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Lorenzo Perosi e o Brasil

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A música de Perosi: Repercussão e crítica na imprensa brasileira

por Thiago Plaça Teixeira
Muitos e sensíveis perdas tem sofrido a música nesses últimos 15 anos; basta lembrar os falecimentos de Brahms, Gounod, Stephen, Heller, Tschaikowsky, Leo Delibes, Verdi, Rubinstein, Cesar Franck e Lalo.
Em troca não houve a menor revelação artística que viesse compensar a falta desses ilustres extintos, a não se a do Pe. Perosi.
Chronica musical. A Estação. Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1902.Há dias aqui demos notícias dessas suas novas composições e dos aplausos gerais que obtiveram do público e da imprensa de Roma.E quando virá ele ao Brasil?
Theatros & salões. A Imprensa. Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 1906.

Durante o período de maior produção musical de Lorenzo Perosi, a admiração e o reconhecimento com que sua música foi recebida na Europa se fez ressoar também no Brasil, seja por meio de notícias ou por meio de colunistas dos principais jornais do Rio de Janeiro. A seguir apresentamos alguns exemplos de como a imprensa carioca divulgava a recepção da música de Perosi, sobretudo de seus oratórios, no período entre 1895 e 1915, aproximadamente. É nessa época em que foram compostas suas obras mais célebres e em que ele esteve mais ativo à frente de importantes coros em Veneza e em Roma.

1. Dados biográficos. No início de 1899, lê-se em periódicos brasileiros sobre o grande entusiasmo com que os primeiros oratórios de Perosi eram recebidos na Europa, sobretudo nos meios eclesiásticos. Um artigo da Revista Moderna dava um panorama da ascensão do compositor no meio musical.

 Don Lorenzo Perosi. Revista Moderna, nº 28. Rio de Janeiro, fevereiro de 1899.

De Roma. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 1899.

2. Oratórios de 1898. Em 1898, ainda residindo em Veneza, Perosi compõe alguns de seus mais célebres oratórios, alcançando grande repercussão na crítica musical da época, impressionada com o resgate que o compositor fazia de um gênero musical que, àquela época, mostrava-se já desgastado e quase que assimilado ao estilo operístico predominante.

2.1. La Trasfigurazione di Cristo (1898). Na Gazeta de Notícias de 06/11/1898 noticiava-se o sucesso da estreia de La Trasfigurazione di Cristo no Teatro La Fenice de Veneza, regido pelo próprio Perosi:



Fig. 20 - “Oratorio” do Maestro D. Perosi. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 6 de novembro de 1898.

2.2. Oratório La risurrezione di Lazzaro (1898). O Oratório La risurrezione di Lazzaro, estreado em Veneza 1898, e muito aclamado na época, é mencionado em periódicos cariocas, incluindo-se breves descrições da obra e a repercussão do sucesso junto ao público europeu:

Palcos e Salas. A Notícia. Rio de Janeiro 29-30 de novembro de 1898.

Theatros e musica. Jornal do Commercio. Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 1899.

2.3. La Risurrezione di Cristo (1898). Considerado o mais popular dos oratórios de Perosi, La Risurrezione di Cristo foi notícia no Brasil em muitas ocasiões, incluindo descrições pormenorizadas da composição musical. Citamos aqui, a título ilustrativo, duas delas.

No Jornal do Brasil de 22 de janeiro de 1899 lê-se um grande relato da estreia de La Risurrezione di Cristo em Roma, juntamente com dados biográficos do compositor, denotando grande interesse da imprensa pela música de Perosi.

Na coluna “Theatros e Música” do Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) de 6 de fevereiro de 1899, lê-se uma síntese de vida e da obra de Perosi e, em seguida, uma descrição do Oratório La Risurrezione di Cristo (1898). Pode-se notar a repercussão no Brasil da fama que Perosi vinha alcançando na Europa.

Theatros e Musica. Jornal do Commercio. Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 1899.

Em outra edição do Jornal do Brasil, também de 1899, noticiava-se a presença de um soprano brasileiro, a paulista Clotilde Maragliano, em uma temporada de apresentações de La Risurrezione di Cristo regida pelo próprio Perosi:

Palcos e Salões. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 25 de maio de 1899.



Fig. 21 - O soprano paulista Clotilde Maragliano, solista que fez carreira na Itália em fins do século XIX. Amiga íntima de Carlos Gomes (1836-1896), atuou em La risurrezione di Cristo de Perosi. Revista Illustrada, nº 737. Rio de Janeiro, 1898. Biblioteca Nacional.

3. Outros oratórios. Nos nove anos seguintes, Perosi escreverá oito importantes oratórios. Citamos aqui algumas referências a eles na imprensa brasileira.

 3.1. Il Natale del Redentore (1899). Perosi escreve em 1899 apenas um oratório, Il Natale del Redentore, estreado na Catedral de Como em 12 de dezembro de 1899:

De Roma. Jornal do Brasil, 16 de outubro de 1899.

Oratorio de Perosi. Jornal do Brasil, 26 de janeiro de 1901.

De Roma. Jornal do Brasil, 7 de março de 1901.

3.2. L'entrata di Cristo in Gerusalemme (1900) e La strage degli innocenti (1900). Ambos foram estreados em 1900, sob a direção do próprio compositor no Salone Perosi, uma antiga igreja em Milão transformada em salão de concertos para os oratórios de Perosi.

Italia. Jornal do Brasil, 27 de março de 1900.

Italia. Jornal do Brasil, 26 de abril de 1900.

Italia. Jornal do Brasil, 14 de junho de 1900.

 3.3. Mosè (1901). Considerado um oratório que se aproxima em certos aspectos de um estilo mais dramático, Mosè foi estreado em novembro de 1901 com regência de Arturo Toscanini (1867-1957).

"O Moysés" do padre Lourenço Perosi. Jornal do Brasil, 27 de dezembro de 1901.

Italia. Jornal do Brasil, 17 de novembro de 1901.

Italia. Jornal do Brasil, 19 de novembro de 1901.

 3.4. Il giudizio universale (1904). Estreado no Teatro Costanzi de Roma.

Italia. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 9 de abril de 1904.

3.5. Dies Iste (1904). Dedicado ao Papa São Pio X e a ele apresentado na Biblioteca do Vaticano em dezembro de 1904.

Santa Sé. Oratorio de Perosi. Jornal do Brasil, 11 de dezembro de 1904.

Secção Religiosa. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1905.

3.6. Transitus animae (1907). Foi apresentado na Sala Pia do Castel Sant’Angelo em Roma.



Fig. 22 - Theatros & salões. A Imprensa. Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1908.

4. Crítica a Perosi. Durante o século XIX e primeira década do século XX era comum a presença de importantes críticos musicais em periódicos nacionais, repercutindo e analisando obras, compositores e eventos dos concertos da época. Indicamos aqui, a título ilustrativo, um exemplo de uma dessas colunas especializadas, dedicada neste caso à música de Perosi, por ocasião de seus primeiros oratórios em 1899. Nota-se ali o reconhecimento dos valores musicais da obra, mas ainda há certa desconfiança acerca de como os italianos, especificamente, aclamavam-no com entusiasmo:

L. de C. [Luís de Castro]. De viseira erguida. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 6 de março de 1899.

Apresentamos, assim, um panorama geral de como o Brasil acompanhava os passos da carreira de Lorenzo Perosi, sobretudo por meio de seus grandes oratórios, entre 1898 e 1907.

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