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A Primavera: litterario, humoristico e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
Primavera de 1911. Na cidade de Santa Maria, que pertence ao estado do Rio Grande do Sul, foi lançado um periódico com o título de A Primavera: litterario, humoristico e noticioso. Veio a público no dia 8 de outubro de 1911. Seus diretores foram os senhores Marques Guimaraes e Helvecio Lisboa, que contavam com diversos colaboradores.

O periódico A Primavera foi impresso nas oficinas do “Gaspar Martins”, que estava situada na rua do Commércio, nº 104, local para onde deveria ser endereçada toda correspondência.

O número avulso da publicação foi vendido por 100rs, as assinaturas mensais para a cidade valiam 1$000. Para fora da cidade os valores eram de 3$000 e 5$000 para as assinaturas trimestrais e semestrais respectivamente.

A Biblioteca Nacional só possui um fascículo de A Primavera, o indicado acima. Não foram encontrados outros fascículos nas pesquisas realizadas na web.

O exemplar em questão possui quatro páginas, cada uma diagramada em três colunas separadas por um fio simples, não apresenta ilustração.

Um longo editorial, que trouxe como título o mesmo da revista, assim se pronunciou aos seus leitores:
Por uma propicia occasionalidade, dessas que geram certos acontecimentos que enchem uma porção mais ou menos perduravel na actividade do espirito em elaboração constante d’entro do grande scenario da existência, surge ora no seio da Imprensa a nossa pequena gazeta, para encetar a sua peregrinação a que não acompanham quaesquer sombras geradas em espiritos malignos ou por visos pretenciosos.

Titubeante ainda qual voejar primevo d’ave ou crysalida recém-nata irisada ao primeiro jacto de luz solar; botão de flor recentemente desabotoado e bafejado pela matutina aura balsamica e fresca, a nossa Primavera, justamente nascida no mez e sob o azul e o oiro da sua homonyma que paira agora sobre o nosso céo, d’onde distende suas azas candorosas e protege a terra, prodigalizando-lhe as suas caricias d’amor e as suas bonanças ethereas, - vem como uma boa e modesta mensageira trazer algo infinitamente pequeno, é certo, quiçá, porém, útil ou aproveitável áquelle que lhe dispensar a égide em seu tecto diáphano.

Segue o editorial informando que o pequeno jornal é um “artista modesto”, comparado aos grandes que a imprensa produz. Com amor e sem grandes pretensões pretende colaborar com o progresso para a comunhão de todos. Pretendem seguir com leis de conduta justa, perseverando na moral e na justiça. Homenageiam vários profissionais, não só àquelas voltadas para as letras e artes, como também aos que não utilizam a palavra escrita como material de trabalho, afirmando que todos são “infatigáveis operários das grandes maravilhas do século”.

Colaboraram em A Primavera Fernando Galceia, Notivago, M. Caldas, João H. Domingues, Lourival d’Oliva, N. Guimarães e Simeão d’Arruda. A seguir o soneto de Lourival d’Oliva publicado na página quatro.

 

Inteiramente

Luares, rosas, fulgidas chimeras,

Iriantes phantasias, ledos cantos,

Redolentes perfumes, primaveras,

E, alguma vez, suaves, doces prantos.

 

Se irisam, qual nas arvores as heras,

Nas minhas rimas, - prismas sacro santos, -

Que vão, em pias supplicas, sinceras,

Pedir auxilio aos teus reaes encantos.

 

De sorte que nem sou eu mesmo o artista,

Que inspiração não tenho e o estylo terso,

Para gabar-me disso, falsamente.

 

E, para que a razão em mim assista,

As flores que te jogo no meu verso

Te pertencem, a ti, unicamente!

 

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