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A Vida litteraria

por Maria Ione Caser da Costa
A Vida literária foi lançada em Curitiba, no dia 20 de julho de 1887 tendo como redator e responsável Jayme Ballão (1869-1930). A publicação tinha como foco a promoção das letras, e a preocupação com as questões culturais.

O primeiro exemplar foi impresso pelas máquinas da Typographia d’A Republica. A partir do segundo número a responsabilidade da impressão fica com a Typographia Luiz Coelho.

O expediente inicia fazendo a apresentação de alguns responsáveis pela publicação: “Franqueamos as nossas columnas aos Srs Domingos Nascimento, Emiliano Pernetta, Leoncio Correia, Emilio de Menezes, Nestor Victor, Estacio Correia e Sebastião Paraná.” A segunda nota aponta para a decisão de ser ou não assinante da publicação: “Fazemos uma distribuição geral do nosso jornal. As pessoas que não o devolverem são consideradas assignantes”.

Nas páginas de A Vida litteraria estão também as colaborações de Rocha Pombo, Luiz França, Álvaro Ramos, Leônidas de Barros, Belém Scherer, dentre outros. Todos eram jovens que se dedicavam aos experimentos das letras e das artes e foi na publicação que a iniciaram sua carreira literária.

A Vida Literária, não foi diagramada de maneira simples. Com quatro páginas cada exemplar, seus artigos foram diagramados em três colunas, sem qualquer tipo de ornamento ou imagem.

Publicou folhetins, textos sobre história, literatura, atualidades, variedades envolvendo os escritores paranaenses que se dedicavam às letras e à literatura. Publicou também notícias internacionais informando aos leitores e principalmente aos estrangeiros ou aos inúmeros descendentes que ali viviam, fatos que aconteciam em outros países. Alguns fascículos são dedicados a homenagear escritores famosos, como por exemplo o número 11, publicado em 18 de outubro de 1887, que presta homenagem a Casemiro de Abreu (1839-1860), exatos 27 anos após a morte do poeta.

O editorial assim se pronunciou:
Um mendigo com estrela na mão.

Isso é grande!

E todos o receberão, estamos certos, com beijos: elle é pobre – más gosta de rasgar a amplidão com o seu olhar; veste trapos alvíssimos e doirados; gosta do sol; e, emquanto por ahi a preguiça, a indifferença, vae devorando mil vidas, elle diz sorrindo: vivamos!

O homem tinha muito ódio decerto. Na luta em que essas pequeninas noites, formadas das paixões mesquinhas, se debatiam – um combate de trévas! – elle sentia raivas monstruosas, raivas leoninas capazes de fazer nada! [...]

Precisamos do infinito.

Perguntae a estrella porque não desce, ella vos responderá: estes raios querem espaço.

A alma que vôe.

Deus é necessário.

E quando nos perguntarem qual o nosso destino – batamos no peito e apontemos o infinito.

E é assim que offerecemo-vos hoje “A Vida Litteraria”.

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados 12 números dessa coleção. Do primeiro ao décimo terceiro. Não consta no acervo o número 12. Destacamos a seguir um soneto de Jayme Ballão, publicado no número 3, intitulado “Amor”.

 

Amor

Ah a vida é mais vida! Então, senhora,

O amor – o amor! – repetirei ainda,

Enche-nos de infinita e doce aurora

Frescamente serena, ó Deus, infinda!

 

E cimo tudo é bom então Se irrora

A flôr de chuva, e estremecendo linda

Ri-se. E no entanto se essa rola chora,

Chora porque não sabe rir-se, Arminda.

 

As aves pelo ar espanejando

As azas, cantam rindo, namoradas,

Umas canções que vou-lhes ensinando,

 

Ó flôr, ó moça, ó almas orvalhadas

Que juntinhas viveis cantarolando,

Exhultae-vos de amor! Soltae risadas!

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