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A Quinzena

por Maria Ione Caser da Costa
A Quinzena foi um periódico publicado no Rio de Janeiro, possivelmente em outubro de 1908. A dúvida se deve pela ausência do exemplar de lançamento. O único fascículo preservado no acervo da Biblioteca Nacional é o ano 1, nº 3, de 15 de novembro de 1908.

A publicação foi impressa pelas oficinas da Typografia Luiz Miotto, que estava localizada na rua do Hospicio, nº 180. O diretor responsável pela publicação foi Raphael Hollanda, e Mauro Carmo foi o secretário. A redação estava localizada na avenida Central, 145, escritório nº 4. Funcionava, portanto na recém-inaugurada avenida Central, hoje avenida Rio Branco.

O exemplar avulso foi vendido por 100rs para os moradores da então capital do país. Os interessados em adquirir A Quinzena nos outros estados pagariam 200rs. O expediente apresentou também valores para assinaturas: a anual valia 2$000 na capital, 3$000 nos outros estados e 5$000 se os interessados residissem no exterior.

A Quinzena aceitava anúncios, que seriam pagos após serem publicados, “mediante recibo firmado pelo secretario”.

O exemplar em questão possui 12 páginas, quase todas com alguma ilustração, e diagramadas em duas colunas. Inicia com uma crônica, sem identificação de autoria, que coloca o Rio de Janeiro como lugar solitário e insípido, principalmente após o término da “Exposição”, numa referência a Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da Abertura dos Portos, ocorrida entre 11 de agosto e 15 de novembro de 1908. Tema também de um poema assinado por Mestre Cook, diagramado após a crônica.

Na sequência, um texto que remete ao sentimento de luto que envolve principalmente os amantes das letras e das artes, pelo falecimento de dois grandes ícones brasileiros: Machado de Assis e Arthur Azevedo.

Além dos textos descritos acima, A Quinzena publicou também um artigo sobre teatro, contos, dentre vários outros assuntos. Colaboraram em A Quinzena, Barão de Paranapiacaba (João Cardoso de Meneses e Sousa, 1827-1915), Gastão Diniz, Ivo Braga, Joanau Bohemio, Leonor V. Braga, Mestre Cook, Moreira de Vasconcellos e Papagaio.  A seguir o soneto com o título “A nuvem e o monte”, de Gastão Diniz.

 

A nuvem e o monte

Alto, no ceu de anil, o sol resplandecia,

De ardente luz vestindo um monte verdejante

Que, sobranceiro e altivo, além do val se erguia,

Como um flóreo colosso impavido e gigante.

 

Nisto, assoma no espaço uma nuvem sombria,

Enorme, espessa, escura, á noite semelhante,

Nas dobras do seu manto, em pleno meio dia,

Por inteiro ocultando o claro sol brilhante.

 

E a nuvem d’sse ao monte envolto em negra sobra:

- “Perdeste a verde côr da tua verde alfombra...

Roubei-te o louro Sol... Ficaste da alma viuva”!

 

E o monte respondeu: “do Sol á viva chamma

Dissipa-se o teu ser que reverdece a grama”...

... E a nuvem se desfez em lagrimas de chuva.

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