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A Gallegada: folha reaccionaria

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico com o título A Gallegada: folha reaccionaria surgiu na antiga capital do país, o Rio de Janeiro, no dia 04 de maio de 1883. Foi impresso pela tipografia que estava localizada no número 16 da rua São José e seu número avulso era vendido por 40 réis.

Na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional podem ser consultados os cinco exemplares publicados, tendo o número 5 saído no dia 05 de junho daquele ano. O sexto exemplar da coleção veio a público no dia 05 de agosto de 1886, e recebeu a designação numérica de ano 2, n. 4, depois de um intervalo de três anos. Infelizmente este último está danificado, com as páginas rasgadas e faltando alguns pedaços, o que impossibilita a leitura.

Cada exemplar com quatro páginas, cada uma delas divididas em quatro colunas separadas por um fio simples. Não apresentou ilustrações.

Também não são encontrados os nomes dos responsáveis pelo periódico. Apenas os nomes de alguns colaboradores, que podem ser também pseudônimos:

A Gallegada que tinha como programa "dizer ao paiz toda a verdade a respeito dos gallegos", trouxe o sugestivo nome de Exordio, para seu editorial, que assim inicia:
Estamos recolhendo dados para mostrarmos ao publico como e porque fórma, os gallegos, que aqui aportam, fazem fortuna em breve tempo.

Havemos de desvendar aos olhos deste povo, como a canalha portugueza que aporta a nossas plagas, não trazendo mais que uma caixa de pinho vazia (?)  e a roupa do corpo que é uma camisa de algodão, e calça da mesma fazenda, chapeu desabado, um jaléco e um par de soccos, torna-se em poucos annos proprietaria, rica, titular e até millionaria!

É um segredo de que temos a chave, e que já não publicamos, porque só queremos dar em balda certa.

Todos sabem que uns fizeram fortuna, por ter passado moeda falsa, outros pelo trafico de escravos, muitos por haver roubado na industria a que se dedicaram, enfim, todos por serem ladrões.

Portanto, aos brazileiros patriotas, pedimos que nos forneçam o que tiverem a respeito deste ou daquele gallego, contanto que os não calumnie, porque elles já são por demais miseraveis e vis, para que qualquer se lembre de faltar a verdade em taes informações.

Como já mencionado anteriormente, não sabemos os nomes dos responsáveis pela publicação. Todas as matérias seguem esta proposta: denegrir os portugueses que chegaram às terras brasileiras e tentar dignificar os que nas terras brasuleiras nasceram.

Os portugueses assinalaram o domínio colonial no Brasil, fundando associações, contribuindo também nos periódicos brasileiros de então. Ler esta publicação, contribui para conhecer e refletir sobre a diversidade de temas e os registros de uma época.

Destaque, a seguir, para o poema publicado no terceiro exemplar, do dia 15 de maio. Tem o extenso título de José das dornas ao seu compadre Bernardo, e está na página dois.

 

José das dornas ao seu compadre Bernardo

Bon muito vem pru qui

Gordo como um leopardo,

Meu velho amigo e compadre,

Ficando rico Burnardo.

 

Pucho carroça de dia

Como um vurro ou um caballo

A noite conto o dinheiro

Oh! Burnardo cá regalo!

 

Fui a tal festa da Penha

Que festa vonita! o binho

Foi-me a suvir a caveça

Que eu já não bia o bisinho.

 

Adeberti-me cumpadre

Da cabeça inté o pés,

Mas gastei muito dinheiro

Mal raio! cinco mal réis!

 

Que já serbia pra o dote

Da minha afilhada Urraca

Que deve estar uma porca

De gorda, mas sem pataca.

 

Já bi cá o imperadoire

É um homem mui varvado,

Também bi o Zé das Poldras,

E o commendaoire Leonardo.

 

Outro dia carregando

Quasi rendo das birilhas,

Mas fiquei são como um pero

E bou as mil marabilhas.

 

Está por cá Manél Barradas

Rapaz de muito talento,

Que lebanta seis arrobas

E as carrega que um jumento!

 

Dá lembranças ás meninas

E pergunta se essas cornas,

Se não tem muitas saudades

Desse bello

José das Dornas

 

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