BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Aurora: periodico litterario e critico

por Maria Ione Caser da Costa
A Aurora: periodico litterario e critico saiu publicado pela primeira vez em 15 de junho de 1851 no Rio de Janeiro. Foi impresso pela Typographia de F. A. de Almeida, que estava situada na rua da Valla, n. 141, hoje rua Uruguaiana, no centro histórico da cidade.

A coleção preservada na Biblioteca Nacional é composta pelos dez primeiros números, tendo o décimo, saído a público no dia 17 de agosto daquele ano.

Publicação semanal, editada sempre aos domingos, seus exemplares apresentam quatro páginas diagramadas em duas colunas separadas por uma linha tracejada. Todas as páginas são emolduradas com vinhetas e ornamentos em cada um dos quatro cantos.

A Aurora não apresentou valor para venda avulsa do exemplar. Os interessados deveriam fazer a assinatura na tipografia citada acima, ao preço de 1$000 por 12 números. Tampouco apresentou os nomes dos editores responsáveis. Algumas notas aparecem assinadas apenas por “A Redação”.

Num editorial breve, os editores apresentaram seu programa:
Não fazemos prologo. É desnecessário. Algumas palavras sómente, para explicar aos nossos assignantes o fim a que se destina a AURORA.

A AURORA, como indica o segundo titulo, é um periodico litterario e critico.

A AURORA, nem sempre despontará no horizonte adornada de brilhantes côres. Tem de aparecer muitas vezes obscurecida e triste, infundindo nas almas fracas e cobardes o terror e o despeito.

A critica da AURORA será benigna muitas vezes; fulminante como o raio, algumas - quando as circunstancias assim o exigirem.

Todavia, a AURORA, não ha de ser nunca a primeira a entrar na liça, porém espera na estacada qualquer adversario que se lhe apresentar; firme e animosa, como certa que está no seu bom direito.

A AURORA falla toda a linguagem; - menos a das meretrizes nos alcouces, a dos negros nas senzalas, ou a das regateiras no mercado.

Abre-se aqui um parêntesis a respeito do último parágrafo do editorial: para quais leitores escreviam os editores de A Aurora? Somente para os homens letrados, os cultos de então? Esses, com certeza somavam uma pequena parcela da população. Excluir meretrizes, negros ou mulheres que tinham a necessidade de trabalhar, é no mínimo, uma atitude que não deveria ser possível, mesmo lá nos oitocentos. Para o editor, mesmo aos iletrados, ou a parcela da população por ele excluída, torna-se uma atitude incorreta. A oralidade permitia que o periódico pudesse ser “lido” e conhecido por um maior número de usuários. Fecha-se o parêntesis.

Além de crônicas e poemas, publicou também folhetins. O número 2 apresenta como folhetim a biografia de Francisco de Sá Noronha (1820-1881), um violonista português: “Na revista semanal do nº antecedente demos notícia da chegada a esta Côrte, do exímio rabequista portuguez, o Sr. Noronha. Publicamos hoje no nosso folhetim alguns apontamentos biographicos de um jornal do Porto, o Nacional.”

Muitos foram os poemas publicados nas páginas de A Aurora. A maioria não tem autoria ou somente as iniciais do autor. O poema abaixo não apresentou autoria.

 

A Saudade

Acabou!... só em meus sonhos a vejo!...

Já doirado futuro me não mostram

Os raios da esperança!...

Já passaram os dias da ventura!...

O sopro congelado da desgraça

Da minha vida já cobriu a aurora!

Não mais amor!... não mais esp’rança... e gosto!

Adeos digo a tudo isto;

Só á saudade o adeos dizer não posso!

Parceiros