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A Bomba

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Bomba foi publicado pela primeira vez em 12 de junho de 1913, em Curitiba, capital paranaense. Impresso pela Impressora Paranaense, sua redação estava localizada na rua Marechal Deodoro, nº 36 e o proprietário era o senhor Marcello Bittencourt.

A coleção completa possui 20 fascículos que podem ser consultados na Hemeroteca Digital do Brasil. Os exemplares foram digitalizados a partir do microfilme. Seus originais, que pertencem a Biblioteca Pública do Paraná foram microfilmados através do Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros – PLANO, um programa que, desde 1978, numa parceria da Biblioteca Nacional com a Casa de Rui Barbosa, visa preservar a memória hemerográfica brasileira. No acervo da BN não constam os volumes em sua materialidade.

Normalmente os periódicos trazem o expediente diagramado logo na primeira página, e dele constam as informações pertinentes à publicação. Em A Bomba, ao contrário, o expediente é colocado em torno da trigésima página de cada exemplar. E somente lá encontramos a citação dos dados, tais como o subtítulo: “revista illustrada, humorística e literária”, ou a periodicidade: “será de publicação trimensal, sahindo nos dias 10, 20 e 30 de cada mez. ” Além do nome do proprietário, já mencionado acima, estão listados: “redactores literários: Rodrigo Junior e Clement Ritz; redactor artístico: Felix”. E a afirmação: “O corpo de collaboração da Bomba acha-se representado no que ha de mais notável em nosso meio artístico e literário”
O último exemplar da coleção foi publicado em 31 de dezembro daquele ano com numeração dupla, números 20 e 21. A periodicidade da publicação se manteve a mesma durante sua existência, um intervalo de dez dias entre cada novo exemplar.

O número 19 foi publicado em 10 de dezembro. Dia 20 deveria ter saído o vigésimo, porém, por dificuldades financeiras, isto não ocorreu. A edição de dupla numeração não se despede propriamente de seus leitores, entretanto a leitura dos assuntos abordados na primeira matéria passam a sensação de uma despedida. Despedida não só do ano que findava, como também transmite o sentimento de que a publicação talvez não emplacasse no novo ano: “Em todo caso, seguindo a venerável praxe a que a imprensa não se póde furtar, fazemos votos para que os amáveis leitores tenham boas entradas e melhores saídas de anno”.

Com quarenta páginas cada exemplar, ricamente ilustradas com fotos, desenhos e charges, seu conteúdo girou em torno do humor e da sátira. Infelizmente não é possível afirmar se as ilustrações são coloridas ou em preto e branco pois, como explicado acima, não possuirmos os originais. Em pesquisa realizada na web, é possível dizer que o periódico A Bomba foi produzido em quatro cores e media 25 cm x 18 cm.

O número avulso foi vendido por 400rs. A assinatura anual valia 14$000 e a semestral, 8$000. Para os interessados em comprar algum número atrasado, o valor era alterado para 500 rs.

Na capa do primeiro exemplar está o desenho de um bombeiro empunhando uma mangueira ejetando água numa grande nuvem onde aparecem as palavras politicagem, rotina, bandalheira e filhotismo.

As seis primeiras páginas e as seis últimas de cada exemplar são dedicadas as propagandas: endereços de médicos, produtos miraculosos para a limpeza da pele, lojas importadoras de cristais e porcelanas, joalherias, charutarias, especialidades farmacêuticas, leiloeiro especializado, são alguns dos muitos anúncios. Todas as propagandas aparecem em página inteira ou meia página, e contornadas por arabescos, floreios ou cercaduras.

Logo após, a página de rosto que, além de repetir os dados referentes à publicação, apresenta uma nova ilustração, geralmente assinada pelo autor e com uma frase ou um diálogo humorístico e debochativo.

Em seguida as palavras do editorial, assinado por Bolivar, sob o título Portico:
O gosto das leituras constitue um dos maiores prazeres intellecuaes: confirmam-no todas as pessoas de senso. É verdade, essa, reconhecida pelos mais simples entendimentos e pelos mais cultos. E tão corriqueira Ella é, tão generalizada e clara, que quando se vai, por acaso, descrever o facto da sua existência, já se sabe, de antemão, que muitos, com enfado irônico e um tanto cruel, hão de ter phrases mais ou menos assim: “Não era preciso que mo dissessem!” Felizmente é resumido o numero desses orgulhosos. A maioria acha até prazer (e como é agradável assignalal-o!) em ver num escripto qualquer, ora uma opinião que seja bem parecida á sua, ora uma ideia que esteja conforme a sua maneira de comprehender as coisas, ora a graça tênue de um sentimento, que coexista com a delicadeza do seu sentir.
O escriptor sabe que não poderá agradar a todos. [...]
O amor das leituras, subtilizado em alguns, menos intenso em outros, é um verdadeiro bem: e abençoado seja elle, que nos consola e nos faz esquecer, tantas vezes, naturalissimas desillusões, pungitivas decepções injustas, pequeninas magoas românticas.


Uma promoção de A Bomba foi um almanaque que seria distribuído para os assinantes, como pode ser confirmado no exemplar número 4, de 10 de julho de 1913. “Almanaque illustrado da “A Bomba” para o anno de 1914. Como um brinde aos assignantes de anno da nossa revista, resolvemos publicar um Almanaque illustrado para 1914, com mais de 500 paginas de leitura leve e interessante”.

Esta quarta edição apresenta também várias fotografias de uma tragédia que ocorrera no dia primeiro daquele mês em Curitiba. A explosão de um carregamento de pólvora negra, em frente ao armazém de Paranaguá, que havia sido vendido pelo Ministério da Guerra, para um determinado cidadão que a utilizaria em pedreiras. O carregamento era conduzido por praças em três carroças. As fotos, apesar da digitalização ter sido feita a partir do negativo da revista, nos dão certeza da tragédia, tão detalhadas são as descrições.

A partir do número dois, publicado em 21 de junho de 1913, até o número 13, de 10 de outubro do mesmo ano, vem encartado um novo título: O Batates. Sua descrição numérica é colocada como Anna Uma, Numera uma e o redator é Dr. Vom Lanzmann. Nesse encarte os textos foram escritos com um dialeto imitando o carregado sotaque alemão, talvez homenageando os imigrantes que povoavam a cidade paranaense.

Vários foram os colaboradores. Muitos assinavam com pseudônimos. Dentre eles destacamos Abelhudo, Bolivar, Clement Ritz, Clelio Diniz, Conselheiro Acacio, Ferrãozinho, Jansem de Capistrano, Dr. Perneta e Rodrigo Junior. E alguns dos ilustradores: Felix (Euclides Chichirro), H Scott (Helio Scotti), Jacob, K. Brito, Pichote e Sylvio (Aureliano Silveira).
Selecionamos o soneto Paisagem estranha, autoria de Rodrigo Junior, publicado na página 14 do fascículo 7.

Paisagem estranha

Que mundo novo em romanescas viagens
Aos meus olhares a ilusão descerra
Quando estou a scismar sob as folhagens,
Eu que as paisagens amo, o valle e a serra...

Sei, no entanto, que nunca de outra terra
Verei coisas estranhas e selvagens,
Mas para mim teu corpo tudo encerra,
As bizarras e magicas paisagens...

Tens na cabeça uma floresta quente,
Lagos no olhar, nas formas os vallados
Por onde correm azulinos veios...

E é toda uma região de neve ardente
Onde o vulcão dos bicos aprumados
Vive a explodir no píncaro dos seios.

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