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A Alvorada: quinzenário noticioso, literário e humorístico: jornal dos estudantes

por Maria Ione Caser da Costa
A Alvorada: quinzenário noticioso, literário e humorístico: jornal dos estudantes foi um periódico lançado no Rio de Janeiro em 1919. Não foi possível assinalar a data exata de seu lançamento. O primeiro exemplar da coleção existente na Biblioteca Nacional é o número 4, que foi editado na segunda quinzena de novembro de 1919.

Seus diretores foram Domingos Amaro da Cunha Brandão e Plinio de Holanda Maia, jovens estudantes que travaram uma bela luta com a classe estudantil, a fim de formar mentes que fossem uma força unida em prol da cultura e da educação.

De acordo com o editorial, esse quarto número inaugurava o relançamento da publicação. Em nossa pesquisa não encontramos qualquer menção a uma primeira fase de A Alvorada. Com o título “A Alvorada”, sem indicação de autoria, eis o texto de abertura:

Recomeçando hoje a publicação d’ “A Alvorada”, realizamos um dos sonhos da nossa travêssa mocidade e empreendemos uma ousada e árdua tarefa.
Sabemos perfeitamente que vamos enfrentar obstáculos desanimadores: que vamos luctar com a indiferença e a tola critica dos invejosos. Mas, alimentamos a esperança da nossa atividade extinguindo os empecilhos com a concentração de todas as nossas forças em prol d’ “A Alvorada”, para que esta satisfaça a todos os gostos e tenha o acolhimento merecido dos caros collegas.
O nosso intuito é podermos proporcionar o cultivo das lettras, aos que ensaiam os primeiros vôos com azas mal emplumadas e incertas: a estes portadores de reaes esperanças no futuro, como diz um ilustre jornalista patrício: “a educação litteraria de um povo faz-se, transformando lentamente e não destruindo de golpe: para conseguir-se uma noção útil a uma criança é indispensável começar por brincar com ella.”
Tereis assim gentis e queridos leitores, um campo aberto a todas as intelligencias e uma cultivada literatura. Aqui, ilustres amigos, experimentaes todos os écos da vida: terei o lamento para p desventurado, a gargalhada ára p esírituoso, o enthusiasmo pelas phrases fervorosas e o enlevo no canto das Musas que nos fazem vibrar de voluptuosidade.
Ahi, nas vossas mãos, tendes “A Alvorada”, esperando o merecimento dos seus dignos leitores: amparae-a e defendei-a.


Toda correspondência endereçada para o periódico A Alvorada deveria ser dirigida para a rua Fialho, nº 20, que estava localizada no Bairro da Glória. Uma nota no expediente avisava que “a redacção acceita collaboração de seus assignantes, mas reserva-se o direito de só publicar as que julgar conveniente. Nenhum original, mesmo não publicado, será restituído. ”

O número avulso era vendido por $200, enquanto que o valor das assinaturas era de 2$400 para as semestrais e 4$000 para as anuais.

O exemplar original mede 38 cm x 27,5 cm, mas a consulta só pode ser realizada através da Hemeroteca Digital.

A última página de cada exemplar é dedicada às propagandas, que anunciavam produtos e serviços oferecidos por seus patrocinadores. Na Biblioteca Nacional estão apenas os exemplares de números 4, 6 e 7. O sétimo foi publicado na segunda quinzena de abril de 1920. Nos meses de janeiro, fevereiro e março não houve publicação. Período de férias estudantis e os alunos retornavam aos seus lares, muitos em outros estados ou mesmo no interior.

A Alvorada publicou notícias da sociedade, charadas, contos, poemas, notícias dos esportes, crônicas de peças teatrais, dentre outros assuntos. Alguns dos colaboradores: Bastos Tigre, Coelho Netto, Julio Maciel, L. Correale, Lauro Loureiro, M. Alcantara de Vilhena, Paulo Torres e Plinius Dantas.

Selecionamos um poema de Julio Maciel publicado no quarto exemplar com o título de “Á Bella Paquetá”.

Á Bella Paquetá

E’s o transumpto do bello,
Ninho de amôr e ventura,
Eden divino da vida,
Espelho de formosura.

Tu és bella como é linda
A natureza em seu dia,
Cada flôr sendo uma’sperança
No jardim da poesia.

De bello quanto a natura
Não produzio acolá!
São mimos que o Céo semeia,
Na Ilha de Paquetá.

Risos, flores, alegrias,
Tudo reúne-se lá.
Tudo canta, tudo folga,
Na Ilha de Paquetá.

Suas praias são de prata,
Como aquellas não, não ha,
Beijam-nas mansas as vagas
Na Ilha de Paquetá

São mais lindos perfumosos,
Prados e flores de lá,
Mais meiguice tm as jovens
Da Ilha de Paquetá.

De seus fructos a doçura,
Do Céo parece o maná,
Mais doces que o mel de Hymetto,
Na Ilha de Paquetá.

Canta a viola de noite,
N’alvorada o sabiá,
Cantos que dizem saudade,
Da Ilha de Paquetá.

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