BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Bala: órgão litterario e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
A Bala: órgão litterario e noticioso foi mais um dos vários periódicos efêmeros publicados em nosso país e que tinham como escopo de suas matérias a literatura e as notícias. A efemeridade, entretanto, não desmerece de forma alguma a categoria nem a vida do periódico.

A Bala foi lançada no ano de 1883 em Teresina, capital do Piauí. Um pequenino estado da região nordeste deste nosso gigante Brasil. Foi produzida nas oficinas da Typographia da Epoca.

Em tempos idos, imensas eram as dificuldades na produção de qualquer revista, ou mesmo pequenos folhetos informativos. Portanto, dar continuidade aos títulos publicados, era muitas vezes, tarefa hercúlea. E A Bala publicou pelo menos até o número seis. Não encontramos notas de ter tido continuidade.

A Biblioteca Nacional tem apenas um exemplar, o número 6, que foi publicado no dia 2 de julho de 1883. O redator responsável foi Thaumaturgo Vaz.

O editorial do sexto número demonstra aos leitores a força de vontade dos responsáveis pela publicação para conseguirem progredir na arena jornalística, buscando apoio e ajuda. Menciona não terem se afastado do programa. Não é possível conhecero programa pretendido, tendo em vista a falta dos primeiros exemplares.
Nós, o edifício sublime da moral e do direito; nós, a coluna gigantesca da razão e da liberdade, aqui, ainda uma vez, nos achamos intrépidos, - dispostos a demolir estas barreiras que se interpoem ao nosso caminho, para de um vôo chaegarmos ao zenith de nossa gloria.

Ousados na senda do futuro, - não vacillaremos ante o nosso tentamem com o fim de conquistarmos neste afanoso certame o louro viridente de nossos sonhos. [...]

- Esperançosos, como somos, não nos affastaremos um passo sequer do nosso programma, para, assim, termos jus á entrada no sumptuoso Templo das sciencias.

Mas, para isso conseguirmos, é necessário ousadia, é necessário firmeza e perseverança, sem o que será provavel a nossa quéda no pélago profundo do esquecimento.

Companheiros do progresso, ajudai a “Bala”; que só deseja progredir; vinde, com vosso enthusiasmo, leval-a aos parthenons da civilisação hodierna!

A Bala foi diagramada em duas colunas divididas por um fio simples. Com quatro páginas e sem qualquer ilustração, publicou crônicas e poesias, em seção intitulada “Literatura”.  Na seção “Noticias”, informava aos leitores o que acontecera na cidade: os bailes, as saídas e chegadas de navios e a permuta mantida entre os periódicos da época.

A seguir o poema intitulado “Alice”, publicado nas páginas de A Bala, e assinado por Orual. Nota-se ser o pseudônimo de alguém que possivelmente se chama Lauro, pois utilizou na assinatura, seu nome na ordem inversa das letras.

 

Alice

Seu vestido é curtinho. O langue olhar

Tem um q’ de attracção q’ me fascina;

Tem requebros gentis, forma divina:

É um anjo na terra a se adorar!

 

Sorrio. Em sua fronte, mar de rosa,

Se dilatava n’amplidão luzente,

O cabello castanho, refulgente,

Tão brando como a brisa perfumosa!...

................................................

É Alice – a franzina. Quando vejo-a

Minh’ardente paixão s’exalta. Beijo-a.

E minh’alma vagueia ao longe, além...

 

É q’a linda mulher, scentelha rápida

Se passa por mim me olha impávida

E eu que lhe digo baixinho: Alice, vem...

Parceiros