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A Crença: sciencias, letras e artes

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Crença: sciencias, letras e artes, teve como redatores José Tomás de Porciúncula (1854-1901), Carlos Alberto de Menezes (1855-1875) e Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927). O nome principal foi utilizado em outros periódicos da época, entre eles A Crença: jornal politico e litterario, A Crença: periodico redigido por acadêmicos e A Crença: jornal hebdomadario, politico, litterario e pugnador dos interesses populares. Apenas para citar alguns deles.

Iniciou sua publicação no Rio de Janeiro. A coleção da Biblioteca Nacional inicia com o ano 1, número 6, publicado a 20 de março de 1875, e o último da coleção é o ano 2, número 24 publicado em 25 de outubro daquele ano. Apresenta ainda falhas dos números 7, 8 e 9.

O escritório da redação d’A Crença era na rua Gonçalves Dias, nº 19. Até a edição 13 foram impressos na Typographia do Paiz, que estava localizada no n° 142 da rua Sete de Setembro. Da edição 14 à 19 foram impressos pela Typographia Cosmopolita, na rua Gonçalves Dias, 19. A partir da edição 20, passou a ser impresso pela Typographia Fluminense, localizada na rua Evaristo da Veiga, n. 5.

Todos os exemplares foram diagramados em duas colunas divididas por um fio simples, com oito páginas cada exemplar. As edições de números 6 e 24, que apresentaram doze páginas cada. Uma explicação para a diversidade no número de páginas é colocada na abertura do sexto exemplar, sob o título “Declaração”.

A redação da Crença, attendendo á falta de regularidade na publicação e entrega da folha em razão dos dias sanctificados, resolveu não publical-a no dia 1º de Abril; dará, porém, 12 páginas em vez de 8, como é de costume, no numero de hoje.
Declara, outro sim, que os manuscriptos entregues á redacção não poderão ser reclamados ainda que não sejam publicados, e que toda correspondência deve ser enviada á typographia do PAIZ, á rua Sete de Setembro n. 142, com endereço á J. Thomaz da Porciuncula.


Logo abaixo do título, a epigrafe que faz menção a Arte poética de Horacio: “Sumite materiam vestris, qui scribitis, aequam Viribus”, que, em português significa “Vós que escreveis, escolhei matéria à altura das vossas forças”.
No ano 2, número 20, publicado em 20 de setembro de 1875, A Crença inicia o segundo ano de existência, e apresenta um novo subtítulo: revista da Escola Polytechica. Uma vitória, em se tratando de um periódico acadêmico, pois, em sua maioria, os títulos não conseguiam editar meia dúzia de exemplares. A explicação para a mudança de subtítulo está no editorial com a assinatura de A Redação.

Ao encetar o segundo anno de sua existência, apresenta-se – a CRENÇA – debaixo de um novo caracter. Não que se tivessem amortecido em nossos corações as idéas e princípios que lhe determinaram o nascimento, nem arrefecido o enthusiasmo e a confiança no futuro que nos deu força para chegar até aqui.
A razão é outra, e não passa de mais uma e irrecusável prova de que cada vez se tornam mais vivos e ardentes aquelles motivos de então.
Um anno de trabalho é um minuto para as emprezas seculares que tomam sobre seus hombros realizar obras monumentaes, munidas que estam sempre de forças para vencer e superar os obstáculos que se lhes possam oppor. Mesmo para os lidadores mais fracos, que não dispõem dos recursos dos primeiros, mas que caminham secundados por mil braços enthusiastas, pequenos em si, mas grandes na união solidaria que fazem, um anno não é tempo que garanta uma reputação, e muito menos que ganhe louros que lhes sirvam de prêmios ás fadigas da luta.


Os parágrafos seguintes partilham as alegrias vividas por tão trabalhosa façanha, e enfatizam a consciência do dever cumprido diante de todas as lutas e dificuldades encontradas no percurso.

Na resolução, pois de continuar a obra encetada, e de animar o jornalismo scientifico e litterario entre a mocidade adormecida desta capital, resolvemos fazer um novo sacrifício: Thomaz da Porciuncula abandonou a CRENÇA para fundar um periódico puramente medico, e os outros dous continuando nella, deram-lhe um caráter exclusivamente polytechinico. [...]
Si os esforços reunidos de três puderam sustentar uma folha por um anno, divididos elles diminuem da metade para continuar a realizar a mesma obra.
O programma da – CRENÇA – revista da Escola Polytechinica – é o mesmo que o da CRENÇA antiga. [...]
É das pequenas tentativas que nascem as grandes obras; e talvez que do pequenino tributo que se traz hoje a este insignificante manancial, parta o rio caudaloso, por que chora o Brazil a morrer de sede; morrer no meio da mais rica fonte de elementos naturaes próprios.


A seguir, o excerto do poema O Sinai e o Parnaso, de A. Cavalcanti Lyra, que está publicado na vigésima primeira edição, editada em 27 de setembro de 1875. Entretanto este poema não era original. Seus versos foram acompanhados de nota de rodapé, assinada por M. C. de Mello informando que o poema havia sido publicado em outro periódico, o A Idéa: jornal de sciencias e lettras. Entretanto, como o autor encontrara imperfeições, fizera os acertos para que pudesse ser republicado.

O Sinai e o Parnaso
(Á um poeta descrente)


Ó musas do Sinai! Correi lá do Oriente,
Trazei inspirações, inspirações ao crente
Do século christão;
Rendo homenagem santa ás crenças sublimadas,
Que nas Taboas da Lei por Deus foram gravadas,
Em face de Sião.

Foi d’alli que partiu a fulgida legenda
De um povo arrebatado é tyrannia horrenda
De torvos Pharáos;
Foi alli que Moyses deu leis á humanidade,
Guiando-a áCanaan, p’ra a santa liberdade,
Longe do reino atroz.

Não invoques, amigo, as musas do Parnaso...
Acaso alli não vês da crença o negro occaso,
A duvida pagã?
Vamos ambos beber na fonte inexhaurivel
De terna inspiração, que o sceptismo horrível
Não gera a mente sã.

[...]

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