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Mário Pedrosa

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O Projeto Mário Pedrosa

ALEGRIA DE ORGANIZAR , ALEGRIA DE CONHECER

O projeto O universo intelectual de Mário Pedrosa: organização e conservação do seu acervo documental, na forma como foi viabilizado abre um caminho promissor para a preservação de coleções particulares de importância para a cultura e a história do país. Com ele vislumbramos novos horizontes para as famílias detentoras desses patrimônios, que não sabem como ou não podem guardá-los, e para as instituições que, ao recebê-los, passam a abrigar uma documentação já tratada e em condições de entrega imediata ao público interessado.

A Petrobras, patrocinando, através do Programa Petrobras Artes Visuais, o tratamento do acervo documental de Mário Pedrosa previamente à sua doação a uma instituição pública - condição para o patrocínio - deu o passo inicial para a abertura de via eficaz de preservação dos bens culturais brasileiros, que beneficia não somente a família doadora e a instituição receptora como também, e principalmente, o pesquisador e o público em geral, que poderão acessar os documentos em tempo recorde, inclusive através da Internet.

Mário Pedrosa foi um intelectual à frente do seu tempo. Crítico de arte de renome internacional e militante político fervoroso, teve sua vida dividida entre estas duas paixões: a arte e a política. No manuseio do seu acervo ficaram evidentes a sua capacidade intelectual, a densidade e profundidade dos seus conhecimentos. Sem dúvida um intelectual de vanguarda em todos os sentidos, Mário Pedrosa esteve sempre antenado com as inúmeras expressões da arte contemporânea e todas as questões de relevância do seu tempo.

Nas atividades do projeto, iniciado em outubro de 2001 com término em março de 2003, contou-se com a colaboração de uma equipe de cerca de 40 profissionais entre bibliotecários, arquivistas, conservadores, estagiários, colaboradores e pessoal de produção. O seu objetivo foi preservar os documentos de Mário Pedrosa, que encontravam-se com a família, a partir de ações que permitissem a sua conservação, organização e disseminação, possibilitando, em última instância, o amplo acesso do público às informações neles contidas. A família do intelectual, em contrapartida, doaria o acervo tratado a uma instituição pública da cidade do Rio de Janeiro, tendo a Biblioteca Nacional sido a escolhida.

O universo documental de Mário Pedrosa é constituído de sua biblioteca e de seu arquivo pessoal. A biblioteca, com 7.924 livros, folhetos e periódicos, abrange as ciências sociais e as ciências humanas, abordando, sobretudo, filosofia, política, economia e arte. O arquivo pessoal, por sua vez, é composto de cerca de 15.000 itens, dentre os quais se destacam a correspondência ligada às suas atividades como crítico de arte (incluindo a direção do Museu de Arte de São Paulo e a participação em várias bienais, na Associação Internacional de Críticos de Arte e na sua seção brasileira) e a de cunho político. Contém, ainda, quantidade expressiva de textos da sua produção intelectual e de terceiros, notas de trabalho, recortes de jornais e documentos iconográficos sobre arte. O arranjo do arquivo privilegiou as grandes áreas de atuação de Mário Pedrosa e a tipologia dos documentos, de modo a permitir que a consulta ao seu esquema forneça, ao simples olhar, um panorama dos tipos de documentos salvaguardados e das principais atividades desenvolvidas por ele: o escrevente juramentado, o professor de história, o estudioso de arte, o político e líder socialista, e a sua vida pessoal.

O processamento técnico do acervo, em decorrência das características de seu proprietário - personalidade de múltiplos interesses e atividades, com uma profunda erudição e grande riqueza intelectual, expressas no conjunto de documentos reunidos ou produzidos por ele ao longo da vida - colocou a equipe encarregada do desenvolvimento do projeto diante de desafio maior que o previsto: o conhecimento, ainda que superficial, das várias línguas dominadas por Mário Pedrosa - inglês, francês, espanhol, alemão e italiano - e dos diversos assuntos que atraíam a sua atenção. Neste sentido, a Internet forneceu ferramenta fundamental ao trabalho, através dos sites das bibliotecas e de busca. Dificuldades adicionais foram a realização de projeto desta dimensão sem instalações físicas adequadas e uma boa biblioteca para consulta, além da própria letra de Mário Pedrosa, que foi-se tornando quase ilegível ao longo dos anos.

O cuidado maior na conservação do acervo foi sua estabilização e os procedimentos adotados ficaram basicamente restritos às atividades de higienização, acondicionamento e guarda, à exceção de parte dos documentos fotográficos que exigiu intervenção mais complexa.

A equipe, embora muito jovem em sua maioria, mostrou-se dedicada e capaz de produzir um trabalho de qualidade, tendo, certamente, saído enriquecida desta extraordinária experiência.

No apoio a projetos como este, a Petrobras estendeu o seu incentivo a valores de permanência para a história e memória de nosso país. A tarefa, porém, não se esgota aqui. Um próximo passo seria localizar e colocar à disposição dos pesquisadores os lugares onde se encontra o restante do material deixado por Mário Pedrosa, mapeamento que muito facilitaria os futuros trabalhos de pesquisa.

À Biblioteca Nacional e aos pesquisadores cabe, agora, a tarefa de aprofundar o estudo deste universo, a fim de extrair dele toda a riqueza do pensamento e da produção de Mário Pedrosa.

A Mário Pedrosa, que teve entre os seus sonhos não realizados a organização de uma grande mostra de arte indígena brasileira intitulada “Alegria de viver, alegria de criar” a homenagem em frase que expressa o nosso sentimento ao final do trabalho: “Alegria de organizar, alegria de conhecer”.



Helena Dodd Ferrez
Coordenação Técnica

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