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A Epocha: revista litteraria e scientifica daFaculdade Livre de Sciencias Juridicas e Sociaes do Rio de Janeiro

por Maria Ione Caser da Costa
A Epocha: revista litteraria e scientifica foi o órgão de comunicação dos alunos da Faculdade Livre de Sciencias Juridicas e Sociaes do Rio de Janeiro, editada pela primeira vez em maio de 1906, na então Capital Federal.

A Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro foi considerada a maior escola de formação em direito do Estado. Fundada em 1882 por Fernando Mendes de Almeida (1845-1921), fundiu-se em 1920 com a Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro, fundada por Carlos Antonio de França Carvalho (1845-1909), formando a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Em 1937 recebeu a denominação de Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, e, em 1967, Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ou somente Faculdade Nacional de Direito.

No número de lançamento, com o título “Encetamos”, e assinado por “A Redação”, os editores explicam aos leitores o que lhes será apresentado nas páginas d’A Epocha, confirmando, num extenso editorial, o compromisso com a lei e as letras.
Ao iniciarmos a publicação da presente revista, seja-nos licito algumas palavras justificativas desse emprehendimento.

É o costume, que tem a força de um direito, devendo-se respeitar e não quebrar a praxe por elle estabelecida, que nos obriga a vos dirigir algumas linhas, caro leitor, que não terão o caracter de programma, a solemne autoridade de um artigo de fundo, antes encerrando, na simplicidade de sua forma e no descolorido de suas idéas, um voto de benevolemcia. De facto, é hoje, como que uma formalidade imprescindivel, ao começar a vida de um jornal, de uma revista, a exposição de idéas que venham esclarecer quaes os motivos, as razões que determinaram esse proceder. Sendo assim, para não nos insurgirmos contra um habito indispensavel, diremos algumas palavras, reiterando o pedido não consideral-as com a feição de um programma, mas como uma satisfação devida aquelles que nos honram com sua leitura.

Parece-nos perfeitamente desnecessario declararmos que sempre estaremos ao lado da liberdade, lutando em prol della e batendo-nos pela sua inviolabilidade, quando ameaçada; que estaremos ao lado das causas populares, esforçando-nos pela garantia dos sagrados direitos do cidadão, pelos grandes interesses da nação e pela felicidade da patria. [...]

Não, uma outra razão aqui nos traz, um outro movel aqui nos detem - cultivar as lettras e sempre honrar a classe academica - eis o nosso lemma, a nossa divisa. [...][*]

Finalizam o editorial pedindo a "benevolencia de todos que nos lerem, prudencia e esforço, eis o que nos fortalecerá na espinhosa tarefa que assumimos, na difficil missão que pretendemos desempenhar"

A Epocha reuniu em suas páginas artigos que apresentavam temas como a produção do conhecimento na área do direito, sobre o fazer literário e também sobre a vida universitária. Jovens estudantes e renomados professores, com seus artigos, dialogavam com a ciência e a literatura traçando um paralelo com a legislação.

O número avulso foi vendido por 1$500 e a assinatura trimestral valia 3$000. O expediente informava que a publicação aceitava artigos para serem publicados e que A Epocha seria publicada nos meses pertencentes ao ano letivo.

Publicação que se pretendia mensal, observa-se que vários fascículos circularam com periodicidades variadas. Existem algumas falhas na coleção da Biblioteca Nacional.

O subtítulo revista litteraria e scientifica permanece até o número 83, de outubro de 1918. A partir de abril de 1919, fascículo que também recebeu o número 83, o subtítulo muda para revista da Faculdade de Sciencias Juridicas e Sociaes do Rio de Janeiro. O último exemplar da coleção que pode ser consultado na Hemeroteca Digital e o ano 14, número 89, publicado em 31 de outubro de 1919.

Alguns dos colaboradores de A Epocha foram Bernardes Sobrinho, Edgard Romero, Heraclito Bias, Hermano de Villemor, Hermeto Lima, Hugo Simas, J. E. Sayão de Bulhões Carvalho, Jonathas Serrano, Paes de Oliveira, Paulo Domingues Vianna e Sylvio Romero.

Selecionamos um dos sonetos publicado na página 11 do primeiro exemplar, “Olhar estranho”, de autoria de Jonathas Serrano.

 

Olhar estranho

 Encerra aquelle olhar doçura tanta

E uma serenidade tão severa,

Que, si ás vezes o julgo de uma santa,

Outras se me afigura de uma fera.

 

Enfeitiça, seduz, arrasta, encanta.

Humilha, vence, mata, dilacera.

Tem os gelos do inverno que quebranta,

E os sorrisos gentis da primavera.

 

Agora, entre relampagos, fuzila.

Logo após, numa subita mudança.

Serenamente limpido, scintilla.

 

São pupillas de esphinge, indecifradas,

Feitas de desespero e de esperança,

De treva e luz, de poentes e alvoradas.

 

[*] Para continuar a leitura acesse http://memoria.bn.br/DocReader/183890/2

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