BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Penna: orgam litterario e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
Lançado na cidade de Santos, que pertence ao estado de São Paulo, em 28 de março de 1897, a publicação com o título A Penna: orgam litterario e noticioso teve como redator Durval Carvalho além de “collaboradores diversos”, como citado logo abaixo do título.

Publicação quinzenal, propriedade de uma associação, inicia com editorial inspirado no amor às letras e à literatura:
Estamos em pleno campo litterario.

Desfraldemos a nossa bandeira, cerremos as nossas fileiras, que o combate no campo litterario não tardará em ser annunciado pelo clarim.

Cultivar as lettras, provocar a manifestação de pequenas intelligencias para aperfeiçoal-as com o devido cultivo em proveito ao seu engrandecimento, cooperar no desenvolvimento progressivo das lettras, luctar pelo direito e pela verdade, tendo por arma nesse glorioso combate, este nosso modestissimo periodico, intitulado “A Penna” que tem por alicerce a moral e por sustentaculo a nossa força de vontade, força essa, superior a todas as nossas forças.

Pequenino e mui pequenino, embora, este nosso periodico jamais se recusará ás grandes luctas, somente, no glorioso campo litterario e relligioso; e, guiado por uma Estrella que fulgura no seu bello horisonte com tão forte brilho marchará sempre, sobranceiramente crente de tornar-se para o futuro, quer pelo lado material, quer pelo lado moral: no primeiro caso, pela nossa força de vontade, no segundo, pela força do producto do nosso estudo, producto que felizmente ainda não se adquire com um punhado de cedulas do governo.

Desfraldada a nossa bandeira, cerradas as nossas fileiras, annunciado já o combate litterario, sondadas as nossas posições, aguardemos o movimento de quem nos tendo sondado pretende nos combatter.

Cultivemos as lettras, não descrentes como Sapho que levou ás chammas a biblioteca d’Alexandria, sim como Omar, o corajoso luctador das lettras.

A Penna foi impressa pelas máquinas da Typographia Brazil, que estava situada na rua Braz Cubas, n. 3, em Santos, litoral paulista. A redação do periódico funcionava na rua General Camara, n. 6.

Na Biblioteca Nacional encontram-se apenas dois exemplares. O primeiro, informado acima e o número 7, que foi publicado em 21 de agosto de 1897 e impresso pela Typographia d’O Piratininga.

Nesse sétimo fascículo aparecem os nomes das redatoras Julieta Moraes, Annita Soares, Alice Lima e Ignez de Sousa. E também dos redatores: Leonardo Porto, D. Correia, Decio Mello e M.P. de Mello, bem como do redator-secretário J. C. Tavira. Assinam como colaboradores, Durval Nestor Carvalho e P. O. de Albuquerque Lima.

O sétimo exemplar se apresenta como nova fase, mencionando as dificuldades que os editores têm experimentado para manter a publicação.

O soneto a seguir está publicado no primeiro exemplar, é de autoria de alguém que assina simplesmente como H.

 

A Mão

Alva, ideial, macia e acetinada

A sua mão gentil era um brinquedo,

Deixando-a descahir, de leve e a medo,

Por sobre a trança escura perfumada.

 

As vezes, sobre o collo reclinada,

Sustinha, sem saber, por entre os dedos,

Nem eu sei explicar este segredo,

A minh’alma captiva e enamorada.

 

Um dia, a vi pendida sobre o leito,

Enleiada de amor nos fios bellos

Da madeixa subtil de seus cabellos.

 

Cingio-a com fervor sobre seu peito...

Assim pudesse eu nos meus dezejos.

Cingil-a com um collar feito de beijos.

 

Parceiros