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A Família: jornal litterario dedicado á educação da mãe de familia

por Maria Ione Caser da Costa
O primeiro exemplar do periódico A família: jornal litterario dedicado á educação da mãe de familia foi lançado na cidade de São Paulo, sem numeração nem data. Trazia como designação numérica a informação “numero programma”. Era de propriedade da professora pernambucana Josephina Alvares de Azevedo, que também desempenhava as funções de diretora e redatora-chefe. Uma data no interior de suas primeiras páginas informa ser do dia 15 de novembro de 1888.

O segundo exemplar apresenta data e numeração. É o ano 1, n. 2 e é publicado no dia 8 de dezembro de 1888.

Josephina se mantém à frente da publicação até março de 1891, quando a mesma passa às mãos de uma sociedade anônima: a Companhia Imprensa Familiar. Ela continua, entretanto, como editora e redatora, assinando seus artigos como Zefa.

O periódico A Família foi produzido e direcionado às mulheres, com propostas vinculadas aos seus interesses, sobretudo no que tange à educação. Logo em sua primeira página, o artigo “O Sexo Feminino” trouxe estampado os dizeres: "É pelo intermédio da mulher que a natureza escreve no coração do homem".

Com a mudança de sua proprietária para o Rio de Janeiro, o periódico A Família passa a ser editado na então capital do Brasil. Nada muda além do local de publicação. A Família segue a mesma numeração e o mesmo tipo de formatação. De um modo geral, os temas também se mantiveram idênticos, pois continuou a publicar textos cujos temas eram referentes à educação e ao voto feminino. Com periodicidade semanal, apresentou pequenas mudanças no formato físico e alterações no subtítulo.

A maioria dos fascículos de A Família foram impressos com oito páginas, diagramados em três colunas, separadas por um fio simples.  Alguns exemplares tinham quatro páginas e seguiam a mesma diagramação. Alguns fascículos são ilustrados utilizando a técnica da litogravura ou xilogravura, de Alfred Martinet (1821-1875) ou Alfredo Pinheiro (1859-190?). Apresentou também ilustrações de Manoel Francisco Corrêa (1831-1905).

Os valores cobrados pelas assinaturas variavam entre a capital, o interior ou as províncias. Em 1890, entre as edições de número 61 e 87, a publicação sofreu alteração de formato diminuindo os valores de assinaturas.

A Familia, apresentou as seguintes seções, que não eram publicadas de modo constante: "Expediente", "A Família", "Novidades", "Como nos tratam", "Seção Alegre", "Receitas Domésticas" (com dicas de remédios, culinária, cosméticos, etc), "Teatros", "Indicador", "Livros e jornais", "Necrologia" e "Anúncios".

As propagandas encontradas nas páginas da publicação são de água mineral, fábrica de cerveja, loja de fantasias, sapólio, fotografia, pianos, armazéns, chapéus, fazendas e armarinhos, elixir, modista, louças, confeitaria, xarope, sorvetes, camisaria e bancos.

As colaboradoras eram muitas. A maioria, professoras que escreviam sobre suas experiências, sempre com foco na educação da mulher. Algumas delas: Adelia Barros, Amelia Gomes de Azevedo (1866-1929), Analia Franco (1853-1919), Avelina Corrêa, Emiliana de Moraes, Faustina Saez de Melgar, Ignez Sabino Pinho Maia (1853-1911), e Maria Zalina Rolim (1869-1961) além de Mme. Potonié Pierre (representante em Paris). Todas tinham em comum o aperfeiçoamento da sociedade brasileira através da educação da mulher.

A trajetória de A Família foi considerada muito significativa para a época. Seu último exemplar, publicado em 28 de outubro de 1894 recebeu a designação numérica de ano 6, n. 177. Dentre os vários poemas encontrados na publicação, selecionamos um soneto de Anna Autran (1856-1933), com o título de “Na Cabana”.

 

Na Cabana

Á margem d’aquelle rio,

Sustem casinha de palha...

Enquanto a jovem trabalha,

O velho treme de frio...

 

Solta no chão corrupio,

Descose a rede de malha,

Despe da mesa a toalha,

Soltando agudo assovio,

 

Uma travessa criança

Que já não toma conselho

Da jovem que não descança;

 

E que do avô, no joelho,

Salta, afinal, se embalança

Fazendo sorrir o velho.

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