BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Mocidade: periodico litterario

por Maria Ione Caser da Costa
A Mocidade: periodico litterario foi lançado no Rio de Janeiro em 15 de janeiro de 1862, auge do Segundo Reinado. Trabalho gráfico da Typographia Popular, então localizada na rua Nova Ouvidor, n. 9.

Cada exemplar trazia, logo abaixo do título como epígrafe, uma frase que teria sido pronunciada por Machado de Assis: “A mocidade é a esperança da pátria”.

O editorial, sem indicação de autoria, apresenta um texto informando as dificuldades encontradas pelos editores e as esperanças advindas, no momento em que vislumbraram a publicação de um periódico em prol da inteligência e da intelectualidade dos letrados da época. Assim inicia:

 
A mocidade submette á consideração do publica [sic], o orgão de seus sentimentos.

Sedentos de gloria, e enthusiasmados pelo fogo juvenil, lançamo-nos ousados no vasto oceano da literatura, sugeitos ao perigo que surge em taes emprehensões, mas esperançosos de proseguir-mos nessa missão, confiados na benevola coadjuvação de nossos illustres assignantes.

Escolhemos o mez de Janeiro para o nascimento de nossa [sic] jornal. Oxalá seja uma feliz escolha para ser longo o seu viver.

Semelhantes ao peregrino que após a fadigosa jornada alcança o suspirado termo; assim nós caminhamos enthusiasmados, derrubando barreiras que se anteponham á nossa peregrinação, afim de aportar-mos á barra que demandamos. Se o caminho porque trilharmos, tornar-se espinhoso, em premio de tanta fadiga, esperamos colher alguns fructos dos arbustos singellos que com carinho plantamos. [...]

Seja pois a nossa divisa: - Animo e estudo, e os olhos fictos no campo da gloria. Se lá aportar-mos, empunharemos a bandeira da liberdade, e diremos aos vindouros: -  Estudo e animo!

No acervo da Biblioteca Nacional podem ser consultados apenas os três primeiros fascículos de A Mocidade. O primeiro, já mencionado acima e os números 2 e 3 publicados respectivamente em 31 de janeiro e 15 de fevereiro de 1862. Não se tem notícia da continuidade do título.

Com periodicidade quinzenal, cada fascículo foi composto por 8 páginas, que foram diagramadas em duas colunas, divididas por um fio simples. Não recebeu qualquer ilustração.

Sem apresentar corpo redacional publicou crônicas e notícias do que estava acontecendo nos meios literários ou nas artes de um modo geral. Alguns poemas e artigos foram assinados por A. de Almeida, C. A. de Salazar Sanches, Felix, José Maria de Almeida, R. Montenegro e Viriato.

A pesquisa realizada para este título não encontrou qualquer informação sobre os autores da publicação. Talvez não tenham tido sucesso na carreira literária. Mas, logo na abertura do número três os editores informam que o trabalho na confecção do periódico tem sido reconhecido, pois são honrados com “a mimosa produção de um dos mais distinctos literatos e poetas contemporâneos: Bruno Seabra”. E uma nota na página sete avisa “Aos assignantes da Mocidade, assim como a todos quantos dispensam alguma atenção aos esforços da inteligência, julgamos não ser desconhecido o nome do Sr. Bruno Seabra, jovem romancista e poeta, animador constante das vocações nascentes e um dos mais decididos constructores do edifício da literatura pátria”. E é um poema de Bruno Seabra (1837-1876) que escolhemos para ilustrar nossa página. O poema, sem título, está publicado na página quatro do terceiro exemplar.

 

Oh! dormir e sonhar ao teu regaço

Que a vida é sempre assim, - que não tem dôres!

Oh! vida de um viver – passado em sonhos

Aos sons dos hymnos das visões de amores!

 

É tão bom! vem, morena, se tu queres,

Desse prisma atravez de mil fulgores,

Vêr a vida correr em céos de rosas,

E em noites de amor – vêr céos de amores!

 

E tu não sentirás da vida o tédio,

E tu não sentirás do tédio as dôres,

Que a vida é goso – que inebria a alma

Quando ella vive a soluçar de amores!

 

Vem, minha amada, que eu te mostro a vida

Desse prisma atravez de mil fulgores,

Que ás vezes – quando durmo sobre espinhos

Me faz sonhar que durmo sobre flôres!

 

Parceiros