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A Idéa: orgam do Club dos Estudantes

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Idéa: orgam do Club dos Estudantes teve seu primeiro exemplar publicado em uma segunda-feira, dia primeiro de outubro de 1888, em Curitiba, capital da então Província do Paraná. Neste primeiro exemplar encontra-se a ata de criação do referido clube:

Em virtude de um convite feito pelos estudantes Alfredo Pirajá, Braulio Carneiro, Ermelino de Leão, Julio Guimarães, Eurides Cunha e Canrobert Costa, e inserto na “Gazeta Paranaense, reuniram-se em um dos salões da “Escola Normal”, á 1 hora da tarde do dia acima indicado 17 estudantes de humanidades, que fundaram um Club denominado “Club dos Estudantes”, depois de ter o Sr. Alfredo Pirajá exposto o fim da reunião.


Os estudantes em questão são todos das escolas daquela capital, públicas e particulares, que cursavam ciências sociais e humanas, como pode ser confirmado no segundo exemplar, publicado em 16 de outubro daquele ano, onde os editores agradecem aos elogios recebidos, publicado no jornal A Republica.

“A Republica” o valente orgam democrático, desta capital, noticiando, em seu numero de 4 do corrente, o apparecimento de “A Idéa”, diz que ella é redigida por “um punhado de estudantes do Instituto Paranaense”.
Agradecendo, ao amável collega, as benévolas palavras com que nos acolheu, pedimos-lhe permissão para rectificarmos aquelle engano, com certeza involuntario e originado de má informação.
“A Idéa”, é, como declaramos no alto da 1ª página, - orgam do Club dos Estudantes. Agora declaramos também que o Club dos Estudantes é constituído pela maioria dos estudantes de humanidades desta capital: contem em seu gremio, não somente alunos do Instituto Paranaense, mas tambem de quase todos os collegios particulares, como o Parthénon Paranaense, o collegio Loyola, etc. Portanto, “A Idéa” é – orgam do Club dos Estudantes.


Os sócios do clube determinaram a criação de um periódico para que nele, pudessem partilhar seus conhecimentos e experiências. Nasceu o A Idéa: orgam do Club dos Estudantes, que assim se apresentou:

Apresentámos á luz da publicidade este periódico, orgam do Club dos Estudantes. Simples e modesto é seu porte, porém nobre e elevado é seu intento.
Assim como a criança solta os primeiros sorrisos á sua mãe q’a affaga, assim como a flor expande seus primeiros perfumes á aurora que a orvalha, tambem nós soltamos as primeiras saudações ás luzes que nos esperam.
É um jornalzinho como este a fonte do desenvolvimento intellectual da mocidade, e, se Ella estuda, é justo que trate de desenvolver-se. O desenvolvimento é uma parte constituinte da verdadeira instrucção e a instrucção é o motor das grandezas!
Estamos convictos de que vós não encontrareis em nossos escriptos producções brilhantes e de alto merecimento, não encontrareis d’esses rasgos que o genio somente pode produzir, mas sim simplesmente artigos de moços que despertam-se ante o sanctuario das lettras, encontrareis ensaios de moços que principiam; mas uma consolação nós temos: não se principia como obras primas e a nossa pequenez de hoje não é prenuncio da pequenez de amanhã: assim se principia. E vós que desejaes ver a nossa cara província com um renome que a honre no palco litterario do futuro, vós que amais as lettras, vós finalmente, que pugnaes pelo progresso, ajudae aos moços que são os homens do mysterioso porvir a cuidar do cultivo de seu espírito, a preparar as suas almas para a grande conquista da vida – para a conquista das idéias: pois que é o meio efficaz para que elles possam algum dia affrontar as grandezas do século das luzes!
A nossa ambição é instruir-nos: portanto prestae os vossos braços valiosos em nosso favor, ajudae os moços em tão justa contenda e sereis recompensados, não certamente com dinheiro, não certamente com riquezas, porem com uma coisa que vale mais ainda: nos tropheus da luta encontrareis escripta a Victoria de vossas armas, as luzes redundantes em muitas cabeças, que vós ajudastes a conquistar! Ajudae-nos! Ajudae-nos!


Nos três primeiros exemplares não constam os nomes dos responsáveis. “Redactores e Collaboradores – Diversos” é a informação que aparece logo abaixo do título. Do quarto ao décimo exemplar, constam os nomes de Azevedo Macedo, C. Costa (Canrobert Costa) e Saldanha Sobrinho como “commisssão redactora”. Nos números 11 e 12, o Saldanha Sobrinho é substituído por Alfredo Pirajá, assim permanecendo até o décimo sexto exemplar. O número 17, último da coleção existente na Biblioteca Nacional, saiu publicado em 14 de julho de 1889 e tem como redatores, além dos citados acima, o nome de Dario Velloso, vindo grafado ao lado de seu nome, entre parêntesis, Aramis. Acredita-se que era com este pseudônimo que ele assinava suas contribuições.

Diagramado em três colunas, sem ilustrações, salvo as letras dos títulos das seções virem envoltas com desenhos em seu entorno. Foi impresso na “Typographia d’A Republica”.
NoO expediente, além do valor da assinatura trimestral: 1$200 para a capital e 1$500, fora da capital, sempre com pagamento adiantado, trazia outras informações: “fazemos distribuição do nosso periódico e aquelles que não devolverem serão considerados assignantes; toda e qualquer correspondencia deve ser dirigida á capital á casa n. 19 da rua do Aquidaban; Os artigos enviados a esta redacção não serão restituídos, embora não sejam publicados. ”

O sexto exemplar, que deveria ter sido editado no dia 16 de dezembro, o foi no dia 19, como forma de homenagear o estado do Paraná e a todos os paranaenses pelo importante significado que esta data lhes relembra: “todos os paranaenses deviam manifestar o seu patriotismo no dia de hoje, que nos recorda a data em que raiou para nós uma aurora, embora tenue, de liberdade, uma éra de autonomia administractiva, essencial para o nosso desenvolvimento mateiral”. Todos os artigos deste exemplar homenagearam o dia da Emancipação política do Paraná.

Com textos que se dedicaram a enaltecer e fortalecer o estado do Paraná, encontramos na páginas de A Idéa, folhetins, contos, notícias diversas, poesias e uma seção de variedades.

A seguir alguns dos colaboradores: A.M [Andrade Muricy], Alberto Guimarães, Alberto de Oliveira, Alfredo Pirajá, Aramis (pseudônimo de Dario Velloso), Araripe Junior, Azevedo Macedo, E. A. Leão [Ermelino Agostinho de Leão (1797-1863), Emilio Castellar, Emilio Littré, Gonçalves Crespo, J. de Santa Rita, J. Moraes e Silva, Julia Lopes, Leoncio Correia, Luiz D. Cleve, Luiz Guimaraes Junior, Manoel Pernetta, Ozorio de Araujo, Phortos, Saldanha Sobrinho, Silveira Netto, Silvio Romero, Sylvino Americo e Theodomiro.

Do quarto exemplar selecionamos um soneto de Silveira Netto, intitulado Contraste sublime.

Contraste sublime

Que odor pode exhalar a flor emeaçada
Do caustico solar suas pet’las abater?...
Que jub’lo pode ter, na vida – grande estrada
Um triste coração sentindo-se a morrar?...

Nada! Só tristeza e sispiros, e só nada.
Um grito de agonia, um riso d’extorcer
Ah! Mas que contrast’á mundana gargalhada;
Cresta o sol ardente... o’rvalho faz viver:

Então, a flor crestada, outr’ora tão louçã,
Recebe da Natura, ás pet’las magoadas,
O bafejar da tarde, o pranto da manhã:

Assim o coração, - o anjo lutador –
Recebe d’outro anjo, ás queixas orvalhadas,
O balsamo de “filho”, as lagrimas do amor.

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