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Guerra do Paraguai

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As Litografias Da Guerra Do Paraguai

Rosangela de Almeida Costa Bandeira
Responsável pelo Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional



Imagens do Acervo: Litografias da Guerra do Paraguai

A litografia é um tipo de gravura. É a técnica de gravar que envolve a criação de marcas (ou desenhos) sobre uma matriz (pedra calcária) com um lápis gorduroso. Do Grego lithos = pedra e graphein = escrever, se baseia no princípio da repulsão entre água e óleo. Ao contrário de outras técnicas da gravura, como a xilogravura e a gravura em metal.

Na litografia o desenho é feito através do acúmulo de gordura sobre a superfície da matriz e não através de fendas e sulcos (xilogravura e gravura em metal). Seu primeiro nome foi poliautografia, significando a produção de múltiplas cópias de manuscritos e desenhos originais.

Esta técnica foi desenvolvida pelo alemão Alois Senefelder, em 1796, quando buscava um meio de impressão para seus textos e partituras. A ação de desenhar/escrever sobre pedra já era conhecida, o crédito de Senefelder foi ter equacionado os princípios básicos da impressão a partir da mesma. Apoiou-se em textos encontrados em Nurenberg sobre as experiências de Simon Schmidt, sacerdote e professor bavário, sendo o primeiro a pensar na pedra calcária como matriz reprodutora.

Usada extensivamente nos primórdios da imprensa moderna no século XIX, a litografia serviu para impressão de rótulos, cartazes, mapas, jornais, dentre outros, além de possibilitar uma técnica expressiva para os artistas.
A técnica da litografia se divide em quatro etapas básicas:

Limpeza – é necessário que a pedra esteja absolutamente limpa, independente de estar nova ou já ter sido utilizada. Para isto é preciso espalhar grãos de areia fina bem peneirada sobre a pedra e joga-se um pouco de água para umedecer, colocando-se outra pedra calcária, utilizada para este fim, para lixá-la. Não se pode esquecer de limar as arestas irregulares em um ângulo de 45° para que a pedra não lasque e nem marque o papel.

Desenho – Após a pedra estar preparada (totalmente seca, lisa e aparada), é hora de se desenhar sobre a pedra, com materiais ricos em gordura, sem esquecer de traçar uma margem de tamanho variado com goma arábica, pois a área atingida com a goma não absorverá a gordura.

Entintagem – Após a confecção do desenho, o mesmo deverá estar bem seco, partimos para a acidulação e entintagem ou viragem, processos que fixam a gordura na superfície da pedra. Após, pulveriza-se o breu sobre a imagem, espalhando-o com um chumaço de estopa. Em seguida a pedra recebe um banho de uma solução de goma arábica, ácido tânico, nítrico e fosfórico, que fixa a gordura apenas na superfície, dividindo a matriz em duas partes, a branca que retém água e repele gordura e a desenhada que retém a gordura e repele a água.

Impressão – A última etapa é a impressão. O papel (ou outro material) deve ser colocado sobre a pedra de maneira alinhada, para evitar rachaduras. Usa-se uma prensa manual própria para litografia. A litografia permite tirar muitas cópias da mesma matriz. Após seu uso a pedra poderá ser limpa e reaproveitada.

Seu uso se difundiu rapidamente no século XIX como técnica de reprodução, tendo sido um dos meios mais eficientes de comunicação impressa na época da sua invenção, contribuindo decisivamente na divulgação e popularização de imagens. A litografia foi usada comercialmente e, por vários artistas, na impressão de obras de artes.

Desde o século XIX, já havia uma distinção entre a litografia artística e a litografia comercial, sendo a primeira utilizada de forma artesanal, já a segunda obteve uma evolução técnica, chegando até ao off-set.
A litografia teve um importante papel nas mudanças culturais e sociais que se processavam no Brasil na época de sua introdução, na metade do século XIX, através da impressão e circulação de jornais, revistas, cartazes, anúncios, etc.

A Guerra do Paraguai ocorreu no período de 1864 a 1870, época em que a litografia era uma técnica muito utilizada para impressão. A arte da litografia, acima descrita, teve importantíssima participação na divulgação da Guerra, pois através desta técnica os carte-de-visite e demais fotografias tiradas no combate eram impressas e corriam o mundo: EUA e Europa acompanhavam o desenrolar da Guerra na América do Sul, graças ao processo da litografia.

Dada a impossibilidade técnica de serem reproduzidos, pela imprensa na época, os retratos eram copiados através de litografias e publicados, ou seja, os jornalistas utilizavam a técnica da litografia para divulgar os acontecimentos da Guerra do Paraguai.

O Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional possui litografias nesta coleção reproduzidas das obras de Edoardo De Martino (Meta, 1838 / Londres, 1912), pintor italiano que chegou ao Brasil em 1968. Por encomenda do governo imperial, documentou a ação da Marinha na Guerra do Paraguai, pintando batalhas navais com exatidão e minúcia (Passagem de Humaitá, Batalha Naval do Riachuelo, originais no Museu Nacional de Belas Artes). Pintou também paisagens e marinhas, originais no Museu Imperial, Petrópolis, entre outras obras.

Além destas obras, o acervo conta com litografias de autoria de Julio Raison, desenhista e gravador francês que atuou desde 1864. Antônio Araújo de Sousa Lobo, mais conhecido como Souza, (Campo de Goytacazes, RJ, 1840) possui trabalhos litográficos no acervo do Arquivo Histórico. Souza foi um pintor histórico e retratista, que participou numerosas vezes, até 1884, das Exposições Gerais de Belas Artes, conquistando menção honrosa em 1865, segunda medalha de ouro em 1869 com “O bombardeio do Forte do Itapiru” pertencente ao Barão de Jaceguai.

Souza era defensor da pintura ao ar livre, com o escultor Almeida Reis e o arquiteto Rodrigues Monteiro fundara, já em 1861, a Acrópolis, uma associação que tinha por finalidade modernizar o ensino de arte, amparar e proteger os artistas.

Manteve com o irmão Carlos Alberico de Sousa Lobo, até 1890, um ateliê destinado à execução de paisagens e retratos, bem como a restauração de pinturas, dedicou-se, para o fim da vida, à fotografia e à litografia, obtendo em ambas resultados excelentes. O seu maior título está nos discípulos que formou, entre os quais se destaca Rodolfo Amoedo.

BIBLIOGRAFIA:

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Dicionário Biográfico dos Grandes Brasileiros. São Paulo: Abril Cultural, 1978, 448p.
FREIRE, Laudelino, 1816-1916: Um século de Pintura.
PAULA, Ademar A . de Neto, Mario Carramillo (1989). Artes gráficas no Brasil: registros 1746-1941. São Paulo: Laserprint. 168p.
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Fonte: Arquivo Histórico Do Museu Histórico Nacional

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