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A Bonina: orgam dedicado ás damas

por Maria Ione Caser da Costa
A Bonina: orgam dedicado ás damas foi lançado no então município Oliveira, em Minas Gerais. Hoje, uma cidade. O único exemplar que se encontra no acervo da Biblioteca Nacional é o número 10, editado no dia 16 de julho de 1891.

Publicação de cunho literário, com periodicidade quinzenal, era propriedade de Constança A. Garcia. Tal qual outras mulheres de sua época, lutou para se colocar à frente de um universo estritamente masculino.

Na imprensa feminina podemos citar alguns exemplos de mulheres que se destacaram: a jornalista e professora, também do estado de Minas Gerais, Francisca Senhorinha da Motta Diniz (?-1910), que editou entre 1873 e 1889 O Sexo feminino, e logo a seguir, entre 1889 e 1890, junto com suas filhas, foi responsável pelo O Quinze de Novembro do sexo feminino. Outra mulher que teve destaque na literatura impressa foi a portuguesa Guiomar Torrezão e sua irmã Felismina Torrezão, que editaram, entre 1871 e 1927 o Almanach das senhoras. Infelizmente, mesmo tendo sido a responsável pelo periódico A Bonina, não foi possível encontrar mais informações sobre Constança A. Garcia.

Com quatro páginas, como habitualmente eram editados os periódicos de então, A Bonina não apresentou qualquer ilustração. Suas páginas foram diagramadas em três colunas separadas por um fio simples.

A primeira página, que também funciona como capa, inicia com o título na parte superior seguido do subtítulo. As letras do título se diferenciam das letras do subtítulo. Estas apresentam as fontes tipográficas em caixa alta serifadas, enquanto que aquelas, também com serifas, mas em um estilo que lembra o gótico.

A estas informações segue um texto em prosa com o título Violeta, que ocupa toda primeira página e é assinado por O. de C. Nele, o autor ou a autora dialoga com Iza. “Iza! Se teu nome não me percutisse n’alma, suave como um beijo, bello como um raio de luar, eu quisera que te chamasses – violeta. Adoro esta florzinha. Quando o sol se immerge no ricochete da serra deixando n’um rasto de luz o roxo do crespusculo desmaiado em tons de saudade.”

Segue com inúmeras comparações de Iza com a violeta, terminando com o seguinte texto: “Assim, Iza! Se teu nome não me echoasse no coração como um hymno de poesia, uma estrophe de amor, uma epopeia de innocencia, eu quisera que tivesses o nome da flor adorável e melancholica, o nome da Iza das flores; - eu quisera te chamasses Violeta. ”

A Bonina publicou também crônica, poesia, charadas e notícias dos acontecimentos locais. Os colaboradores são L. Guimarães, Pirylampo, Pif-Paf, J. Coutinho e Dolores. Dentre os poemas publicados em suas páginas, está um assinado por José Bonifácio com o título Desejo. A seguir um poema que não possui autoria, e tem o título Desdita.

 

Desdita

Das minhas breves canções

A mais triste vou contar.

Andavam dois corações

Um a rir, outro a chorar.

 

Quando para elles olhava

Perfeitamente sabia

Qual era o que não chorava

E qual era o que não ria.

 

Mudaram tempos; e ás vezes

Ainda os sinto passar

Exhaustos pelos revezes.

Um a rir, outro a chorar.

 

Olho outra vez; mas agora

- Termina a canção aqui! –

Não sei qual é o que chora,

Não sei qual é o que ri...

 

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