BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Palavra: semanario scientifico litterario e noticioso, orgam da mocidade estudiosa

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Palavra foi publicado pela primeira vez no dia 30 de outubro de 1911, no Rio de Janeiro, e recebeu o subtítulo de semanario scientifico litterario e noticioso, acompanhado também do complemento, orgam da mocidade estudiosa. A partir do número 2, publicado em 9 de novembro, aparece como subtítulo somente o complemento, orgam da mocidade estudiosa.

Teve como redator e secretário, Acilio B. de Araujo. O redator chefe foi Arthur Mascarenhas e a gerência esteve a cargo de João da Silveira Mello. A partir da edição número 4 os responsáveis passam a ser Lauro Salles como secretário, Arthur Mascarenhas como diretor e Moutinho Amado como gerente.

A redação provisória do periódico, foi na rua General Câmara, número 119. A partir do quarto exemplar, o endereço da redação passa a ser na rua dos Inválidos, 178.

A Palavra surgiu com o intuito de unir a classe acadêmica, dedicando-se “à mocidade das escolas, para a defesa dos seus direitos”. Pretendia unificar a classe estudantil, tornando-a coesa, a fim de congregar a instrução pública. Alunos do curso de direito buscavam o aprimoramento, se lançando na seara jornalística.

O semanário foi vendido ao preço de 300 réis o primeiro exemplar, e 200 réis os seguintes. Suas assinaturas valiam 3$000, 5$000 e 8$000, conforme a opção, trimestral, semestral ou anual, respectivamente.

Com título idêntico ao da publicação, o editorial, que normalmente precede os assuntos postados, aparece na página dois com o seguinte conteúdo:
Com a ousadia do argonauta que não teme o escolho do roteiro, com a impavidez do fanatico, abraçando a tunica nobre e pura dos grandes ideaes, calcando aos pés a intriga e a inveja, nós, um punhado de moços cheios de vida, cheios de esperanças, resolvemos, fundar um jornal que se dedique a perscrutar os escaninhos da humanidade, servindo ao mesmo tempo de élo, que mantenha em um só corpo, nós moços que frequentamos ás Escolas.

Sciencias, letrtras e arte é a inscripção do seu frontespicio, alvo e singelo, como soem ser as obras de enthusiasmo da mocidade.

E a Palavra é obra desse enthusiasmo. Faltava porém, a decoração de templo onde se pudesse cultuar com a solenmidade das religiões os ramos em que se divide a humanidade. Recorremos aos mestres, e os seus nomes aureolados pelo talento e pelo saber fulguram vivos nas columnatas do nosso edifício.

Sem credo político, sem filiação determinada a princípios philosophicos ou convicções scientificas, as suas columnas estão francamente abertas á collaboração da mocidade acadêmica.

Ahi vae pois a Palavra. Filha dilecta do connubio sublime das nossas mais risonhas esperanças, sangue do nosso sangue, alma da nossa alma, a sua vida será um prolongamento da nossa alegria, o seu engrandecimento será recompensa sufficiente ao nosso trabalho.

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados oito exemplares dos nove primeiros publicados. O número 7 não consta do acervo. O primeiro exemplar sai com seis páginas, diagramadas em quatro colunas, separadas por um fio simples. A partir do número 2, diminuiu para 4 o número de páginas, mantendo o número de colunas.

Publicação ilustrada com fotos e desenhos, em sua maioria, de educadores, professores ou pessoas envolvidas com o ensino e a educação. São encontrados também anúncios variados.

Alguns colaboradores que figuram nas páginas de A Palavra são Andrade Queiroz, A. L. Silveira da Motta, Barroso Feijó, Carlos Porto Carreiro (1865-1932), Casemiro Cunha (1880-1914), Lauro Salles, Mario Hora, Octavio Salles e Piero Zaglio.  A seguir, o soneto “Cabellos” de Octavio Salles

 

Cabellos

De espaduas em nudez corrias offegante,

E a cabelleira esparsa aos mólhos voando leva

Lembrava cousa mil na ondulação constante,

- Regatos de oiro e luz rolando sobre neve.

 

Correste para mim, e me chegaste breve,

E me envolveste após na teia coruscante

Do teu cabello flavo – aurora que descreve

Na concha de teu rosto um céo que ascendo arfante.

 

Quero-te sempre assim; pois que á minha’alma assomas

Num doce paroxismo, ardente e prolongado

Onde bebo a tua ancia e bebo os teus aromas.

 

Desses teus olhos quero os fluxos, bebel-os,

Tecendo um ninho morno, um leito perfumado

Nos doirados aneis dos teus loiros cabellos.

Parceiros