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A Galeria illustrada

por Maria Ione Caser da Costa
O primeiro número da revista A Galeria illustrada foi publicado em Curitiba, capital da província do Paraná, no dia 20 de novembro de 1888.  Período que antecedeu ao fim da Monarquia e ao estabelecimento da República.

Seu proprietário e diretor foi o espanhol Narciso Figueras, que chegou no Brasil na década de 1880 e em 1887, monta a Typographia e Lithographia do Commercio, que localizada na rua do Riachuelo, n. 20, em Curitiba. Com a Tipografia e Litografia do Comércio, Figueira inovou as artes gráficas, e que mais tarde, se tornaria a Impressora Paranaense.

O nascimento de A Galeria illustrada, a maneira como foi concebida, as conversas iniciais à criação da publicação, aconteceram de maneira informal. Um texto, assinado por Nestor de Castro, contempla o diálogo e conta com detalhes como surgiu a revista, que pode ser lido na íntegra nas páginas 6 e 8, do primeiro exemplar, no título: Uma conversa.

Publicação carregada de conteúdo artístico e educativo, lemos no editorial, com o título Opinião, como Narciso Figueiras exprime o jeito moderno e criterioso pretendido para sua revista:
A “Galeria Illustrada” apresenta ao publico benevolo o seu primeiro numero, conscia de que, encontrando a protecção deste, poderá marchar desassombradamente na arena do jornalismo moderno, e desempenhar fielmente o grande papel que os seus contemporaneos representam na liça das grandes e momentosas questões que ora revolucionam o animo nacional: - falamos das grandes transicções porque estão passando a litteratura e os nossos costumes populares.

Aqui desenvolvemos o nosso programma, que, embora seja por demias laconico, exprime sinceramente tudo quanto pretendemos executar na luta que hoje encetamos em pról do progresso desta nascente provincia.

É de genero completamente novo, a publicação que hoje emprehendemos.

Sem se affastar das normas até hoje adoptadas na imprensa brasileira, “A Galeria Illustrada” será um jornal de typo europeu, dando aos seus leitores paginas illustradas com paysagens, retratos de homens celebres, tanto desta provincia como de paizes estrangeiros; e critica dos acontecimentos locaes, apresentando igualmente um texto variadissimo em litteratura, noticias etc. [...]

Para nos auxiliarem no desempenho da espinhosissima missão que hoje enfrentamos, contamos com algumas penas notaveis de escriptores nacionaes, que estão promptos a acudirem ao nosso appello, trabalhando denodadamente no ciclo de nossas ardentes aspirações.

Eis o molde em que varsamos "A Galeria illustrada"; resta para ella conseguir o seu intento - que não lhe falhe o favor publico e o auxilio das suas co-irmãs.

O número avulso de A Galeria illustrada foi vendido por 500 réis. As assinaturas deveriam ser anuais, mas "para facilitar a cobrança e regularisar os nossos compromissos, dividimol-as em duas prestações semestraes, pagas adiantadamente" um semestre valia 8$000 na capital e 10$000 fora dela. Os números atrasados eram vendidos por 1$000, tanto na capital quanto fora.

O último exemplar de A Galeria illustrada, o número 24, veio a público no dia 29 de setembro de 1889. Os fascículos podem ser consultados na Hemeroteca Digital, faltando apenas os número 18, 21 e 22. A digitalização foi feita a partir dos rolos de microfilme do periódico. Os originais pertencem ao acervo da Biblioteca Pública do Paraná, do Instituto Néo-Pitagórico e do Professor Osvaldo Pilotto.

Medindo 27,5cm x 38 cm, com um número médio de 16 páginas por fascículo, apresentou, como particularidade a numeração de páginas sequencial. Permaneceu bastante ilustrada até o número 16. A partir do número 17, deixa de ter vinhetas e decorações, e anuncia a saída de João Philippe Delphach, o litógrafo.

Em A Galeria Illustrada, percebe-se a união do texto com a imagem, denotando a história, explicando o período histórico em que o periódico está inserido. Isto permite uma compreensão do formato de vida que envolveu educação e arte, na sociedade oitocentista de Curitiba.

Alguns do colaboradores de A Galeria illustrada foram Hyalino (J. Moraes), Valentin Magalhães, Chichôrro Júnior, Lívio de Castro, Rocha Pombo e Silva Jardim. Apresentou também desenhos de Narciso Figueras, Paulo Assumpção, Julio Bellini, Leschaud, Raul Pompéia, Silveira Neto, Stek e Torini.

A seguir o soneto Bolha de Sabão publicado no número 8, que tem a assinatura de Lydéo.

 

Bolha de sabão

 Tremula nasce, vacillante cresce;

Pallidas tintas de amaranto e rosa

Bordando vão-lhe a face luminosa

D'onde, por fim, o iris resplandece.

 

Aos impulsos do sopro a que obedece

Do berço se deslisa ruborosa,

E, entregando-se a aura carinhosa,

Ufana vôa, eleva-se e... fenece.

 

Assim nasce a illusão ao doce alento

Da esperança, ensancha-se fulgura

Innundando de luz o pensamento.

 

Lança-se ao porvir radiante e pura,

Ufana vôa, eleva-se um momento

E um momento fugaz apenas dura.

 

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