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A Platéa

por Maria Ione Caser da Costa
A Platéa foi publicada pela primeira vez, no dia 9 de abril de 1907, em Manaus, capital do estado do Amazonas, localizado na região Norte do Brasil.

Acima do título, no canto superior esquerdo das capas de todos os exemplares, aparece a informação “anno único”. Seus editores optaram por este artifício possivelmente para informar que a publicação não teria continuidade nos anos subsequentes. A finalidade d’A Platéa era informar aos frequentadores do Teatro Amazonas e aos seus leitores, as notícias que envolviam a temporada de 1907 da companhia lírica do empresário e musicista nascido em Campinas, maestro Joaquim Franco (1858?-1927), desta vez com um  grupo de artistas franceses.  Eis o editorial:

 
Um, dois, tres... e aqui está, minhas senhoras e meus senhores, o primeiro numero d’A Platéa! Como tudo isto é theatro, não admirem que o nosso jornalzinho irrompa dum alçapão assim como se fosse o Mephistopheles do Fausto. Mas apparece sem pretenções, e não vem metter medo a ninguém, como o papão da revista. E o leitor verá...

É praxe fazer programma. Pois então vamos a isto, mesmo porque todos os programmas, politicos ou jornalisticos, commerciaes ou scientificos, são feitos precisamente para não serem cumpridos.

O intuito desta gazetinha é trazer o publico frequentador do theatro a par do nosso movimento artístico... enquanto estiver em Manáos a actual companhia lyrica. [...]

Ora, se isto não é um programma, então não sabemos o que fazer! O leitor, perú emplumado de quatorze annos ou perú rebelde de setenta e dois, contente-se com A Platéa que, numero a numero, vae ser aperfeiçoada, e não se abhorreça com o tom leve das nossas palavras, porque nós somos ainda um pequerrucho impertinente e travesso, e acceite o cumprimento que de casaca e luvas claras, monoculo entalado, lhe dirigimos com um leve sorriso:

- Bom soir, Messieurs, Dames!

O número avulso d’A Platéa foi vendido por 200 réis e poderia ser adquirido no Barbeiro Elegante, no Centro de Publicações, na Agencia Freitas ou na bilheteria do Theatro Amazonas, nas noites de espetáculo. Toda correspondência deveria ser enviada para a Agencia Theatral Barbeiro Elegante, situada na rua Municipal, nº 7.

A Platéa se propunha a anunciar todas as apresentações que aconteceriam no Teatro Amazonas além de nomear os frequentadores que prestigiavam os eventos.

A Platéa circulou até o dia 1º de junho de 1907, com o número 14. A coleção está preservada na íntegra no acervo da Biblioteca Nacional e pode ser consultada pela Hemeroteca Digital.

No último exemplar, o primeiro artigo inicia com uma pergunta: “os senhores e as senhoras já viram a gente morrer por não ter mais nada o que fazer?” E segue com a resposta: “Pois é o nosso caso: A PLATÉA desaparece hoje porque a sua tarefa está cumprida.”

Os textos publicados em A Platéa, na maioria das vezes não estão identificadas as autorias. Quando assinados, é com pseudônimo, tais como: Archivista, Binoculino, Firmo de Sara, Joaquim Norberto, Luiz Octaviano ou Nemo.

A seguir dois poemas publicados em seção denominada “Duas Cartas”. O primeiro com o título “Declaração” é assinado com o pseudônimo de Oscarino Cravo e o segundo, a “Resposta”, está assinado com o pseudônimo de Rosa Altiva.

 

Declaração

Rosa que o bello resumes

Das flôres as mais formosas

E que excedes em perfumes

Do mundo todas as rosas!

 

Estou louco, tem certeza,

Louco, perdido, te juro,

Louco por tua bellesa,

Louco de amor o mais puro.

 

Prolongar esta loucura

Fôra, Rosa, crueldade!

Dá-me a suprema ventura

Do teu amor. Piedade!

 

Resposta

Cravo que o feio concentras

Que dos feios és caveira;

Não te canses, fôra asneira,

Pois no meu peito não entras.

 

Pensaste que eu sendo rosa

Por força amaria um cravo.

Muito bem pensado! Bravo!

Como tu, sei de uma groza.

 

Em conclusão: neste assumpto

Se as tuas rimas perdeste

Culpa não tenho; esqueceste

Seres cravo de defuncto.

 

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