BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Voz da mocidade: periódico litterario, doutrinário e moral

por Maria Ione Caser da Costa
A Voz da mocidade: periódico litterario, doutrinário e moral teve seu lançamento no dia 7 de setembro de 1850 na antiga Vila de Cachoeira, hoje Cachoeira, considerada uma das mais importantes cidades do estado da Bahia. Cidade que preservou sua identidade histórica, sendo conhecida como “Cidade Monumento Nacional.

A publicação, que era dirigida para juventude, teve como redatores os jovens Cincinnato Pinto da Silva (1835-1912), com apenas 15 anos, Henrique Ribeiro Pereira Guimarães e Francisco José da Silva e Almeida. Foi impressa pela Typographia Constitucional, que estava situada no Largo dos Amores, n. 4. O impressor responsável foi Joaquim Tavares da Gama.

A Voz da mocidade era publicada aos domingos e foi vendida por 80 rs, tendo a assinatura mensal o valor de 240 rs, que deveriam ser pagos adiantados. Trazia a seguinte epígrafe: “Sou pequenina e mesmo assim cumpro o que devo, mostro o meo fim”.
Sob o título “Prospecto”, eis as palavras do editorial:

Hoje que he o dia 7 de Septembro, anniversario da Independencia, e Liberdade Brasileira, sahe o primeiro numero do pequeno jornal, que tem por titulo – A Voz da mocidade; e, como fraco órgão da Sociedade Escholastica Doutrinaria Cachoeirense, convem diser seos fins, afim de seos leitores poderem avaliar de suas boas intenções; he pois o fim deste pequeno jornal publicar os discursos dos sócios da mesma sociedade, e tambem alguns artigos, e versos, escriptos pelos sócios, os quaes serão lidos por nossos leitores, não como escriptos de pessoas de instrucção, mas como de estudantes, que em tenra idade, e cursando as primeiras aulas, só por amor de adquirirem alguma instrucção, se reunirão, e determinarão publicar este pequeno jornal, para o qual somente escreverão os sócios.
Os nossos leitores nos queirão relevar estas mal traçadas linhas, e dar-nos a desculpa merecida.


Nota-se que o objetivo do periódico era publicar os discursos dos membros da Sociedade Escholastica Doutrinaria Cachoeirense. O grupo de estudantes que formava a Sociedade desejava apresentar aos leitores de A Voz da mocidade, seus trabalhos nas áreas literária e filosófica, entretanto não se furtava em emitir sua opinião sobre política e os políticos do império.

A Sociedade Escholastica Doutrinaria Cachoeirense, instalada em 15 de agosto de 1850, foi a responsável pela edição de A Voz da mocidade, onde somente os que se associavam podiam publicar seus poemas ou artigos.

A Voz da mocidade não apresentou qualquer propaganda em suas páginas. De formato pequeno, os exemplares variavam quanto ao número de páginas: ora circulavam com quatro, seis ou até mesmo oito páginas. Cada página foi diagramada com apenas uma coluna. A partir do número 11, publicado em 17 de novembro, passa a ter duas colunas, iniciando também a publicação dos romances em capítulos, isto é, com a continuação no número seguinte.

A numeração das páginas era sequencial. Muito possivelmente uma sugestão para futura encadernação do volume.

Nas páginas de A Voz da mocidade podem ser encontradas várias glosas, que são composições poéticas constituídas por uma estrofe inicial que apresenta um tema, chamado de mote. Poema em formato de cantiga que geralmente com temas amorosos. Dentre as várias glosas encontradas, selecionamos uma publicada no número 9 com o título “Colcheias”, sem indicação de autoria.

Colcheias
Se os Céos nos unir Marilia
Serei sempre venturoso.

Glosa.

Como vão a revelia
Os meos votos d’amisade,
So terei felicidade
Se os Céos nos unir Marilia:
Oh! Que praser, qu’alegria,
Que jubilo tão portentoso,
Então eu direi airozo,
Com meiguices, e desdém,
Emquanto te gosar, meo bem
Serei sempre venturoso.

Parceiros