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A Epocha: revista da quinzena: fantasias, romances, lettras, theatros, bellas-artes

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Epocha: revista da quinzena: fantasias romances, lettras, theatros e bellas artes foi editado no Rio de Janeiro pela Typographia de Brown & Evaristo, que estava localizada na rua do Senado nº12.

Seu primeiro exemplar saiu no dia 14 de novembro de 1875, um domingo.  O número avulso foi vendido por 800 réis. A assinatura anual para a corte valia 12$000, a semestral valia 7$000 e 4$000 a trimestral. Para os pedidos de assinatura fora da corte, seriam acrescidos 500 réis por trimestre.

Um aviso logo abaixo do título informava que: “as pessoas a quem remettemos este numero, se nos quizerem honrar com suas assignaturas, são convidadas a fazel-o saber á Redação.”  O escritório da redação estava localizado na rua da Quitanda, nº 47.

A Épocha tinha como foco, matérias voltadas para as artes, a literatura e a vida cultural do Rio de Janeiro. Os textos publicados aparecem distribuídos em colunas fixas: “Chronica da quinzena”, “Arte, sciencias e lettras”, “Correio do Rio”, dentre outras.

As capas dos três números foram diagramadas com duas cercaduras em fio simples. Na parte superior estão localizados, nessa ordem, o número, a data e ano de publicação, logo a seguir, o título com subtítulo, endereço e valores de assinaturas. Na parte inferior do espaço demarcado pela cercadura, encontram-se vários anúncios de obras em francês, que estavam sendo vendidas pela Livraria Garnier, localizada na rua do Ouvidor, nº 65.

As segundas páginas apresentam o sumário de cada fascículo. Cada exemplar, medindo 35cm x 27cm, com 16 páginas, todas diagramadas com cercadura dupla, demarcando a mancha gráfica.

Na página 3 do primeiro fascículo temos o editorial, espaço onde os responsáveis pela publicação apresentam e descrevem suas intenções com o lançamento do periódico. Vamos ao texto:

 
O nosso programma é não tel-o.

Se as nossas esperanças forem realizadas, sendo bem acolhida a presente tentativa, a Epocha poderá talvez um dia preencher uma lacuna sensível de nossa imprensa, a de uma publicação destinada á apresentar, sob uma forma ligeira, uma opinião reflectida sobre as diversas questões artísticas, litterárias e politicas, que mais interessam ao nosso tempo, e a servir de orgão áquella parte de nossa população, que se chama em um sentido restricto – a sociedade brasileira.

As pessoas que, comprehendendo o nosso ponto de vista, quizerem auxiliar-nos, terão francas as nossas collumnas.

Os diversos collaboradores desta folha têm, nas secções que redigem, a mais completa liberdade de pensamento, e cada um responde exclusivamente pelos artigos, que assigna com o seu pseudonymo.

Logo após o editorial, o primeiro conto “A chinela turca” escrito por Machado de Assis (1839-1908) e assinado pelo pseudônimo de Manassés. Outras colunas e artigos também aparecem assinadas por pseudônimos: Fantulla, Pierrot, D. Raymundo, Ninguem, Todo Mundo, Giroflé-Giroflá e Swift são alguns deles.

De acordo com Nelson Werneck Sodré, em História da imprensa no Brasil, A Epocha, foi fundada por Machado de Assis e Joaquim Nabuco (1849-1910), teve vida efêmera, publicando apenas quatro exemplares.

A Biblioteca Nacional possui três exemplares de A Epocha, que podem ser consultados na Hemeroteca Digital. O primeiro, descrito acima, e os segundo e terceiro, que saíram publicados nos dias 1º e 18 de dezembro, respectivamente. Existe também uma duplicata do segundo exemplar na Coordenadoria de Publicações Seriadas.

Um dos poemas publicados nas páginas de A Epocha está na coluna “Poesias” com o título “Soneto”.

 

Soneto

Estou deveras zangado, eu lhe dizia,

Em um canto da sala, no Cassino:

- Mas zangado porque? Eu perco o tino,

Por ventura não fiz o que pedia?...

 

- Onde a flôr que lhe dei, e que trazia

Inda ha pouco no seio peregrino?

Deu-a ao par da quadrilha, ao tal menino

Que persegue-a incessante noite e dia.

 

- O Senhor é bem máo!... E fez um mômo,

Assentando-se após em uma cadeira.

- Eu guardei sua flôr, quer saber como?

 

O recorte de gaze abrio ligeira,

Vi a flôr convertida em niveo pomo...

E inda não senti coisa que mais queira.(*)

 

(*)Camões.

 

 

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