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A Alvorada: periodico litterario e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
A Alvorada: periodico litterario e noticioso foi publicado pela primeira vez no dia 14 de julho de 1913 na localidade chamada Rio Tarauacá, Villa Seabra, no noroeste do estado do Acre.

Os primeiros habitantes de Tarauacá foram os índios Catuquinas-pano e os Iauanauás, que ainda hoje estão localizados em áreas preservadas no Acre. Tarauacá, recebeu no final do século XIX um grupo de nordestinos para a exploração de seringais, era o período da borracha, que foi por muitos anos chamado de “ouro negro”. Alguns deles se estabeleceram na confluência dos rios Muru com o Tarauacá, fundando um seringal que foi transformado em vila, e recebeu o nome de “Seabra”, em homenagem a José Joaquim Seabra, ministro da Justiça e Interior no governo de Rodrigues Alves. Em 1912 tornou-se município.

Nesse apogeu, começam a surgir na localidade, alguns periódicos. A imprensa se destacava como símbolo de cultura, inspirada nas grandes metrópoles. A Alvorada foi um periódico quinzenal, impresso nas oficinas de O Município, e era propriedade dos operários daquele jornal, situado no território do Acre. O Município foi lançado em setembro de 1910, seguido de A Alvorada.

Com o título “Nova luz”, assinado apenas por “S”, o editorial de A Alvorada se apresenta aos leitores, informando que sua finalidade era o “desenvolvimento intellectual da mocidade do Departamento”, e suas colunas estavam à disposição de todos os leitores, desde que os assuntos envolvessem a literatura, em prosa ou verso, bem como enigmas, charadas ou logogrifos. Eis um excerto do texto de inauguração do primeiro periódico dedicado a literatura em território acreano:
Como um astro mais, dentre muitos já existentes no nosso amado sólo patrio, com luz a expandir fócos d’ouro a illuminar os reconditos deste meio lettro-social, - nasce hoje A ALVORADA.

Este jornalzinho, creado por um pequeno grupo de amadores sinceros da vida publicísta, embora não tendo as bases fundamentaes quer para uma linguagem solida, quer para a belleza de expressão de seus escriptos, devido á fragil competencia de seus autores, jamais deixará de ser um guia, um mestre amigo dos que teem em mira esclarecer o espirito, expandir suas idéias.

A ALVORADA, prezadissimos leitores, vem á luz para todos; tem como seu unico programma, fazer o nosso desenvolvimento, o nosso engrandecimento, e, finalmente, o nosso conhecimento moral, physico e social.

O número avulso de A Alvorada foi vendido por 300 rs. A assinatura anual valia 6$000 e a semestral tinha o preço de 4$000. Também era possível adquirir números atrasados ao valor de 500rs.

Vale lembrar que o ano era o de 1913, num longínquo território ao norte do Brasil, onde rádio, televisão e telefone não existiam, e as estradas que interligavam os munícipios eram precárias. Confeccionar um jornal foi, portanto, um marco importante que, além de marcar uma época, proporcionava momentos de deleite entre os moradores, que podiam interagir, a partir das matérias publicadas.

Podem ser consultados na Hemeroteca Digital os seguintes exemplares: os números 1 e 8 do ano de 1913,  de 1914 os números 12 e 14, de 1915 os números 19 até 21, e do 25 até o 28. De 1916 os números 32, 34 até 37, os números 40 e 41 pertencentes ao ano de 1917 e, finalizando, o número 44 publicado em 2 de fevereiro de 1919, sétimo ano da publicação.  A numeração dos fascículos foi sequencial, não retornando a numeração a cada novo ano.

A seguir um soneto de Rocha Brasil, publicado na primeira página do primeiro exemplar de A Alvorada.

                           

Musas

Passado conjugado

 

Quando eu e amei, fizeste o mesmo, e nos amámos

Com tanto esforço, tanta asneira e tanta lida,

Que eu te jurei, tu me juraste e então juramos

Que nunca mais nós dois brigavamos, querida.

 

E desde então, retendo as maguas, nos juntámos

Com tanta ardencia e tanta historia tão sentida,

Que eu te noivei, tu me noivastes e então noivámos

Na quadra ardente mais gentil de nossa vida.

 

Passou-se o tempo, e foste ingrata, e nos perdemos

Tu te affastaste, eu me affastei, nos affastámos,

Sem nos lembrarmos do contracto que fizemos.

 

Tu me beijaste, eu te beijei, nós nos beijámos,

Tu me esqueceste, eu te esqueci, nos esquecemos,

Tu me deixaste, eu te deixei, nós nos deixámos.

 

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