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A Vida Moderna: magazine illustrada

por Maria Ione Caser da Costa
Foi no início dos anos de 1920, exatamente em 1º de janeiro de 1922, no estado da Bahia, que foi realizado o lançamento de uma publicação que recebeu o título de A Vida moderna.

Seu diretor era Pompilio Bittencourt Filho e o redator secretário, Francisco Mattos. A redação da revista estava localizada na rua Portas do Carmo, nº 19, e a Typographia Bahiana foi a responsável por sua confecção.

O número avulso de A Vida moderna foi vendido por $500, e o valor cobrado pelos números atrasados passava para $700. Um diferencial na seleção das matérias publicadas é que seus editores não aceitavam colaboração. Seriam publicadas apenas as matérias solicitadas pela redação.

Apenas um exemplar pode ser encontrado na Biblioteca Nacional. As pesquisas não apontaram para a existência de qualquer outro fascículo.

Diferindo em muito das publicações da época, A Vida moderna comportou 28 páginas, e, em todas as páginas podem ser encontradas ilustrações. São fotos, desenhos, cercaduras ou vinhetas.

A capa nas cores da bandeira do estado da Bahia, dão um bonito visual. Um círculo ao centro, e em seu interior, grafado com logotipos na cor vermelha está escrito “Salve 1922”. Do círculo saem como se fossem raios de sol, tiras nas cores azul e branco lembrando os desenhos formados por um caleidoscópio.

Logo na primeira página um artigo de Viriato Corrêa intitulado “Laços de fita”, seguido de outro anônimo, com o título “A Luva”. A página seguinte é a folha de rosto, local onde são apresentados dados sobre a publicação. O título está em letras serifadas e ladeadas pelo desenho de uma mulher de longos cabelos esvoaçantes. Seguido ao cabeçalho aparece o editorial, que não apresenta autoria, com o título “Abertura”.
A vida moderna, no seu vertiginoso volver de homens e de cousas, na sua incessante movimentação, no diuturno vibrar de sua musica prodigiosa, accende em nós este desejo incontido de irmos com ella vibrando na sensação turbilhonante de sua marcha, na emoção de seus estados complexos, na paixão irresistível de suas formas sempre novas.

Ansiamos ouvir-lhe a voz mellisona, gozar da maravilha da paisagem varia, multicor, que ella desenrola aos olhos de nosso espirito e ainda mais! deixar na pagina, no conto, na chronica, na impressão, no verso uma porção dessa cor, uma repercussão dessa musica, uma vibração dessa infinita multiplicidade de aspectos que nascem giram e passam. [...]

Aqui está a Vida Moderna, que ora surge no meio bahiano, uma pagina a mais para o registro de sua vida artística de hoje, vida bafejada de um sopro largo de crescimento, de progresso e de cultura, que é a sua gloriosa tradição – rio luminoso em cujas aguas bebemos as energias para as lutas do presente e a esperança immarcessivel da sua grandeza futura.

Colaboraram nas páginas de A Vida moderna Anizio Alves, Arthur de Salles (1879-1952), Coelho Neto (1864-1934), Graça Aranha (1868-1931), Ildefonso Falcão, José Freire Gouvêa, Leopoldo Machado, Roberto Correia e Waldemar Rocha. A seguir um poema de Ildefonso Falcão (1892-1958), que além de poeta foi jornalista e diplomata.

 

Natal

Natal! Os sinos cantam alto...

Nasceu Nosso Senhor Jesus!

Na noite bella, de ar espalto,

como uma benção, desce a luz.

 

Hoje, homem feito, quando penso

na vida túrbida e cruel,

sem o sentir, vejo o meu lenço

molhado em lagrimas de fel.

 

E que a saudade erma e sombria,

ensina a gente a recordar

sob a tristeza, uma alegria,

num sonho angelico de luar.

 

O meu presépio... A arvore accesa,

e luzes de ouro a reflorir...

Papai Noel... A singeleza

de olhar as almas a sorrir...

 

Ai se eu pudesse, nesta idade,

ver nos meus grossos sapatões

a minha antiga ingenuidade,

as minhas velhas illusões!

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