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A Luz: orgam litterario e recreativo quinzenal

por Maria Ione Caser da Costa
Surgia no Rio de Janeiro em 15 de agosto de 1904 um novo periódico, A Luz que teve como subtítulo orgam litterario e recreativo quinzenal.

Seus diretores foram Oscar Costa e Alarico Sampaio, sendo que a partir do número seis, Oscar Costa deixa de fazer parte da direção da publicação. Como redator estava Cícero dos Santos. Todos jovens estudantes que buscavam o reconhecimento e um lugar ao sol no difícil campo jornalístico.

Com o título 'Lá vai mécha...', eis o editorial, que é assinado por 'A Redação':
Eis querido leitor, o nosso pequeno e simples jornal para o qual empenharemos todos os nossos esforços, no seu progressivo desenvolvimento e bem servir a todos quantos nos dispensarem a honra de uma pequena leitura, nas suas modestas columnas.

Nada prometemos por enquanto aos nossos bons leitores, porque nada possuimos. Entretanto em cada coração dos jovens que tentaram levar avante esta empreza arriscada e escabrosa, existe uma inquebrantavel bôa vontade.

O nosso lemma é: instruir, instruindo-nos, pois julgamos que, instruir é o melhor me o de apprender.

Em segundo, desejamos encontrar sempre nos bons leitores e gentis leitoras, o riso franco e amigavel, para continuar a receber-nos sempre com invejavel alegria e bom humor.

Proporcionar á todos uma leitura amena e interessante, constitue e completa o nosso pequeno programma.

Na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional podem ser consultados seis exemplares dessa coleção. Na sequência dos oito primeiros publicados, existe falta dos números três e cinco. O último da coleção, o número oito, foi publicado no dia 15 de dezembro de 1904. Não foi possível encontrar qualquer notícia sobre a continuidade do título.

O ano de 1904, que os responsáveis pelo periódico escolheram para lançar a publicação, foi um ano ímpar para o Rio de Janeiro. O cenário carioca começava a mudar com a revitalização que estava em curso. Aconteceu também a revolta da vacina, talvez a mais terrível da República. As notícias que circulavam eram somente ofertadas pela imprensa, já que rádio e televisão ainda não eram objetos de consumo. A modernização da cidade também estava em curso, que tomava como base a cidade de Paris. E esse é um assunto recorrente em A Luz, a preocupação com as mudanças...

 
A nossa encantadora cidade actualmente está passando por um período de metamorfose, e é justamente por isso que as exposições de pintura, os concertos musicaes, os espectaculos das boas companhias theatraes, têm passado um tanto despercebidos, o que acho bem razoável. Digo, bem razoável, porque num período como este, em que se constroem avenidas, obras do porto, embelllezamento de cães, movimento politico muito agitado, vacinação obrigatória, em summa um nunca mais acabar de cousas, é bem razoável qie o nosso publico não se incomode com os theatros, nem com os concertos e exposiçõesde pintura, e pode-se dizer sem errar com as artes em geral...

Jornal do subúrbio do Rio de Janeiro, traz notícias dos eventos que aconteciam no Méier e na Penha, divulgando e fazendo a união entre os moradores e os leitores. Charadas, poemas, contos, crônicas e notícias comemorativas do dia a dia também podiam ser encontradas nas páginas de A Luz, com a assinatura de vários colaboradores, tais como Alarico Sampaio, Antonio Faria, Cicero Santos, Fausto Cardoso, João Barretto, Mariano Chaves, Octavio Moreira da Silva, Oscar Costa, Sebastião Bastos,

E é de João Barretto que selecionamos a poesia, com a finalidade de ilustrar nossa página. Foi publicada na segunda edição de A Luz, na página 3 e tem o título de 'A flor da magoa'. Numa rápida pesquisa na web, nada foi encontrado sobre João Barretto. Mas chama a atenção alguns destaques encontrados remetendo a João do Rio, cujo nome completo era João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto.

 

A flôr da magoa

Homens, quando eu passar olhos fitos na terra,

Com o aspecto de quem vive a morrer de magua;

Homens, quando eu passar com os olhos rasos de agua,

Reparai que sorriso os meus labios descerra!

 

Como o cardo nascido em solitaria fragoa,

A pega no granito os tentáculos, medra

Transformando em silencio o pós negro da pedra

N’uma flor infeliz que symbolisa a magoa:

 

E eu que passo entre vós com olhos rasos de agua,

Que não tenho um carinho e não faço um queixume,

Transformo no silencio a amargura em perfume

E é meu sorriso a flor tristíssima da magoa!

 

 

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