864/1870), foram utilizados três processos fotográficos que retrataram a guerra e compõem este acervo: carte-de-visite, álbuns de fotografias com fotos maiores que os carte-de-visite, e fotografias medindo 13X20cm, todas em sépia, coloração utilizada na época. Estas fotografias não agiram como meras ilustrações, pois foram muito além, mostrando o que ocorreu na realidade durante a Guerra do Paraguai.

A fotografia é considerada uma imagem técnica, pois se processa através da utilização de uma máquina, diferentemente do desenho e da pintura. Fotografar é: escrever (grafar) com a luz (foto). A imagem considerada como a primeira fotografia data de 1826, produzida pelo francês Joseph Nicéphore Niépce (1765 – 1833), utilizando uma placa de estanho sensibilizada com asfalto e exposta por oito horas em uma câmara escura. O princípio da câmara escura foi descoberto por Leonardo da Vinci, por volta de 1554. Da Vinci afirmava que a luz refletida por um objeto projeta fielmente sua imagem no interior de uma câmara escura, se existir apenas um orifício para a entrada dos raios luminosos.

No dia 19 de agosto comemora-se o dia mundial da fotografia. No dia 19 de agosto de 1839 a fotografia foi anunciada oficialmente ao mundo, em Paris, na Academia de Ciências da França, consagrando o daguerreótipo, processo desenvolvido pelo francês Louis M. Daguérre.

Os carte-de-visite, por exemplo, serviam como cartões de visitas que eram trocados entre pessoas ilustres da época, e ao estourar a Guerra do Paraguai, eles passaram a ser utilizados entre os soldados, e demais combatentes, fruto do crescente nacionalismo que se instaurava no Brasil e, esta imensa quantidade de fotografias referentes aos combates e principalmente aos soldados, capitães, marechais da época se tornaram a lembrança dos mortos na guerra que melhor se perpetuou pelo tempo.

Atualmente, equivaleriam aos cartões de visita que contém informações pessoais e profissionais; porém, os carte-de-visite da época possuíam ao invés de informações, um pequeno retrato da pessoa ao qual se relacionavam, ou os locais: acampamentos, mangrulho argentino em Tuiu Cuê, etc.

Com isso, os diversos fotógrafos existentes passaram a possuir uma enorme tarefa: fotografar milhares de brasileiros combatentes, desde soldados desconhecidos até importantes figuras da história, como Dom Pedro II se deixaram retratar em trajes militares.

Boris Kossoy afirma que "o retrato apresentado dessa forma tornou-se a moda mais popular que a fotografia assistiu em todo o século passado". Seu amplo consumo traria a padronização do produto fotográfico e de seu conteúdo, estereotipando cenários e poses dos retratados.

Os fotógrafos que fazem parte desta coleção do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional são: Bate y Ca.W. (Montevidéu); Carlos C. C.; Carlos César; H.F. e Painynt . A Guerra do Paraguai abriu um lucrativo mercado para os fotógrafos itinerantes, que retratavam os soldados nos acampamentos ou em casa, antes da partida. Os heróis da pátria agora tinham rosto, diz o professor Dr. André Amaral de Toral. Os mortos deixavam de ser anônimos, o que fazia o custo humano dos combates parecer muito maior.As fotos não eram publicadas nos jornais por falta de condições técnicas. Mas circulavam, de mão em mão, em álbuns produzidos por estúdios e vendidos ao público.

Segundo Toral chegados à Prata em 1859, os norte-americanos Bate estabeleceram-se como fotógrafos em Montevidéu em junho de 1861. O estúdio era de propriedade de George Thomas Bate e seu irmão, do qual não se conhece o prenome. A empresa tinha sucursais em Londres e em La Havana, ao que tudo indica a cargo do irmão de George Bate, que retornou à Inglaterra em 1861.

A fotografia transformou a maneira de enxergar o conflito, afirma Toral. Graças a ela, a sociedade brasileira da segunda metade do século XIX teve acesso a imagens que não mostram só o heroísmo dos soldados, mas também o acampamento mambembe, o rosto angustiado dos prisioneiros, os milhares de mortos, a miséria de todos os que participaram daquela guerra.

BIBLIOGRAFIA:

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_______, O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003.

Fonte: Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional

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