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A Platéa: periodico independente ilustrado

por Maria Ione Caser da Costa
A Platéa: periodico independente ilustrado foi um semanário lançado no Rio de Janeiro no dia 15 de outubro de 1915.

A capa colorida, trouxe impresso além do título e subtítulo, uma relação de assuntos que seriam arrolados na publicação: politica, sciencias, litteratura, sports, musica, caricatura, poesia. Ao centro um retrato emoldurado do perfil de jovem com uma longa trança. Margeando os lados da capa, adornos de folhas e flores nas cores vermelho e preto. As páginas subsequentes estão várias propagandas impressas também em vermelho e preto.

A administração e redação do periódico funcionaram no 6º andar da avenida Rio Branco, nº 110.

Publicação semanal, o exemplar avulso de A Platéa foi vendido por 300 réis e as assinaturas para o Brasil valiam 13$000 por 50 exemplares ou 25$000 por 100 exemplares. O valor cobrado para o exterior era de 18$000 por 50 exemplares.

O periódico não recebeu numeração, apenas a data, e apresentou um editorial com o título “O que promete A PLATÉA”. Sem indicação de autoria, eis o texto:

 
A PLATÉA, que o leitor tem nas mãos, é um periodico illustrado, independente, de assumptos geraes.

Seu programma que deixaremos aqui em resumo traçado, será de certo, mais correctamente executado do que quanta plataforma presidencial por ahi existente e quanta promessa feita por esses deputados que impossibilitam o paiz de progredir...

Não obstante todos os assumptos já se acharem grandemente explorados, A PLATÉA surge para aventurar um que ainda não houve aliás quem delle tratasse com interesse: a salvação do paiz!

A PLATÉA, será ainda um periodico de estylo e promette não se envolver absolutamente com assumptos comesinhos, assegurando porem aos seus leitores que uma leitura amena e variada aqui será encontrada, pois tratará de politica, litteratura, artes, humorismo, sciencia, theatro, commercio, industria, musica, sport e actualidades.

Será uma revista moderna e em suas columnas trará sempre assumptos palpitantes, photographias sensacionaes, afim de que o publico nacional possua um jornal creado para o seu temperamento e finalmente que se dedique a defender este paiz que agonisa!

Infelizmente não sabemos se a publicação conseguiu alcançar seu intento. Encontra-se preservado no acervo da Biblioteca Nacional somente este exemplar. Uma nota na parte inferior da primeira página informou aos leitores que “devido os naturaes atropelos em serviços de organização de um jornal” os diretores não conseguiram publicar “trabalhos interessantes”, mas pretendiam, no segundo número, publicar com “a feição ampla e completa”.

A leitura do editorial aponta para um sentimento de patriotismo e tentativa de salvar o Brasil. Um dos artigos publicados, “Paiz que agoniza! Porque falece o Brazil!”, assinado por Romeu de Medeiros, mantendo as devidas proporções de tempo, poderia ter sido escrito hoje, mais de cem anos depois.

O exemplar de A Platéa foi formado com 20 páginas diagramadas em quatro colunas. Todas com ilustrações (fotos, desenhos ou charges) em preto e branco.

Publicou contos, poemas, notícias do mundo das artes e exposições além de textos sobre a primeira guerra mundial. A Platéa não apresenta os nomes dos responsáveis pela publicação. Alguns textos estão assinados por são Amadeu Amaral (1875-1929), Carlos Rubens, João Lima e Rafael de Zayas Enriquez (1848-1932).

O soneto a seguir é de Carlos Rubens, com o título “De outros tempos”. Ocupa quase toda a página pois vem acompanhado de um singelo desenho de um casal de idosos, que mesmo segurando suas bengalas, seguem colhendo flores e/ou folhagens.

 

De outros tempos

Velhinhos. Ambos tristes e chorando

A idade que se foi, que era de rosa.

Elle – velhas caricias relembrando.

E ella – a relembrar sonhos, saudosa.

 

Vão á luz do crepúsculo rezando

A mesma prece, linda e carinhosa.

Como são velhos andam evocando

Coisas de amor, á tarde luminosa...

 

E vão os dois ao lusco-fusco, rindo

Colhendo as flores que se vão abrindo

E escutando cantigas de [ilegível]

 

Levam no coração á soledade

Dessa velhice candida, a saudade

De uma quadra feliz que não vem mais!

 

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