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A Sensitiva: jornal litterario e recreativo consagrado ao bello sexo

por Maria Ione Caser da Costa
Mais um periódico publicado no estado de São Paulo, nos oitocentos, voltado para as mulheres. A Sensitiva: jornal litterario e recreativo consagrado ao bello sexo foi lançado na cidade de Bananal, localizada no Vale do Paraíba, leste do estado de São Paulo. Semente plantada com a expectativa de ver crescer um movimento que hoje em dia é conhecido como a luta pela igualdade de gênero.

Na Biblioteca Nacional existe somente o terceiro fascículo que foi publicado no dia 18 de junho de 1881. Não foi encontrado outro exemplar desse título nas pesquisas realizadas na web.

Publicado aos sábados, o hebdomadário tinha a colaboração de várias mulheres, como aparece grafado no cabeçalho, sendo J. C. Cabral & M. Barbosa, os editores e proprietários.

Editado pela Typographia do Echo Bananalense, foi composto com quatro páginas diagramadas em duas colunas, separadas por um fio simples. Não recebeu ilustração.

 
A emancipação da mulher alem de ser um direito natural é um direito Divino.

Deus ao dar a companheira que lhe pedio Adão ensinou aquelles dous entes a amarem-se, não dando mais direito a um do que a outro.

A força do direito está pois perfeitamente comparada entre homem e mulher sem profanação do que ha mais justo e santo.

A defeza dos direitos sagrados da mulher está no modo porque ella desempenha a sua missão neste mundo terraqueo de miseria e profanação.

A mulher na defesa de seus direitos é mais forte do que o homem, não transige.

Ha tres seculos Agostine levantou o primeiro brado em favor do nosso sexo que até ahi se via opprimido pela força viril do homem, desde então até hoje muitas tentativas se tem feito no novo e velho mundo para que gozemos dos direitos de que atrozmente nos espoliaram. [*]

Um texto totalmente contemporâneo. Poderíamos dizer que foi escrito nos dias atuais, não fosse a grafia antiga. Infelizmente nesse quesito não avançamos muito. Convido a lerem a íntegra do artigo na Hemeroteca Digital, que é assinado apenas com a inicial E.

Na seção intitulada 'Album litterario', está a continuação da crônica 'A Noiva', que também não é finalizada neste terceiro número, mas infelizmente, como dito anteriormente, outros exemplares não constam do acervo da BN.

Além do excerto do artigo mencionado acima, A Sensitiva apresenta também folhetim, notícias dos acontecimentos recentes, charadas e alguns poemas, além de uma crônica de autoria de Alice de Azevedo. Dos poemas, selecionamos o que recebeu o título de 'És bella', que não tem autoria. Logo abaixo do título do poema está a epígrafe com a assinatura de F. Castilho [Antonio Feliciano de Castilho? (1800-1875)],  "Pour plaire, il faut avoir upuen ed vos appas", que traduzimos: “Para agradar, você deve ter aumentado seus encantos”.

 

És bella

                  A alguem

Mulher, é bella qual mimosa reza,

Que exala aromas no jardim da vida.

Qual borboleta que em florido prado

Olvida tudo pela flor querida.

 

Teu casto rosto e os teus lindos olhos

Tem mais beleza e tem mais encanto,

Que aquella virgem que raphael sonhou,

Que os poetas todos admiram tanto...

 

Teu debil corpo, tuas negras tranças,

Teu ar sereno e tua côrmimosa.

Tem mais belleza, mais divino encanto,

Que a mesma Venus que se diz formoza.

 

Ha no teu rosto languidez sublime...

Ha no teu todo tal magia e encanto,

Que pedem d'alma adoração constante,

que pedem á lyra sublimado canto!...

 

[*] http://memoria.bn.br/DocReader/823775/1

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