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A Messe: periodico da Sociedade Retiro Litterario Portuguez

por Maria Ione Caser da Costa
A Messe: periodico da Sociedade Retiro Litterario Portuguez teve seu lançamento no dia 1º de janeiro de 1860, sendo impresso pela Typographia de Paula Brito. A partir do número 4 a impressão passa a ser pela Typographia N. Lobo Vianna e Filhos, localizada na rua da Ajuda, nº 79. Uma publicação quinzenal elaborada pelo Retiro Litterario Portuguez.

O Retiro Litterário Portuguez foi uma sociedade literária, fundada no Rio de Janeiro em 1859, por iniciativa de Constantino Joaquim de Azevedo Lemos.  Seus membros eram portugueses que buscavam, participando do movimento associativo cultural, promover suas atividades e disponibilizar aos imigrantes portugueses, um local para aprendizado e intercâmbio. A Sociedade contava com “114 effectivos, 1 honorario e 2 correspondentes”.

Além de A Messe, o Retiro Litterario Portuguez publicou também, em 1870, o Archivo do Retiro Litterario Portuguez, e entre os anos de 1882 e 1885 a Revista do Retiro Litterario Portuguez.

Com o título “Introducção”, e assinado por “A Redacção”, um longo editorial partilha o sentimento que impulsionou a criação de A Messe. Eis um excerto:

 
D’entre as horas calmas do descanso, vai levantar-se um monumento pobre, porém filho do trabalho e da vontade de saber.

Será talvez acanhado e deficiente, porque faltos de meios são os obreiros delle, porém, o corpo sacrificará contente muitas de suas exigencias, assistirá resignado ao funeral de mais de uma commodidade; e o espirito que hoje pede as horas do pouzio da materia para esvoaçar largo e sem raias, em outra região mais diaphana, [...] verá alegre entreabrir-se a alvorada de seu reinado. [...]

Afiançamos que na nossa Messe, a cicuta não terá lugar junto do agrião, porque conhecemos o perigoso da primeira, e cuidaremos da virtude da segunda.

O tempo justificará nossas modestas intenções, e teremos a nossos proprios olhos uma satisfação intima, um prazer indefinido se conseguirmos aquillo que de tão boa vontade nos propomos, apezar de todos os sacrifícios que faremos e que os dotados de boa fé, instinctivamente reconhecerão.

 Medindo 28cm x 19cm, A Messe foi diagramada em duas colunas separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração. Em todos os exemplares como epigrafe, um dos versos de Luís de Camões em Os Lusíadas: “Desta arte se esclarece o entendimento”,

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados os 24 exemplares dessa coleção. O último foi publicado no dia 15 de dezembro de 1860, apresentou uma despedida. “Ahi estão 24 numeros da Messe, que promettemos em nosso prospecto. Mercê de Deos, não ficámos em falta. Circunstancias, alheias a nossa vontade, demoraram sua conclusão. [...] É por isso que neste momento, de nos desobrigarmos em suas mãos, lhes dâmos esta satisfação”.

Cada exemplar de A Messe apresenta uma divisão, separando poesia e prosa. As primeiras páginas são dedicadas aos textos em prosa e a segunda à poesia. Seus colaboradores, na maioria das vezes não assinaram seus textos, inviabilizando, assim sua identificação. As autorias encontradas estão nos poemas.  A seguir, uma poesia de M. J. Gonçalves Junior publicada no número 7.

 

Artista e rei

Artista e rei são grandiosos vultos,

Que a fama eleva no alcaçar da gloria;

Artista e rei são conquistados nomes

Ao som dos brados de imortal victoria.

 

Nascem monarchas, mas não nasce o artista!

Herdam-se sceptros, mas não se herda o genio!

Perante as armas perde o rei s c’roa,

Brilha a do actor no triumphal proscenio!

 

Em aureo throno a majestade excelsa

Um povo rege com poder sob’rano;

Mas vem da guerra o retumbar medonho,

Calcar a fronte desse rei tyranno!

 

Cingida a fronte com virentes louros,

O artista impera e verdes palmas colhe;

Sem que da guerra o retumbar medonho,

A sua c’roa perennal desfolhe!

 

Que valem louros? De que servem palmas?

Ao rei coberto de ouropel lusente!?

Se após a queda das phalanges suas

Accerbas dôres de proscripto sente!?...

 

Não morre o artista, para sempre vive,

Seu nome ovante nos annaes da historia!

Não murcham plamas na ovação colhidas,

Não morrem nomes onde vive a gloria!!!

 

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