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A Chrysalida: jornal scientifco litterario e noticioso (SP)

por Maria Ione Caser da Costa
A Chrysalida: jornal scientifco litterario e noticioso foi uma publicação periódica lançada em São Paulo no dia 4 de março de 1869. Teve como redator principal o estudante acadêmico Joaquim Pereira da Silva Guimarães (1843-?) e foi impresso na Typographia do Ypiranga, que estava localizada na rua do Carmo, número 71.

A liberação da imprensa após a chegada ao Brasil da corte portuguesa, permitiu que inúmeros periódicos circulassem por todos os estados brasileiros. Alguns desses títulos destinavam-se ao leitor ávido por informações, outros para o público feminino e ainda alguns voltados para assuntos de ciência, adotando o termo científico no título, como é o caso de A Chrysalida.

O número avulso de A Chrysalida foi vendido por 200 rs. As assinaturas na capital paulistana valiam 4$500 por uma série de 16 números, e deveriam ser adquiridas na rua do Ouvidor, n. 42. Fora da capital o valor subia para 5$500 pelos mesmos 16 exemplares. Foi publicado duas vezes por mês em dias indeterminados.

O editorial, sem informação de autoria, assim se pronunciou:

 
“Na edade em que os mancebos romanos revestiam a toga viril e deixavam os masculos exercicios do campo de Marte pelas fadigas mais serias e mais fecundas da guerra, os filhos das gerações modernas, deixando os descuidos da infancia, vão esgrimir-se na arena talvez mais fertil, mais civilisadora é certo, da sciencia e das lettras.”

Dizia-o ha nove annos uma das mais brilhantes intelligencias da nossa Faculdade de Direito, e póde ser ainda hoje repetido com actualidade ao encetarmos a publicação do nosso jornal.

Nesse tempo entretanto, verdadeira edade de ouro da litteratura academica em S. Paulo, o espirito de associação estava em seu maior florescimento: o Ensaio Philosophico tinha sua Revista Mensal, o Atheneu Paulistano os seus Ensaios Litterarios, o Culto á Sciencia as suas Memorias, o Club Scientifico os seus Exercicios literários, o Amor á Sciencia os seus Murmurios juvenis, a Brazilia os seus Ensaios, o Instituto Academico o seu Kaleidoscopio, a Legenda, o Tymbira, a Revista Dramatica, os Esboços literários, o Lyrio, tudo isso publicava-se no mesmo anno com interesse, com affan, com brilhantismo. [...]

Pois bem, a nossa modesta folha tem apenas um ficto: ser o echo, posto que tenue, daquelles vividos dias academicos, chamando a um centro commum os elementos dispersos, convidando as intelligencias que ainda hoje abrilhantam a nossa Faculdade, mas que se deixam ficar cada qual á sua parte, e intentando em summa uma verdadeira cruzada contra o espirito egoistico que tão profundamente lavra entre nós.

Nesse intuito trabalharemos.

Só Deus sabe qual o resultado do nosso esforço.

Além de poemas, contos e crônicas, A Chrysalida publicou também alguns folhetins. Os primeiros exemplares trazem como folhetim “Contos da meia noite”, de Lucio de Mendonça (1854-1909), que foi considerado o fundador da Academia Brasileira de Letras, ainda assinando como L. de M.

A Biblioteca Nacional possui apenas os seis primeiros números publicados. Foram diagramados em três colunas separadas por um fio simples. Não apresentou ilustrações.  A seguir uma poesia de Hypolito de Camargo (1846-1905) com o título “Harpeios”, publicado nas páginas de A Chrysalida.

 

Harpeios

I

Eu dava-te a canção mais maviosa

Que existe por gemer na minha lyra,

Como vaga toada que suspira

Da tarde no cahir, em roseo céu,

Si quizesses ouvir os meus lamentos,

E abrandar os meus tredos soffrimentos

Com um sorriso teu.

 

II

Eu dava-te o porvir que além me assoma

Fulgente como os teus cabellos d’oiro,

E que espera entre gallas, flores, loiro,

Ao pallido cantor,

Si tu me consentisses no teu seio

A fronte reclinar, e em devaneio

Dizer-te, do teu niveo collo ao anceio,

- Tu és o meu amor!

 

III

 

Dava-te a minha vida, a liberdade,

O raio d’esperança que fulgura

Por entre os combros de fatal negrura

No triste peito meu,

E escravo, bemdiria a minha sorte,

Si tu quizesses me apontando o norte,

Embora que ao depois achasse a morte,

N’um beijo dar-me o céu!

 

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