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O Brasil Encontra o Extremo Oriente: a Missão Chinesa (1880)

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Introdução

Quando Henrique Lisboa desembarcou na China em 1880, sua missão era clara: conhecer a civilização chinesa. Algum tempo antes – mais exatamente nos congressos agrícolas de Recife e Rio de Janeiro em 1878 – as discussões sobre a vinda maciça de chineses eram o tema principal desses encontros. País agrário e escravocrata, o Brasil debatia, nas Câmaras e nas ruas, se deveríamos trazer coolies chins para substituir, mesmo que temporariamente, a mão de obra escravizada africana.

Apesar de muito se falar, os brasileiros sabiam pouco sobre a China. Não por falta de contato: desde a época de Dom João VI, chineses vieram ao Brasil plantar chá, e se espalharam em nossa sociedade; do mesmo modo, figuras notáveis partiram daqui para marcar a história de Macau,  Lucas José Alvarenga (1828), que defendeu a cidade dos piratas chineses, ou José Guimaraens de Aquino Freitas (1828), que escreveu a primeira história oficial da cidade.

Fig. 1 - Entre os séculos 16 e 18, quem quisesse aprender a língua chinesa provavelmente teria que passar por Macau e, lá, poderia encontrar materiais como esse - o primeiro dicionário de chinês para um idioma ocidental foi feito em português, pelos padres Matteo Ricci (1552-1610) e Michelle Ruggieri (1543-1607), e publicado na colônia portuguesa.
Fonte: Dicionário Português-Chinês, org. por John Witek. Lisboa: Instituto Português do Oriente, 2001.


Fig. 02 - Ao longo do século 19, portugueses e brasileiros podiam usar o dicionário de Joaquim Afonso Gonçalves, de 1831, para aprender chinês, mostrando que o estudo da China era algo que nos interessava. Imagem capturada da folha de rosto do dicionário, em Internet Archive.
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional.


Fig. 03 - Folha de rosto do livro Memoria sobre a expedição do governo de Macao..., de Lucas José Alvarenga (governador de Macau). No tempo em que o Brasil ainda era colônia de Portugal, diversos brasileiros atuaram de forma relevante no Oriente, ajudando a promover importantes trânsitos culturais.
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional


Fig. 04 - Aquarela de Johann Moritz Rugendas dos chineses plantando chá no Rio de Janeiro: o Brasil foi o primeiro país no Ocidente a receber uma colônia oficial de chineses.
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional.


Fig. 05 - Um documento raríssimo: o pedido, feito pelos colonos chineses que plantavam chá, para disporem de um intérprete. Ele foi assinado pelos mesmos com seus nomes chineses e brasileiros. A única cópia está disponível no acervo da BN, que podemos consultar pela rede.
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional

 

»Veja mais: Carlos Francisco Moura fala das “Relações entre Brasil e Macau no Século XIX”, e do plano do Ouvidor Brum da Silveira de enviar chineses para o Brasil.


Mas, até 1878, já havia passado muito tempo e os brasileiros médios ignoravam, de forma geral, o que se passava no Extremo Oriente. Por essa razão, o império resolveu enviar uma missão ao país asiático para entabular relações diplomáticas e comerciais oficiais com a Dinastia Qing (1644-1911); e registrar a história dessa travessia. Os estudos chineses no Brasil começariam no relato da viagem de Henrique Lisboa, publicado no livro A China e os chins (1888). É o que vamos apresentar, agora nesse dossiê, elaborado inteiramente com base no acervo disponível na Biblioteca Nacional.

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